31/03/2018

MANUEL FALCÃO

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A esquina do Rio

Caso ainda não tenham notado, anda meio mundo aflito com o Regulamento Geral de Protecção de Dados, que é suposto entrar em vigor a 25 de Maio próximo.

Back to basics
"Temos a arte para evitar morrermos da verdade."
Nietzsche

Sobre a igualdade
Caso ainda não tenham notado, anda meio mundo aflito com o Regulamento Geral de Protecção de Dados, que é suposto entrar em vigor a 25 de Maio próximo. 

Abundam os cursos de formação e os pareceres de gabinetes de advogados sobre o assunto, todos a aproveitar o momento e a escassez de tempo, tal como os limpadores de mato aproveitaram as superiores orientações de cortar a eito e depressa. O mais engraçado de tudo é que, na semana passada, o Conselho de Ministros aprovou que a protecção de dados vem para todos, mas não para as administrações públicas - e isto pelo menos durante os três próximos anos, prazo que pode até ser aumentado. 

De facto, o Governo aprovou no Conselho de Ministros da semana passada uma proposta de lei que prevê a isenção de coimas para o Estado em caso de infracção. A ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, sempre atenta à inovação, estimou os custos administrativos com o novo regulamento na ordem de "centenas de milhões" de euros. O argumento utilizado para justificar a excepção prende-se com o critério de utilização dos dados - uma falsidade, já que se sabe que o Estado usa e abusa do cruzamento de dados de cidadãos entre organismos, muitas vezes com duvidosa legitimidade para tal. Era suposto existir um período de transição para as empresas nacionais de 18 meses, que o Estado convenientemente eliminou para poder cobrar mais umas coimas, sublinhando que as PME portuguesas têm de cumprir o referido regulamento, mesmo que o Estado o não faça. O Sol não nasce igual para todos, é o que é...

Semanada
• O mesmo Governo que prometeu baixar impostos conseguiu que a carga fiscal atingisse em 2017 o valor mais alto dos últimos 22 anos 
• na realidade, em 2017, a carga fiscal aumentou para 37% do Produto Interno Bruto, face ao peso de 36,6% que tinha na economia em 2016 
• o Instituto Nacional de Estatística destaca os aumentos da receita dos impostos sobre a produção e importação (6,1%), nomeadamente o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), das contribuições sociais (5,1%) e dos impostos sobre o rendimento e património (3,3%) 
• as ajudas do Estado à banca nesta década já custaram 17,1 mil milhões de euros aos contribuintes, quase 9% do PIB 
• no ano passado, os casamentos realizados em Portugal renderam quatro milhões de euros em taxas diversas cobradas pelo Estado 
• ao analisar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) detectou "cerca de 95 milhões de euros cobrados indevidamente" nos últimos cinco anos; segundo o presidente do conselho de reitores das universidades, Portugal está ao nível da Hungria e da Roménia no investimento no ensino superior 
• António Costa fez uma acção de propaganda a limpar matas • Rui Rio fez uma acção de propaganda a visitar quartéis de bombeiros 
• em Portugal, uma em cada cinco mulheres consome produtos dietéticos.

Dixit
"A ideia é sempre juntar pessoas."
Manuel Reis

Folhear
A edição de Abril da revista Monocle dá destaque a Maria de Lourdes Modesto, que apresenta - e bem - como a mais importante autora portuguesa sobre temas de gastronomia. Trish Lorenz, a correspondente da revista em Portugal, traça um perfil de Maria de Lourdes Modesto e explica como ao longo da sua vida ela contribuiu para elevar o conhecimento e a compreensão da cozinha tradicional portuguesa. 

Ao mesmo tempo elucida os leitores sobre algumas das particularidades da comida portuguesa. A conversa passou-se no restaurante Monte Mar, do Guincho, com elogios aos seus filetes de pescada com arroz de berbigão. Na conversa com Trish Lorenz, Maria de Lourdes Modesto elogia dois críticos gastronómicos portugueses: o já falecido David Lopes Ramos e Duarte Calvão, do blogue Mesa Marcada. 

No roteiro da última página da Monocle, o Porto surge como uma das cidades em destaque com referências à guesthouse My Home In Porto, à Casa de Chá da Boa Nova e ao café Progresso, entre outros locais. Portugal aparece ainda referido com uma curta nota sobre os azulejos da fábrica Viúva Lamego. 

Outros artigos a ler: uma entrevista com Angela Ahrendts, que saiu da Burberry para dirigir a cadeia de lojas da Apple; e uma iniciativa austríaca que visa dar projecção internacional aos artistas plásticos do país.

Ver
Ponto prévio: segunda-feira, a partir das 19h00, regressa o ciclo de exposições nas montras do British Bar, no Cais do Sodré, organizadas por Pedro Cabrita Reis, e que desta vez apresenta Pedro Calapez, Pedro Valdez Cardoso e Fernanda Fragateiro. 

Passemos a outros temas: um dos locais incontornáveis para quem gosta de ver fotografia é o Foam Fotografiemuseum, de Amesterdão. Mas se lá não puder ir, o site está organizado por forma a dar-lhe uma boa ideia do que está em exposição. Seydou Keita é um fotógrafo do Mali, que viveu entre 1921 e 2001 e que, sobretudo nas décadas de 50 e 60 do século passado, fotografou as pessoas de Bamako, a capital do país, em imagens a preto e branco que transmitem a intensidade dos retratados . 

As pessoas visitavam o estúdio de Keita para serem fotografadas com as suas melhores roupas e penteados. A exposição abre a 5 de Abril e ficará no Foam até 20 de Junho. Entretanto, podem sempre descobrir o que lá há para ver em www.foam.org. Dentro de portas há outras sugestões.

No MAAT, Miguel Palma apresenta obras sobre papel e o argentino Tomás Saraceno mostra na Galeria Oval "Um Imaginário Termodinâmico". Na Lisbon Gallery (Praça do Príncipe Real 19) está "Polaroid", uma mostra de 13 projectos de uma nova geração de designers que trabalham em Portugal. No Museu Colecção Berardo está a exposição "Linha, Forma e Cor", que apresenta obras de artistas como Piet Mondrian, Bruce Nauman, Frank Stella, Cy Twombly, Fernando Calhau, José Pedro Croft, Fernanda Fragateiro, Pedro Cabrita Reis, António Sena e Ângelo de Sousa, entre outros.

Gosto
O filme "São Jorge" ganhou sete prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema, entre eles o de Melhor Realização para Marco Martins e de Melhor Actor para Nuno Lopes.

Não gosto
Da intenção de a Meo passar a cobrar um euro por cada factura em papel enviada aos seus clientes.

Ouvir
O trio constituído por Keith Jarrett (piano), Gary Peacock (baixo) e Jack DeJohnette (bateria) - e que ficou conhecido informalmente como The Standards Trio - separou-se em 2014 depois de uma carreira de mais de 25 anos. Em Fevereiro, foi publicado um novo disco destes músicos, "After The Fall", um CD duplo que recupera uma gravação ao vivo inédita, realizada em 1988 em Newark. Acontece que este registo merece ser colocado entre os melhores que o grupo lançou. Aqui estão temas tradicionais do cancioneiro norte-americano, nos quais se nota o vigor da capacidade de improvisação do trio - desde logo na faixa de abertura, "The Masquerade Is Over", que ganha fulgor ao longo de 16 minutos. Aqui estão clássicos como "Moment's Notice" de Coltrane, "Doxy", de Sonny Rollins, "Bouncin'With Bud" de Bud Powell, "Scrapple From The Apple" de Charlie Parker ou ainda "Autumn Leaves", "When I Fall In Love" ou uma versão inesperada de "Santa Claus Is Coming To Town". Gravado no final de um período de convalescença de Jarrett, e após um hiato de actuações ao vivo de quase dois anos, este álbum evidencia o virtuosismo, a força e a coesão do trio, assim como a sua capacidade de reinterpretar clássicos. O próprio Jarrett sublinha nas notas de capa que "ficou surpreendido pela forma como os três músicos tocaram nesse concerto, depois de um longo período de pausa. Duplo CD ECM, disponível no Spotify.

Arco da Velha
Portugal é o país com maior carga de parcerias público-privadas, cujos custos representam cerca de 10,8% do PIB, cinco vezes mais do que a média europeia.

Provar
De 5 a 15 de Abril, regressa o Peixe em Lisboa, que se tem afirmado como o maior evento dedicado à gastronomia do mar realizado em Lisboa, este ano de novo no Pavilhão Carlos Lopes. Nesta 11.ª edição do Peixe em Lisboa, estarão presentes reputados chefes internacionais, com destaque para os responsáveis do Dinner, de Londres, do Il Pagliaccio de Roma, de Ana Ros, considerada Melhor Chefe Feminina do Mundo em 2017 pelo seu trabalho no restaurante Hisa Franko, na zona rural da Eslovénia, Andrew Wong, que assinala a estreia da cozinha chinesa no evento e Iván Domínguez, chefe do restaurante Alborada, na Corunha. Entre os portugueses estarão José Avillez, do restaurante Belcanto, João Rodrigues, do restaurante Feitoria, e também jovens chefes nacionais como João Oliveira e Tiago Bonito, Vasco Coelho, Diogo Noronha e Diogo Rocha. O Peixe em Lisboa 2018 terá ainda dez restaurantes da região de Lisboa que funcionam em permanência, do meio-dia à meia-noite e que se destacam por pratos à base de peixes e mariscos portugueses, com destaque para três estreantes: a Casa do Bacalhau, Loco e Mariscador. Além destes, estarão o Arola, o Ibo, o Kanazawa, a Taberna Fina, o Ritz Four Seasons e o Ribamar, de Sesimbra. Este ano, se o tempo permitir, existem esplanadas, a entrada é 15 euros, os bilhetes estão à venda na Ticketline e há concursos para nomear as melhores pataniscas e pastéis de nata.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
29/03/18


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