Baixaria do futebol
Todos os dias o mundo do futebol exibe uma baixaria inominável, dos presidentes dos clubes às claques. Ao menos deixem-nos mostrar o que são e o que desejam, para ilustração das massas… que vão ao futebol
Parece que foi revogada pelo Tribunal a sanção aplicada pelo Instituto
Português do Desporto e Juventude a um homem, a quem chamam com
elegância "Macaco", que o impedia de ir ver jogos de futebol por
"alegadamente" (uma das palavras mais comuns da actual vida portuguesa)
ter cantado ou mandado cantar um refrão em que se desejava à equipa
adversária que morresse toda num desastre de avião. Coisa amável, como
se vê.
Eu, por mim, sou muito liberal em delitos de opinião. O
Macaco, ou os seus próximos e apaniguados, queriam matar uma equipa
inteira e exprimiram livremente a sua opinião. Parece que uma
instituição "encarnada", ou seja benfiquista, o Instituto Português do
Desporto e Juventude, entendeu perseguir a sua liberdade que em Portugal
nenhuma emenda da Constituição deliberadamente protege. E o Macaco não
aceitou, e bem, e ganhou em tribunal.
Mas
o que é que esperavam? Todos os dias o mundo do futebol exibe uma
baixaria inominável, dos presidentes dos clubes às claques. Ao menos
deixem-nos mostrar o que são e o que desejam, para ilustração das
massas… que vão ao futebol.
Trump e Putin
O acesso ao poder da dupla Trump e Putin é o maior risco mundial dos
nossos dias. Sendo muito diferentes, por todas as razões que diferenciam
os EUA da Rússia, e que não são poucas, colocam ambos os países, os
seus vizinhos, o mundo, numa situação de grande perigo. Putin é mais
previsível, racional, prudente e oportunista, Trump é um egomaníaco
desequilibrado, com um carácter sinistro, vingativo e imprevisível, cuja
única motivação parece ser o seu narcisismo patológico. Pode ser,
aliás, que Putin o tenha no bolso, como muita gente da comunidade de
segurança e informações está convencida, e talvez isso tenha um lado bom
porque introduz um factor de racionalidade na sua imprevisibilidade. Só
que a racionalidade que introduz é a de Putin e dos seus interesses.
Os
estragos que Trump está a fazer no sistema político, no Partido
Republicano e no Partido Democrático, na tensão antidemocrática que
introduziu na administração, no papel combinado de um demagogo moderno
com uma televisão como a Fox News, e nas formas de resistência que se
mobilizam hoje nos EUA, ficarão na história americana e não apenas como
um caso de estudo. Trump introduziu um ponto sem retorno e o seu carisma
– sim, a palavra não tem necessariamente um significado positivo – é um
profundo factor de mudança.
Putin é a mesma coisa. Ele é o primeiro dirigente da Rússia
pós-comunista que também tem carisma e que muda o contexto em que actua,
criando um antes e um depois e é, por isso, um ponto sem retorno. Fá
-lo indo a tradições profundas da autocracia russa e voltando, como os
bolcheviques fizeram com o czarismo, à geopolítica tradicional da
Rússia. Para além disso, Putin tem sido capaz de explorar até ao limite
todas as oportunidades que lhe têm sido dadas pela política errática dos
EUA e da União Europeia. A Síria é um dos melhores exemplos dessa
capacidade de preencher vazios. Hoje quando se assiste à rendição
prática de um enclave rebelde, cujas milícias que combatiam Assad foram
apoiadas, armadas e empurradas para a guerra civil pelos EUA, pela
França e pelo Reino Unido, são oficiais russos que aparecem a organizar o
êxodo de refugiados. São eles que lá estão, são eles que vão continuar a
estar lá.
Verdadeiramente entalados estão os europeus. Mais uma vez.
A obsessão pela comida
Uma parte importante dos nossos noticiários quando não falam de futebol,
nem de doenças, falam de comida. Há uma moda, empurrada pela
publicidade, e pelo papel do turismo nas cidades, com os restaurante e
com a comida. Parece que há suficientes homens que desejam ser
cozinheiros, ou melhor chefs, porque as mulheres que tiveram quase
sempre de cozinhar por obrigação não são muito atraídas pela moda. E ei
-los com a pose de metrossexual vestidos de avental preto a colocar
delicadamente pequenas folhas de um arbusto qualquer sobre uma pasta
indefinida, de uma coisa qualquer que habitualmente se comia bem fresca e
com pouco cozinhado e que agora tem de se pousar no seu suco. Irá
passar a moda dos chefs de trazer por casa, como já passou em grande
parte a moda dos gins e vai acabar por ser apenas um novo riquismo
provinciano, como aquele que infesta as carnes de frutos exóticos e
torna as sobremesas todas vermelhas. Podia dar-lhes para pior.
IN "SÁBADO"
26/03/18
.
Sem comentários:
Enviar um comentário