As sobras do jantar no Panteão
Em novembro passado, as redes sociais
agitaram-se com a realização do jantar de encerramento da Web Summit no
Panteão Nacional. O primeiro-ministro considerou o jantar "indigno",
prometeu rever o regulamento sobre eventos em monumentos e em pouco
tempo estava proibida a escolha daquele espaço. É pena que a atenção que
tanto o Governo como os ativistas de Facebook dedicam ao património se
esgote em polémicas efémeras. Espalhadas pelo país não faltam situações a
exigir vigilância pública, como a que mantém, há anos a fio, os sinos
do Palácio Nacional de Mafra em risco de queda.
Desde
2004 que um dos conjuntos sineiros mais antigos do Mundo é suportado
por uma estrutura metálica provisória, ela própria em avançado estado de
degradação e com um custo anual de 40 mil euros. Ao mesmo tempo que
avança a candidatura do monumento a património mundial, no terreno a
imagem de degradação é evidente. O mau tempo das últimas semanas obrigou
a colocar faixas de proteção que impedem a aproximação de pessoas.
Em
2015, o Governo lançou um concurso público internacional para a
requalificação dos carrilhões. Inicialmente o objetivo era ter a
intervenção concluída em novembro do ano passado, a tempo da comemoração
do tricentenário da construção do convento. Só que o tempo foi passando
e não se sabe sequer quando as obras arrancam. A Direção-Geral do
Património Cultural remete para o Tribunal de Contas. Mas após
insistência da Comunicação Social percebeu-se que o bloqueio está,
afinal, nas mãos das Finanças. À espera de autorizações relacionadas com
as verbas do Orçamento do Estado.
O
discurso de que as contas públicas estão de boa saúde tem feito caminho e
até de Bruxelas chovem elogios ao desempenho notável da economia
portuguesa. Quando se vai ao pormenor das coisas, o constante atraso na
libertação de verbas e a invocação de burocracia para justificar demoras
em obras públicas mostram uma realidade bastante diferente. Os exemplos
não faltam e basta citar a construção do novo bloco operatório do IPO
de Lisboa ou a manutenção da Ponte 25 de Abril para se ver como o
problema é transversal.
Foi boa a
discussão pública sobre o jantar no Panteão. Mas foi pena não termos
aproveitado a oportunidade para analisar que verbas reservamos à
preservação do património. E, tão relevante como o dinheiro, que ligação
mantemos e de que forma usufruímos dos nossos monumentos. Para além do
barulho das luzes, sobra uma tarefa gigantesca por fazer.
* Subdirectora
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
12/03/18
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