14/03/2018

INÊS CARDOSO

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As sobras do jantar no Panteão

Em novembro passado, as redes sociais agitaram-se com a realização do jantar de encerramento da Web Summit no Panteão Nacional. O primeiro-ministro considerou o jantar "indigno", prometeu rever o regulamento sobre eventos em monumentos e em pouco tempo estava proibida a escolha daquele espaço. É pena que a atenção que tanto o Governo como os ativistas de Facebook dedicam ao património se esgote em polémicas efémeras. Espalhadas pelo país não faltam situações a exigir vigilância pública, como a que mantém, há anos a fio, os sinos do Palácio Nacional de Mafra em risco de queda.

Desde 2004 que um dos conjuntos sineiros mais antigos do Mundo é suportado por uma estrutura metálica provisória, ela própria em avançado estado de degradação e com um custo anual de 40 mil euros. Ao mesmo tempo que avança a candidatura do monumento a património mundial, no terreno a imagem de degradação é evidente. O mau tempo das últimas semanas obrigou a colocar faixas de proteção que impedem a aproximação de pessoas.

Em 2015, o Governo lançou um concurso público internacional para a requalificação dos carrilhões. Inicialmente o objetivo era ter a intervenção concluída em novembro do ano passado, a tempo da comemoração do tricentenário da construção do convento. Só que o tempo foi passando e não se sabe sequer quando as obras arrancam. A Direção-Geral do Património Cultural remete para o Tribunal de Contas. Mas após insistência da Comunicação Social percebeu-se que o bloqueio está, afinal, nas mãos das Finanças. À espera de autorizações relacionadas com as verbas do Orçamento do Estado.

O discurso de que as contas públicas estão de boa saúde tem feito caminho e até de Bruxelas chovem elogios ao desempenho notável da economia portuguesa. Quando se vai ao pormenor das coisas, o constante atraso na libertação de verbas e a invocação de burocracia para justificar demoras em obras públicas mostram uma realidade bastante diferente. Os exemplos não faltam e basta citar a construção do novo bloco operatório do IPO de Lisboa ou a manutenção da Ponte 25 de Abril para se ver como o problema é transversal.

Foi boa a discussão pública sobre o jantar no Panteão. Mas foi pena não termos aproveitado a oportunidade para analisar que verbas reservamos à preservação do património. E, tão relevante como o dinheiro, que ligação mantemos e de que forma usufruímos dos nossos monumentos. Para além do barulho das luzes, sobra uma tarefa gigantesca por fazer.

* Subdirectora

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
12/03/18

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