26/09/2017

ROGÉRIO JUNIOR

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O robô não é o inimigo

Não nos podemos esquecer que por muito sofisticada que a inteligência artificial seja nunca poderá sentir emoções, e a sua interação social será sempre condicionada à aprendizagem.

A quarta revolução industrial está em marcha. A primeira, por volta de 1760, transformou a produção manual em mecanizada. A segunda, em 1850, trouxe a eletricidade e permitiu a produção em massa e a terceira, que aconteceu em meados do século XX, trouxe a eletrónica, as telecomunicações e as tecnologias de informação para o nosso dia a dia. Esta revolução está a acontecer neste momento e desta vez teremos os robôs e a convergência de tecnologias físicas, digitais e biológicas.
 
Cada vez menos pensamos nos robôs como máquinas sofisticadas que dominam o mundo e escravizam a raça humana nos filmes de ficção científica e estamos, pouco a pouco, a aprender a conviver com eles, a integrá-los no nosso quotidiano e a permitir que desempenhem funções que até há pouco tempo eram exclusivas dos humanos. Das máquinas mais sofisticadas às mais básicas, todos os dias há notícias sobre evoluções e inovações neste campo. E em poucos anos teremos robôs sofisticados ao nosso dispor como agora temos os automóveis ou os smartphones. O importante é saber até onde podemos ir.

De acordo com um estudo do Fórum Económico Mundial, estima-se que em 2020 haja menos cinco milhões de empregos devido à robotização. Tarefas repetitivas e processos fabris já são, um pouco por todo o mundo, desempenhadas por robôs. E isto é o progresso que não já não pode ser travado.
Há quem pense que caminhamos para um cenário quase apocalíptico, em que os humanos se resignam a ficar em casa à espera do regresso dos seus autómatos, tornando-se pouco a pouco cada vez mais dependentes do trabalho dos robôs, mergulhando em vidas deprimentes e vazias. A verdade é que o futuro não será ocioso e desprovido de empregos para humanos.

Da mesma forma que as anteriores revoluções industriais eliminaram postos de trabalho, também criaram novos. Na prática foi uma transformação ou conversão de profissões. Também será assim nesta revolução. Haverá certamente perda de postos de trabalho pouco qualificados e um aumento substancial nos empregos qualificados. Assim tem acontecido desde a invenção da máquina a vapor.

Pensar nos robôs como o inimigo que virá transformar-nos em párias e dominar o mundo do trabalho é ser resistente a uma mudança de paradigma que vai mesmo acontecer. Urge acompanhar a evolução, definir qual a melhor forma dela acontecer e integrá-la da melhor forma. Assumir que a robótica veio para ficar e que em poucos anos cada casa terá uma destas máquinas para cumprir as tarefas básicas e rotineiras é o primeiro passo.

Felizmente aprendemos com as anteriores revoluções e, hoje em dia, já estão a ser antecipados e debatidos os possíveis problemas emergentes da integração dos robôs evolutivos na sociedade.

Temas como se os robôs devem pagar impostos, visto que estão a gerar riqueza e a ocupar um posto de trabalho, qual o limite que se deve dar em termos de responsabilização a uma máquina ou ao seu dono são muito pertinentes e ocuparão um lugar de destaque nesta revolução em muito pouco tempo. O Parlamento Europeu já está a debater estes e outros temas, e esse é o caminho que o mundo deve seguir. Quanto mais depressa soubermos os limites a cumprir mais fácil será adaptar-nos e descobrir oportunidades nesta revolução industrial.

Por fim, não nos podemos esquecer que por muito sofisticada que a inteligência artificial seja nunca poderá sentir emoções, e a sua interação social será sempre condicionada à aprendizagem. Essas são as grandes vantagens do ser humano – e não podem ser replicadas.

IN "O JORNAL ECONÓMICO"
23/09717

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