O robô não é o inimigo
Não nos podemos
esquecer que por muito sofisticada que a inteligência artificial seja
nunca poderá sentir emoções, e a sua interação social será sempre
condicionada à aprendizagem.
A quarta revolução industrial está em marcha. A primeira, por
volta de 1760, transformou a produção manual em mecanizada. A segunda,
em 1850, trouxe a eletricidade e permitiu a produção em massa e a
terceira, que aconteceu em meados do século XX, trouxe a eletrónica, as
telecomunicações e as tecnologias de informação para o nosso dia a dia.
Esta revolução está a acontecer neste momento e desta vez teremos os
robôs e a convergência de tecnologias físicas, digitais e biológicas.
Cada vez menos pensamos nos robôs como máquinas sofisticadas que
dominam o mundo e escravizam a raça humana nos filmes de ficção
científica e estamos, pouco a pouco, a aprender a conviver com eles, a
integrá-los no nosso quotidiano e a permitir que desempenhem funções que
até há pouco tempo eram exclusivas dos humanos. Das máquinas mais
sofisticadas às mais básicas, todos os dias há notícias sobre evoluções e
inovações neste campo. E em poucos anos teremos robôs sofisticados ao
nosso dispor como agora temos os automóveis ou os smartphones. O
importante é saber até onde podemos ir.
De acordo com um estudo do Fórum Económico Mundial, estima-se que
em 2020 haja menos cinco milhões de empregos devido à robotização.
Tarefas repetitivas e processos fabris já são, um pouco por todo o
mundo, desempenhadas por robôs. E isto é o progresso que não já não pode
ser travado.
Há quem pense que caminhamos para um cenário quase apocalíptico, em
que os humanos se resignam a ficar em casa à espera do regresso dos seus
autómatos, tornando-se pouco a pouco cada vez mais dependentes do
trabalho dos robôs, mergulhando em vidas deprimentes e vazias. A verdade
é que o futuro não será ocioso e desprovido de empregos para humanos.
Da mesma forma que as anteriores revoluções industriais
eliminaram postos de trabalho, também criaram novos. Na prática foi uma
transformação ou conversão de profissões. Também será assim nesta
revolução. Haverá certamente perda de postos de trabalho pouco
qualificados e um aumento substancial nos empregos qualificados. Assim
tem acontecido desde a invenção da máquina a vapor.
Pensar nos robôs como o inimigo que virá transformar-nos em
párias e dominar o mundo do trabalho é ser resistente a uma mudança de
paradigma que vai mesmo acontecer. Urge acompanhar a evolução, definir
qual a melhor forma dela acontecer e integrá-la da melhor forma. Assumir
que a robótica veio para ficar e que em poucos anos cada casa terá uma
destas máquinas para cumprir as tarefas básicas e rotineiras é o
primeiro passo.
Felizmente aprendemos com as anteriores revoluções e, hoje em
dia, já estão a ser antecipados e debatidos os possíveis problemas
emergentes da integração dos robôs evolutivos na sociedade.
Temas como se os robôs devem pagar impostos, visto que estão a gerar
riqueza e a ocupar um posto de trabalho, qual o limite que se deve dar
em termos de responsabilização a uma máquina ou ao seu dono são muito
pertinentes e ocuparão um lugar de destaque nesta revolução em muito
pouco tempo. O Parlamento Europeu já está a debater estes e outros
temas, e esse é o caminho que o mundo deve seguir. Quanto mais depressa
soubermos os limites a cumprir mais fácil será adaptar-nos e descobrir
oportunidades nesta revolução industrial.
Por fim, não nos podemos esquecer que por muito sofisticada que a
inteligência artificial seja nunca poderá sentir emoções, e a sua
interação social será sempre condicionada à aprendizagem. Essas são as
grandes vantagens do ser humano – e não podem ser replicadas.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
23/09717
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