10/09/2017

EDUARDO DÂMASO

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Um mistério que a justiça
 não vai desvendar

Os investigadores da Operação Marquês suspeitam que a fortuna escondida de Sócrates e titulada nos bancos pelo seu amigo Santos Silva serviu para comprar tudo, inclusive para alimentar vícios como o consumo de drogas

Os investigadores da Operação Marquês suspeitam que a fortuna escondida de Sócrates e titulada nos bancos pelo seu amigo Carlos Santos Silva serviu para comprar tudo, inclusive para alimentar vícios como o consumo de drogas. Isso está bem presente no interrogatório à então namorada de Sócrates, Célia Tavares, realizado em 5 de Fevereiro de 2015, menos de três meses após a detenção do ex-primeiro-ministro, ocorrida a 21 de Novembro de 2014, e que divulgamos nesta edição da SÁBADO.

Célia Tavares foi confrontada com escutas em que aparece a falar em código com José Sócrates e em que a utilização da palavra "vinho" quererá significar cocaína ou outras drogas, como especificam tanto o procurador Rosário Teixeira como o inspector tributário Paulo Silva.
Interrogam-na directamente sobre a questão da compra da droga, sublinhando que não querem saber da vida pessoal de ambos mas que é essencial apurar com que dinheiro tais produtos terão sido comprados, se é que o foram. Estas perguntas inserem-se numa das principais linhas de investigação da Operação Marquês, que é a de saber em benefício de quem é que a fortuna de 25 milhões acumulada e escondida no estrangeiro foi usada.

Segundo a investigação, o dinheiro formalmente na propriedade de Santos Silva teve em Sócrates o único e exclusivo beneficiário. Serviu para comprar a casa de Paris, pagar despesas correntes e extraordinárias de toda a família de Sócrates, de dívidas fiscais ao dentista, pagou as casas da ex-mulher, as viagens de férias com as namoradas, os jantares de conspiração política e, seria a cereja no topo do bolo, os vícios privados, fossem eles de Sócrates, das suas namoradas ou amigos.
O dinheiro é o princípio e o fim de tudo e não qualquer espécie de voyeurismo sobre a vida privada dos intervenientes. Isso compreende-se de forma linear em todo o episódio. Percebem-se os indícios e as obrigações de fazer as perguntas em função deles. Percebe-se a força potencial dos ditos indícios e a importância probatória que poderiam ter. Na verdade, quem acredita que o melhor amigo de alguém, por muito rico que seja, pague toda a vida de outrem, incluindo vícios como o consumo reiterado de drogas!? O único cenário admissível é aquele em que a investigação trabalha: o dinheiro é titulado por Santos Silva mas, na realidade, o seu proprietário é Sócrates.
É isto que confere importância aos indícios recolhidos nas escutas, às meias respostas e omissões dos inquiridos. É por isso, mas também pelo risco que o levantamento desta frente de investigação comporta para o Ministério Público, que a SÁBADO noticia o episódio. Ele está nos autos do processo, foi um cenário altamente valorizado pela investigação mas, no fim, sobram mais dúvidas do que certezas. Sobram dúvidas sobre a veracidade das respostas das testemunhas mas também das vantagens que o episódio tem para a investigação.

Abrir uma frente destas sem ter possibilidades de ser consequente (Sócrates não chegou a ser confrontado com estes indícios) abre a porta a todo o tipo de críticas – por mais clara que tenha sido a explicação às testemunhas – e a uma vitimização sem precedentes do próprio ex-primeiro-ministro.
Afinal, este pode ficar para a história como um daqueles mistérios que a justiça jamais desvendará, coisa que não é confortável para ninguém.

O pão dos bombeiros
O País que anda há demasiado tempo a pagar as falcatruas da banca, que foi espremido pela troika e sustenta, com os seus impostos, uma voraz e insaciável máquina estatal, não tem dinheiro para alimentar os seus bravos bombeiros nem consegue pôr ordem na solidariedade com as vítimas dos fogos. Se tudo isto não é uma grande vergonha...

 IN "SÁBADO"
07/09/17


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