A nossa bica nas Ramblas
A fotógrafa Marta Pérez, da EFE, estava lá
e não deixou de captar Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa sentados
num café nas Ramblas três dias depois do atentado que matou 14 pessoas
naquela avenida de Barcelona, duas delas portuguesas. Não deixa de ser
simbólico que os primeiros líderes estrangeiros a mostrar assim a
solidariedade com as vítimas tenham sido o Presidente e o
primeiro-ministro de Portugal. A Espanha (e, para o caso, tanto faz que
seja a Catalunha ou a Extremadura) diz-nos muito e por isso antes
Marcelo e Costa tinham estado na Sagrada Família, ao lado dos reis, para
a missa que foi tanto um tributo aos que morreram como uma recusa a
ceder à chantagem dos jihadistas.
Mais
do que vizinhos, os espanhóis são mesmo um povo irmão, de língua e
cultura próximas. Temos nove séculos de independência e muitas batalhas
contra eles para a preservarmos, como aprendemos na escola. Mas a
verdade é que ao contrário de outros países que foram inimigos ninguém
tem lembranças de um familiar morto por um soldado espanhol porque há
dois séculos que não nos fazem guerra. Ainda há dias, um historiador me
notou um facto: não há memória, nas guerras que travámos uns com os
outros, de um massacre feito por nós ou por eles.
O
terror esteve já mais perto da nossa fronteira, quando em 2004 Madrid
foi atacada também por jihadistas. Mas Barcelona, depois de Paris ou de
Manchester, veio relembrar-nos que ninguém está a salvo dos fanáticos.
Para derrotá-los há que estar vigilante mas também insistir na vida, uma
vida tão normal como sentarmo-nos nas Ramblas e pedir a bica. Como
fizeram Marcelo e Costa.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
21/08/17
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