Eu não sei
onde se vai legalmente
buscar tanto dinheiro…
As candidaturas independentes nas autárquicas são um factor de renovação do pessoal político, e aumentam a competitividade eleitoral. Mesmo quando nessas listas estão os "rejeitados" das listas partidárias
…mas há candidaturas autárquicas que transpiram riqueza e largueza de
meios por todo o lado. Acompanho, pelas razões de que falei no meu
último artigo, quase 500 campanhas diferentes de concelhos e freguesias e
a desproporção de meios nalguns casos é flagrante, assim como a
abundância de recursos. A ostentação de meios é tão patente, que me
pergunto se alguém que deve fazer essa pergunta em termos
institucionais, seja a Comissão Nacional de Eleições, seja a
Procuradoria, seja lá quem for, não vê o mesmo que eu vejo. Na rua,
diante de todos.
Caça aos independentes
As
tentativas de usar expedientes processuais para afastar listas de
independentes por parte de candidaturas partidárias ou pessoas que lhes
fazem o serviço, mostra como se "engole" mal o facto destas listas serem
possíveis nas eleições autárquicas e, a julgar pelas últimas eleições,
terem um considerável sucesso. O caso de Oeiras com Isaltino e o do
Porto com Rui Moreira são exemplo disso mesmo, até porque, quer num caso
quer noutro, se trata de candidaturas potencialmente ganhadoras.
Será
muito difícil convencer alguém em Oeiras que assinou a propositura de
Isaltino sem saber quem estava a apoiar. Isaltino é uma figura muito
controversa, muito conhecida e muito popular, e quem de perto ou de
longe lhe deu o nome para assinar a candidatura sabia muito bem o que
estava a fazer. É muito mais provável que quem tenha assinado as
candidaturas de Paulo Vistas ou em particular do candidato do PSD, saiba
bastante menos o que está a fazer, e vá ao engano.
Do
mesmo modo, o PSD do Porto que processou Rui Moreira por usar a
expressão o "Porto é o meu partido", objectando que a palavra "partido"
não pode ser usada numa candidatura independente, também não tem estado
em Portugal nos últimos anos. Só dando exemplos que recentemente me
passaram pelas mãos, o PS em Favaios, freguesia de Alijó tem uma lista
intitulada "Favaios o nosso partido", ecoando a lista concelhia que diz
"o concelho é o nosso partido", e a lista de uma candidatura
independente na Vidigueira diz "o nosso partido é a Vidigueira". E
movimento "O nosso partido é a Lourinhã"? Dei exemplos de campanhas
eleitorais do Portugal profundo, mas há muito mais por todo o lado.
As
candidaturas independentes nas autárquicas são um factor de renovação
do pessoal político, e aumentam a competitividade eleitoral. Mesmo
quando nessas listas estão os "rejeitados" das listas partidárias, como
ainda é muito comum, isso transporta para o eleitorado a decisão que
deveria corresponder a uma maior democraticidade interna. Mas é
essencialmente o aumento da competitividade que preocupa os partidos e
por isso, quer a lei, quer as dificuldades impostas às candidaturas
independentes, destinam-se a armadilhar a competição e obrigar a maior
militância, maior organização e muitas vezes ter de concorrer com muito
pouco dinheiro.
Obama empurrava os conflitos para a frente, Trump torna-os intratáveis e perigosos
É
verdade que a administração Obama procrastinava. Adiava decisões, ou
não sabia que decisões tomar e isso em certos conflitos, agrava-os.
Noutros, é uma maneira de os ajudar a resolver. Não há regra universal
para todos os conflitos principalmente os que dizem respeito à política
externa. Quanto a questões de defesa e segurança já o adiamento
sistemático é por regra uma má solução e o caso da Coreia do Norte é
disso um bom exemplo. Muitas críticas a Obama e Hillary Clinton têm por
isso toda a razão de ser.
Mas isso não justifica o que Trump está
a fazer, que é tornar os conflitos intratáveis, muito difíceis de
resolver sem soluções muito voláteis e por isso muito perigosas. O caso
da Coreia do Norte é também o melhor exemplo, tratado com todas as
características de Trump, ignorância, desleixo, bravado, mentalidade de
forcado diante de um touro nuclear.
Na mesma semana em que os
EUA tinham tido uma importante vitória diplomática com a aprovação
unânime de sanções com o voto da Rússia e da China, não foi capaz de
esperar pelo resultado da sua aplicação. Se queria manter uma política
firme, podia pressionar a sua aplicação rigorosa, até porque estas
sanções são muito mais onerosas para o regime da Coreia do que as
anteriores. Mas não. Resolveu desencadear uma retórica de ferro e fogo,
que incomodou os seus aliados, acentuou o isolamento dos EUA, reforçando
o principal factor de decadência da influência americana - ele mesmo, o
Presidente que muitos líderes mundiais consideram incompetente e
perigoso.
IN "SÁBADO"
20/08/17
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