Falar de ética nas empresas?
Sim. E regularmente!
Podemos falar também
das “pequenas” questões éticas, muitas vezes inconscientes, como não
respeitar os colegas e fazer discriminação de vários tipos.
Quem me conhece sabe que não me canso de repetir que é crucial
falar-se regularmente de ética nas organizações, manter o tema da ética,
permanentemente, na agenda, em todas as áreas e em todos os níveis
hierárquicos. É a única forma de criar uma cultura ética. E quando falo
de ética, de cultura ética, quero dizer, para simplificar: fazer o que é
correto, justo, honesto e legal.
Dan Ariely, no livro Previsivelmente Irracional, sugere
que se formos recordados da “moralidade” no momento da tentação temos
mais tendência para sermos honestos. Mas como identificar esse momento? O
dia a dia das organizações está repleto de “momentos de tentação” e,
por isso, a única forma da ética estar presente quando as coisas
acontecem é falar sobre ética regularmente.
Ao falarmos sobre ética poderemos estar a evitar comportamentos
não éticos ou, pelo menos, a fazer com que as pessoas que os têm estejam
disso mais conscientes. E não estamos a falar apenas das “grandes”
questões éticas, como, por exemplo, suborno (essas, as pessoas, em
regra, estão delas conscientes); podemos falar também das “pequenas”
questões éticas, muitas vezes inconscientes, como não respeitar os
colegas, fazer discriminação de vários tipos, utilizar recursos da
empresa, dar informação confidencial, entre tantos outros temas.
Falar sobre ética é, também, uma das formas (e talvez a mais
importante) de manter o código de ética de uma organização “vivo”, ou
seja, garantir que é lido, interpretado e apreendido por cada leitor.
Falar sobre o código é dar-lhe existência, é fomentar confiança nos
compromissos que nele estão (ou deveriam estar) assumidos. E é isso que,
em última análise, poderá permitir que um colaborador possa reportar
situações ou atuações que não estão em conformidade com o que lá vem
expresso.
Estou profundamente convicta de que, usando ou não o código de
ética como pretexto, é muito importante falar de ética nas empresas,
seja através de formação, campanhas de comunicação ou reuniões de
equipa, sobretudo se os assuntos forem identificados como relevantes e
oportunos. Por exemplo, neste momento, com o novo Regulamento Geral de
Proteção de Dados, é absolutamente necessário falar-se sobre
confidencialidade de informação em qualquer tipo organização.
Mas estou igualmente convicta de que nem sempre é fácil falar
sobre ética, seja no conteúdo seja na forma. Por isso, criámos, em 2015,
o Fórum de Ética da Católica Porto Business School. Fizemo-lo porque
constatámos que não existia um espaço de reflexão para líderes
empresariais, que não fosse só de transmissão de informação, mas sim um
espaço de descoberta individual e de promoção da descoberta nos outros,
onde pudessem ser discutidas temáticas relevantes para cada um e para as
respetivas organizações.
Por isso, concebemo-lo com três objetivos: estimular e apoiar a
reflexão sobre ética empresarial; promover a troca de experiências entre
organizações; criar e partilhar conhecimento no domínio da ética.
Enfim, para falarmos de ética nas empresas, entre pares, num ambiente de
confiança e abertura. Este espaço de diálogo, reflexão e ação para
lideranças responsáveis é assim um contributo da Católica Porto Business
School para que, cada vez mais, possamos falar de ética nas empresas,
reforçando o desenvolvimento de culturas (mais) éticas nas nossas
organizações e, naturalmente, na sociedade.
As organizações são feitas de pessoas que, naturalmente, tomam
decisões todos os dias e, por isso, não é possível falar-se de uma
cultura de ética se não tivermos a ética presente no quotidiano da
organização. É por isso que falar sobre ética é tão importante.
* Docente da Católica Porto Business School
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
22/08/17
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