As campanhas eleitorais
promovem o esclarecimento ?
Na
semana passada, ao voltar à obra “O Livro Tibetano da Vida e da Morte”,
de Sogyal Rinpoche, dei comigo a exorbitar para a actualidade, o
pequeno conto que ele refere como sendo de Patrul Rinpoche (Kham/Tibete,
1808-1887), que foi um proeminente Mestre da Escola Nyingma do Budismo
Tibetano, e que relata a história de uma rã que toda sua vida vivera num
poço húmido e que certo dia recebe a visita de uma rã do mar:
“De onde vens? indaga a rã do poço. Venho do grande oceano, responde a outra.
O teu oceano é grande? É gigantesco.
Terá talvez um quarto do tamanho do meu poço? É maior.
Maior? Talvez metade do meu poço? Não. Muito maior.
É tão grande como este poço? Muito maior. Não tem comparação.
Impossível. Tenho de ver isso!
E
lá foram as duas, mas quando a rã do poço vê a imensidão do oceano, o
choque foi tão grande que a sua cabeça explodiu, desfazendo-se em
pedaços”.
Encarcerado em enevoada vereda, cuja saida parece não
querer encontrar, o ser humano individualmente arquitecta a sua gaiola e
aceita-a como sendo a totalidade da realidade do universo, sendo poucos
os que rompem os grilhões que os impedem de ver. A interpretação que me
interessa extrair deste pequeno conto, embora muitas outras sejam
possiveis, (particularmente no domínio do objecto de principal dedicação
budista que é a mente humana), transfere a dimensão dos inúmeros
universos individuais, para o ambiente de maledicência que já se sente e
concerteza vai agudizar-se com o aproximar da campanha eleitoral para
as próximas eleições autárquicas. A arrogância e a ignorãncia,
reflectidas no pequeno conto, estão, com elevada frequência, presentes
em campanhas para eleições de cargos políticos. Invariavelmente, os
candidatos muito arrogantes, combatem os seus adversários com a calúnia e
difamação, sendo muito poupados na apresentação de propostas. Os menos
arrogantes, mantém as mesmas armas para combater os seus adversários, e
apresentam uma ou outra proposta, por vezes de realização duvidosa. Os
ignorantes nem sequer descortinam a real razão porque os proposeram para
candidatos e os falsos ignorantes vão lançando migalhas e títulos de
jornais que no imediato podem abrir o apetite, mas que em presença de um
mediano espiríto crítico, são autênticas anedotas. Ora, os períodos de
campanha eleitoral deveriam, obrigatoriamente, constituir uma
oportunidade para a promoção do esclarecimento das populações, onde os
protagonistas, genuínamente interessados na melhoria das condições de
vida das populações, se deveriam limitar à apresentação das suas
propostas, fundamentando a sua necessidade e apresentando o
correspondente custo. Depois, todo o candidato a cargo público, deveria
encorporar que o exercício da política tem apenas um propósito: SERVIR! E
convém que essa missão seja desempenhada pelos despretensiosos
esclarecidos. Refiro-me àqueles que vão a jogo e no período de campanha
eleitoral se limitam a propor ideias e projectos que promovem a inclusão
das pessoas, num exercício harmonioso onde a complementaridade entre as
pessoas, os animais e natureza é uma meta, e não ao semear da
maledicência sobre os seus adversários, tornando a política um
espectáculo degradante, indigente e desmotivador.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
09/08/17
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