11/08/2017

FERNANDO RODRIGUES

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As campanhas eleitorais 
promovem o esclarecimento ?

Na semana passada, ao voltar à obra “O Livro Tibetano da Vida e da Morte”, de Sogyal Rinpoche, dei comigo a exorbitar para a actualidade, o pequeno conto que ele refere como sendo de Patrul Rinpoche (Kham/Tibete, 1808-1887), que foi um proeminente Mestre da Escola Nyingma do Budismo Tibetano, e que relata a história de uma rã que toda sua vida vivera num poço húmido e que certo dia recebe a visita de uma rã do mar:

“De onde vens? indaga a rã do poço. Venho do grande oceano, responde a outra.

O teu oceano é grande? É gigantesco.

Terá talvez um quarto do tamanho do meu poço? É maior.

Maior? Talvez metade do meu poço? Não. Muito maior.

É tão grande como este poço? Muito maior. Não tem comparação.
Impossível. Tenho de ver isso!

E lá foram as duas, mas quando a rã do poço vê a imensidão do oceano, o choque foi tão grande que a sua cabeça explodiu, desfazendo-se em pedaços”.

Encarcerado em enevoada vereda, cuja saida parece não querer encontrar, o ser humano individualmente arquitecta a sua gaiola e aceita-a como sendo a totalidade da realidade do universo, sendo poucos os que rompem os grilhões que os impedem de ver. A interpretação que me interessa extrair deste pequeno conto, embora muitas outras sejam possiveis, (particularmente no domínio do objecto de principal dedicação budista que é a mente humana), transfere a dimensão dos inúmeros universos individuais, para o ambiente de maledicência que já se sente e concerteza vai agudizar-se com o aproximar da campanha eleitoral para as próximas eleições autárquicas. A arrogância e a ignorãncia, reflectidas no pequeno conto, estão, com elevada frequência, presentes em campanhas para eleições de cargos políticos. Invariavelmente, os candidatos muito arrogantes, combatem os seus adversários com a calúnia e difamação, sendo muito poupados na apresentação de propostas. Os menos arrogantes, mantém as mesmas armas para combater os seus adversários, e apresentam uma ou outra proposta, por vezes de realização duvidosa. Os ignorantes nem sequer descortinam a real razão porque os proposeram para candidatos e os falsos ignorantes vão lançando migalhas e títulos de jornais que no imediato podem abrir o apetite, mas que em presença de um mediano espiríto crítico, são autênticas anedotas. Ora, os períodos de campanha eleitoral deveriam, obrigatoriamente, constituir uma oportunidade para a promoção do esclarecimento das populações, onde os protagonistas, genuínamente interessados na melhoria das condições de vida das populações, se deveriam limitar à apresentação das suas propostas, fundamentando a sua necessidade e apresentando o correspondente custo. Depois, todo o candidato a cargo público, deveria encorporar que o exercício da política tem apenas um propósito: SERVIR! E convém que essa missão seja desempenhada pelos despretensiosos esclarecidos. Refiro-me àqueles que vão a jogo e no período de campanha eleitoral se limitam a propor ideias e projectos que promovem a inclusão das pessoas, num exercício harmonioso onde a complementaridade entre as pessoas, os animais e natureza é uma meta, e não ao semear da maledicência sobre os seus adversários, tornando a política um espectáculo degradante, indigente e desmotivador.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
09/08/17

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