24/08/2017

ALEXANDRA ALMEIDA FERREIRA

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Autárquicas: 
lições para os partidos

É tempo dos partidos, sobretudo da direita, revisitarem valores e personalidades, e porem fim de uma vez por todas à depressão pós-parto das Legislativas.

Em Portugal, em vez dos populismos que assolaram a Europa, a crise económica e sobretudo política, fez nascer os movimentos independentes. Esse é talvez o aspeto que mais salta à vista agora que estão fechadas as listas para as autárquicas. Veremos em Outubro com que expressão efetiva. Rui Tavares com o seu Livre foi o tema da moda nos media, levado pelos artistas e intelectuais, que têm nos jornais e nas redes sociais um quintal assegurado para celebrar as virtudes aparentemente apartidárias, mas verdadeira e tendencialmente, do Bloco de Esquerda. Nas urnas, porém, onde poderia passar a contar, o Livre foi um fracasso.
Em Lisboa, Fernando Medina dará cartas contra um PSD que se tornou tão provinciano que ficará limitado à província. Passos diz que não se demitirá depois das autárquicas, adivinhando que vêm aí resultados desastrosos. Não pode responder outra coisa quando tem de correr o país de lés-a-lés a apoiar os candidatos do partido. Mas tem de sair e mais cedo que tarde. Como dizia Mauro Xavier, frontalmente contra o rumo que as eleições em Lisboa tomaram, se o PSD fosse governo amanhã, quais seriam as primeiras cinco propostas? Ninguém sabe. Quem teria Passos a trabalhar consigo? O pior que o PSD tem: os que aguentaram não por resiliência mas por falta de qualidade.
No próximo ano haverá Congresso e Passos será desafiado. Esperemos que por mais candidatos à liderança do que apenas Rui Rio. O país exige do PSD mais do que Economia. Aliás, numa lógica de puro pragmatismo político, o país hoje nem sequer quer saber de Economia. O PIB cresce, o desemprego está no nível mais baixo dos últimos oito anos. Falta agenda ao PSD, que tem andado aos trambolhões a tentar fazer política com a desgraça dos incêndios. Sabemos que Passos não pode com Marcelo, mas tem tudo a aprender com ele.
No Porto, será interessante assistir ao grande teste do fenómeno Rui Moreira. Sob a aura de independente, mas apoiado pelo PS, tornou-se talvez no autarca mais aclamado do Porto, deixando o legado de catapultar a Invicta para o topo dos destinos da Europa, mostrando como a Cultura pode revolucionar uma cidade, atrair investimento e os artistas mais cobiçados pelas grandes capitais europeias. Mostrando, lá está, que faltava agenda ao economês de Rui Rio. Será essa a medida que os portuenses vão usar para ir a votos? Ou descobriremos que, afinal, os independentes de sucesso dependem, afinal e ainda, dos aparelhos partidários?
A natureza de proximidade das eleições autárquicas são o balão de ensaio perfeito para se avaliar a força e oportunidade de novas ideias e personalidades na política nacional. Para lá dos insólitos da cantora Ágata em Castanheira de Pêra, o Tino de Rãs das autárquicas, é tempo de perceber se a renovação política se faz dentro ou fora dos partidos. Dificilmente será fora, mas que fique a ilação mais importante: é tempo dos partidos, sobretudo da direita, revisitarem valores e personalidades, e porem fim de uma vez por todas à depressão pós-parto das Legislativas.
Passos é hoje o teste mal conseguido do “novo é sempre melhor”, tendo assumido o lugar que sempre coube a senadores do partido. É pena, podia ter saído por uma porta maior.

* Consultora
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
18/08/17

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