Um presidente inimputável?
Apesar de tudo o que aconteceu desde
janeiro e do inevitável adormecimento em relação ao comportamento do
presidente dos Estados Unidos - a repetição tende a normalizar o absurdo
-, esta semana não está a ser como as outras. Trump partilhou
informação confidencial sobre planos do Daesh com o MNE e o embaixador
russos?! Fontes na Casa Branca e nos serviços de informações dizem que
sim. Trump pediu a James Comey, então diretor do FBI, que deixasse cair a
investigação ao ex-conselheiro da Casa Branca Michael Flynn, sob
investigação por alegadas ligações à Rússia?! As notas que Comey tirou
depois da reunião com o presidente confirmam. Trump ameaçou Comey, que
tinha acabado de demitir do FBI?! Sim, ficou escrito num tweet. Vladimir
Putin saiu em defesa de Trump dizendo que só se poderá avaliar a sua
presidência quando o deixarem trabalhar em pleno?! Sim. E o mesmo Putin
disponibilizou-se a revelar os registos da reunião do seu MNE e
embaixador na Casa Branca para ajudar Trump?! Sim, aconteceu mesmo. Não é
o guião de uma comédia ou de um episódio de House of Cards.
Na
madrugada de ontem, fontes da Casa Branca descreviam um cenário de caos
absoluto, o presidente aos gritos na Sala Oval e a retirar-se cedo para
a ala leste, para o quarto, deixando assessores e conselheiros com mais
uma bomba para gerir. Aliás, há um sinal claro de que algo mudou nos
últimos dias. As noites de CNN, CBS, MSNBC e Fox News ficaram desertas
dos habituais defensores de Trump. Quase ninguém, do exército de fiéis
republicanos, compareceu à chamada.
A
palavra impeachment - destituição - entrou ontem no jogo. Não será para
já. A maioria dos republicanos é sólida e, apesar dos sobressaltos dos
últimos dias, o mais longe que algumas vozes conseguiram ir foi até um
pedido de um procurador especial e de uma comissão de inquérito para
investigar tudo o que se passou nos últimos meses. Outro pormenor que
parece de comédia? Responsáveis da administração, próximos de Trump,
dizem que um dos argumentos contra um eventual processo de destituição
será a inépcia e a ignorância do presidente. Ele não entende bem o que
anda a fazer, logo, o que quer que tenha feito, não fez por mal. Ainda
assim, e a comprovar-se o pedido a James Comey - um claro caso de
obstrução à justiça -, Trump poderá seguir as pisadas de Andrew Johnson,
que em 1868 foi o primeiro Presidente a enfrentar um processo de
destituição. Seja qual for o desfecho, há uma certeza. A América nunca
esteve tão dividida e um processo de destituição vai cavar um fosso
doloroso entre americanos.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
18/05/17
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