As marcas “tu cá, tu lá”
Há uma coisa que não gosto e não é só online: as marcas que me tratam por tu. Sobretudo as marcas que vendem para todo o tipo de público.
Acabei de fazer uma compra online. Compro quase tudo online e
agradeço a inovação. Para uma pessoa como eu, mãe, gestora das compras
da casa, que gosta de saber as novidades das marcas e que não é grande
apreciadora de centros comerciais foi, sem dúvida, a melhor invenção de
sempre.
Hoje em dia, melhor ou pior, as marcas percebem bem o benefício
desta realidade. Umas investem mais, outras menos, uns sites são do mais
intuitivo que há, outros nem por isso, uns mais bonitos outros nem
tanto. Existe de tudo e para todos os gostos. Uns têm um pós-venda
excelente, outros ainda um longo caminho a percorrer. Mas, na verdade,
comprar online é, na minha opinião e experiência, muito mais fácil e
intuitivo – não nos perdemos no que não é essencial e chega tudo a casa
em condições, bonito e cheiroso. Muito mais bonito do que quando vamos
carregados de compras para o carro, e do carro para casa. Por acaso, fiz
hoje uma compra online, numa marca onde nunca tinha feito, e correu
tudo bem, até ao momento em que recebi o recibo de compra.
Há uma coisa de que não gosto e não é só online: as marcas que me
tratam por tu. Bem sei que esta é uma discussão antiga nas marcas em
geral, e nas portuguesas em particular, e que tem tanto de básico como
de discutível, o que já fez algumas marcas a adotar o estilo e voltar
atrás.
Pessoalmente, não gosto. Admito. E não se pense que é uma questão de
educação familiar. Não fui educada a tratar os meus pais por você, nem
trato dessa forma o meu filho ou o meu marido. Mas é uma questão de
educação, sim. A mim educaram-me a tratar as pessoas que não conheço
bem, que não são de um núcleo familiar ou de amigos próximo, por você.
Portanto, agradeço e aprecio que façam o mesmo em relação a mim.
Sobretudo as marcas que vendem para todo o tipo de público. Até
posso compreender que uma marca completamente segmentada numa faixa
etária “mais jovem” – leia-se adolescentes e pessoas em início da vida
adulta – o faça. Mas, no caso de uma marca que vende para todas as
faixas etárias, não percebo. Muito sinceramente nem sei o que soa pior,
se o “tu cá, tu lá” por escrito ou falado. Talvez o pior mesmo é quando
na mesma marca existe um site onde se trata o cliente por tu, que depois
vai à loja e o tratam por você. Até porque, regra geral, é o que
acontece.
E não precisamos de citar casos extremos, porque também existem
marcas, normalmente as que pertencem a um segmento de mercado mais
conservador, que dão a escolher a forma de tratamento ao cliente, com ou
sem Dr. ou Dra., com ou sem Exmo. Senhor ou Senhora…
Bem sei que existem muitas marcas internacionais que tratam os
seus clientes por tu e corre bem, e muitas portuguesas foram, e ainda
vão, na tentativa de conseguir o mesmo, mas a língua portuguesa é
traiçoeira e não é igual ao inglês. Por mim, mantinha-me fiel à boa
educação. Nunca ficou mal a ninguém.
* Consultora
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
13/05/17
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