20/05/2017

EDUARDA CARVALHO

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As marcas “tu cá, tu lá”

Há uma coisa que não gosto e não é só online: as marcas que me tratam por tu. Sobretudo as marcas que vendem para todo o tipo de público.

Acabei de fazer uma compra online. Compro quase tudo online e agradeço a inovação. Para uma pessoa como eu, mãe, gestora das compras da casa, que gosta de saber as novidades das marcas  e que não é grande apreciadora de centros comerciais foi, sem dúvida, a melhor invenção de sempre.

Hoje em dia, melhor ou pior, as marcas percebem bem o benefício desta realidade. Umas investem mais, outras menos, uns sites são do mais intuitivo que há, outros nem por isso, uns mais bonitos outros nem tanto. Existe de tudo e para todos os gostos. Uns têm um pós-venda excelente, outros ainda um longo caminho a percorrer. Mas, na verdade, comprar online é, na minha opinião e experiência, muito mais fácil e intuitivo – não nos perdemos no que não é essencial e chega tudo a casa em condições, bonito e cheiroso. Muito mais bonito do que quando vamos carregados de compras para o carro, e do carro para casa. Por acaso, fiz hoje uma compra online, numa marca onde nunca tinha feito, e correu tudo bem, até ao momento em que recebi o recibo de compra.

Há uma coisa de que não gosto e não é só online: as marcas que me tratam por tu. Bem sei que esta é uma discussão antiga nas marcas em geral, e nas portuguesas em particular, e que tem tanto de básico como de discutível, o que já fez algumas marcas a adotar o estilo e voltar atrás.

Pessoalmente, não gosto. Admito. E não se pense que é uma questão de educação familiar. Não fui educada a tratar os meus pais por você, nem trato dessa forma o meu filho ou o meu marido. Mas é uma questão de educação, sim. A mim educaram-me a tratar as pessoas que não conheço bem, que não são de um núcleo familiar ou de amigos próximo, por você. Portanto, agradeço e aprecio que façam o mesmo em relação a mim.

Sobretudo as marcas que vendem para todo o tipo de público. Até posso compreender que uma marca completamente segmentada numa faixa etária “mais jovem” – leia-se adolescentes e pessoas em início da vida adulta – o faça. Mas, no caso de uma marca que vende para todas as faixas etárias, não percebo. Muito sinceramente nem sei o que soa pior, se o “tu cá, tu lá” por escrito ou falado. Talvez o pior mesmo é quando na mesma marca existe um site onde se trata o cliente por tu, que depois vai à loja e o tratam por você. Até porque, regra geral, é o que acontece.

E não precisamos de citar casos extremos, porque também existem marcas, normalmente as que pertencem a um segmento de mercado mais conservador, que dão a escolher a forma de tratamento ao cliente, com ou sem Dr. ou Dra., com ou sem Exmo. Senhor ou Senhora…

Bem sei que existem muitas marcas internacionais que tratam os seus clientes por tu e corre bem, e muitas portuguesas foram, e ainda vão, na tentativa de conseguir o mesmo, mas a língua portuguesa é traiçoeira e não é igual ao inglês. Por mim, mantinha-me fiel à boa educação. Nunca ficou mal a ninguém.

* Consultora

IN "O JORNAL ECONÓMICO"
13/05/17

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