08/03/2017

GUSTAVO PIRES

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Pierre de Coubertin e a 
Competição Desportiva 
entre as Mulheres

A pergunta é a seguinte: Era Pierre de Coubertin um misógino? Proveniente da língua grega a palavra é composta por “miseó” que significa ódio e “gyné” que significa mulher. Quer dizer, a palavra misoginia expressa o ódio, o desprezo ou a aversão às mulheres ou, se quisermos, numa perspetiva mais dura, a “repulsão patológica pelas relações sexuais com mulheres”. Ora, afirmar que Coubertin era um misógino parece-nos uma perspetiva profundamente errada quando se sabe que ele, em 1901, contra a cultura do tempo, já apelava “à urgência de certas reformas relativas aos direitos das mulheres”. Contudo, como refere Ana Miragaya, uma investigadora brasileira com um doutoramento cujo objeto foi a inclusão das mulheres nos Jogos Olímpicos, também não podemos ignorar que, desde a origem do Movimento Olímpico moderno, é possível notar que Coubertin “não estava de todo interessado em discutir a participação das mulheres no desporto”. Porquê?

Na antiguidade grega as mulheres eram proibidas de entrar no estádio para assistirem aos Jogos Olímpicos. A regra era aplicada às mães e às mulheres dos concorrentes mas, surpreendentemente, não às meninas jovens e virgens que podiam assistir aos jogos. Qualquer mulher que infringisse a lei era condenada a ser atirada dos penhascos do monte Typaion. Contudo, aconteceu uma exceção. Kallipateira pertencia a uma família de campeões olímpicos. Quando o marido morreu, foi ela quem passou a treinar o filho Peisirodos para que ele pudesse participar nos Jogos Olímpicos. E, para o acompanhar durante os Jogos, kallipateira disfarçou-se de treinador. Mas, para seu azar, quando Peisirodos venceu a competição, no êxtase da alegria, Kalipatteira desnudou parte do corpo acabando por revelar a sua condição de mulher. Todavia, apesar de ter desrespeitado a lei pouparam-lhe a vida em reconhecimento dos feitos desportivos da sua família. A partir de então, foi determinado que os treinadores, tal como os atletas, deveriam participar nos Jogos Olímpicos completamente nus a fim impedir as mulheres de entrarem nos estádios disfarçadas de homens.

Quer dizer que, a velha cultura olímpica organizava-se à volta de competições entre homens pelo que as mulheres estavam completamente afastadas dos estádios. Porquê? Porque a competição desportiva, que era um sucedâneo da arte da guerra para o tempo de paz, naturalmente, excluía as mulheres. Quer dizer, tal como as mulheres não entravam na guerra também não entravam no estádio. Esta linha de pensamento segue na esteira de Yves Pierre Boulongne que refere que, na Grécia antiga, sendo o desporto animalesco, brutal e aguerrido, estava reservado aos homens. E era através dele que se cultivavam os rituais de iniciação e passagem que permitiam a ascensão da condição de rapaz à de homem e à de guerreiro. Em consequência, o desporto, tal como a guerra, ao exigir excesso obrigava ao sacrifício ainda que simbólico o que conduzia a uma cultura de defesa e proteção das mulheres. Nestas circunstâncias, as mulheres estavam, natural e automaticamente, excluídas. Contudo, na Grécia antiga, conforme relata Pausanias, as mulheres também tiveram os seus Jogos. Eram os Jogos de Hera constituídos somente por competições de corrida que se realizavam durante o Festival dedicado a Zeus, intimamente ligado à fertilidade, ao casamento e à maternidade.

Portanto, foi com este espírito que Coubertin, enquanto helenista de alto gabarito, em 1894, desencadeou a fundação do Comité Olímpico Internacional (COI) e a institucionalização dos Jogos Olímpicos da era moderna. Contudo, ele, conforme se pode verificar num texto datado de 1901 intitulado L`éducation des Femmes”, tinha uma visão progressista dos direitos das mulheres no quadro da sua condição biossocial. Para além de criticar o Código Civil francês que atribuía aos homens a tutela perpétua sobre as mulheres, Coubertin defendia que as leis deviam proteger a mulher a fim de que ela pudesse escapar à “tirania marital”.

Muito embora a história da inclusão das mulheres no desporto seja, por diversos autores, caracterizada como sendo “uma história de poder e dominação masculina sobre as mulheres”, bem como “uma história de desigualdades onde as mulheres sempre tiveram papéis de submissão” o que é facto é que, como refere a Ana Miragaya, ao tempo de Coubertin, “ninguém pensava que as mulheres estivessem sequer interessadas em participar nos Jogos Olímpicos”. Por isso, quando, atualmente, se fazem apreciações acerca da misoginia de Coubertin quanto ao acesso das mulheres ao desporto, de uma maneira geral, as referidas apreciações são desprovidas de sentido na medida em que são produzidas de acordo com a cultura de finais do século XX, não tendo em atenção, não só o ambiente cultural de finais do século XIX, princípios do século XX, bem como as enormes dificuldades, sociais, económicas e políticas, que se levantavam à organização dos Jogos Olímpicos.

Assim, as posições de Coubertin em matéria de política, de educação e de desporto, devem ser, como diria Ortega y Gasset, analisadas de acordo com as suas circunstâncias. Quer dizer, Coubertin estava avançado relativamente à cultura do seu tempo, contudo, não tanto quanto a cultura dos tempos atuais a partir da qual os seus detratores, relativamente a uma pretensa misoginia, o pretendem julgar.

Na realidade, Coubertin, em diversos escritos, manifestou reservas relativamente à participação das mulheres nos Jogos Olímpicos. Contudo, não o fez relativamente ao direito à prática desportiva o que significa uma grande diferença. Quer dizer, ao contrário daquilo que, geralmente, se afirma, ele não era contra a prática desportiva das mulheres, era, simplesmente, contra a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos ou em quaisquer outros espetáculos desportivos. Porquê?

o ponto de vista histórico, para Coubertin, a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, numa competição partilhada entre homens e mulheres, estava fora de causa na medida em que os Jogos significavam “a exaltação periódica do atletismo masculino tendo por base o internacionalismo como política, a lealdade como meio, a arte como enquadramento e o aplauso feminino como recompensa. Num texto intitulado “Les Femmes aux Jeux Olympiques” datado de 1912 Coubertin perguntava: “Pode-se consentir às mulheres o acesso a todas as provas desportivas?”. Ele colocava a questão na medida em que, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo (1912), uma mulher havia sido impedida de competir no Pentatlo Moderno sob o pretexto manifestado pelo Comité Organizador dos Jogos Olímpicos (COJO) de falta de regulamentação específica que enquadrasse tal pretensão.

Perante esta recusa Coubertin voltava a perguntar: “então porque é que se permite às mulheres participarem em determinadas provas e não noutras? Sobre que base poderá ser estabelecida uma fronteira entre competições em que se permite a participação das mulheres e outras em que não se permite? E, sob o princípio do dogma da “igualdade dos sexos” Coubertin interrogava se “a participação das mulheres obrigava à organização de competições separadas” o que dá para entender o padrão de dificuldades conceptuais, que hoje nos parecem claras, relativas à organização dos Jogos Olímpicos no que diz respeito à participação das mulheres. Em consequência, Coubertin entendia não haver qualquer interesse em organizar Jogos Olímpicos exclusivamente para as mulheres argumentando que, para além de serem “impraticáveis” eram “desinteressantes, inestéticos (…) e incorretos”. E reafirmava que essa não era a sua conceção de Jogos Olímpicos em que se procurava a realização da fórmula: “a exaltação solene e periódica do atletismo masculino tendo: Por base o internacionalismo; Por meio a lealdade; Por enquadramento a arte e; Por recompensa o aplauso feminino”.

Podemos não estar, minimamente, de acordo com esta perspetiva tendo em atenção a cultura dos nossos tempos, contudo, as posições de Coubertin devem ser tidas em conta a partir da cultura e dos hábitos do seu próprio tempo. Imediatamente depois da Grande Guerra (1914-1918) na Sessão do COI realizada em Anvers entre 17 e 24 de Agosto de 1920 a situação da participação das mulheres continuava muito confusa. Então o francês Justinien Clary voltou a colocar em cima da mesa a questão dando origem ao surgimento de mais confusões. Clary era de opinião de que o Programa Olímpico devia ser simplificado, todavia, perguntava se tal desiderato devia ser conseguido à custa da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos. E argumentava: “São as mulheres que fazem uma raça forte e existem muitos desportos em que as mulheres podem lutar com os homens (natação, remo). Na realidade, ao tempo já havia mulheres que treinavam tanto como os homens e conseguiam resultados extraordinários. No entanto, pô-las a competir de igual para igual com os homens revela bem o padrão de cultura competitiva que animava a generalidade dos membros do COI.

Entretanto, na 22ª Sessão do COI realizada em 1923 na cidade de Roma, foi manifestada preocupação relativamente aos “Jeux Feminin de Monte Carlo” também conhecidos por Jogos Olímpicos Femininos uma vez que os montenegrinos anunciaram a intenção de os organizar. Ora, relativamente tal preocupação, para além das questões relativas à prática desportiva das mulheres que, certamente, era o que menos interessava aos membros do COI, foi entendido que se levantavam dois problemas fundamentais:Ora, tal projeto levantava duas questões fundamentais: Em primeiro lugar, a possibilidade de uma cisão no COI; Em segundo lugar, a utilização abusiva da expressão Jogos Olímpicos que o COI procurava, em regime de exclusividade, proteger à escala mundial. Entretanto, na 23ª Sessão do COI realizada em Paris, em 1924 a Comissão Executiva aproveitou para esclarecer a posição sobre a participação das mulheres: “As mulheres são admitidas a certas provas dos Jogos Olímpicos. O Programa mencionará as provas em que elas podem disputar”. Em consequência, sob o pretexto que era necessário aligeirar o Programa Olímpico que estava muito pesado foi decidido não alargar mais o Programa feminino pelo que, sob proposta do francês Justinien Clary “foi mantido o estado de coisas” não se aceitando a inclusão da prova feminina de esgrima.

Para Coubertin, uma coisa era a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos e outra o acesso das mulheres à prática desportiva. Ele dizia que se as mulheres quisessem praticar desporto, pois que o fizessem. Imediatamente após os Jogos da XIX Olimpíada, (Amesterdão,1928) onde, pela primeira vez, o atletismo feminino fez parte do Programa dos Jogos, até disse: “… as mulheres são livres de jogar futebol ou boxe desde que tal se passe sem espectadores, pois os espectadores que se juntam à volta de tais competições não estão lá para verem praticar desporto”. Ora bem, esta é a questão central da posição de Coubertin relativamente à prática desportiva das mulheres. Ele não estava contra as mulheres praticarem desporto, pretendia, tão só defender as mulheres de uma cultura que, de uma maneira geral, as desconsiderava uma vez que os espetadores das competições desportivas entre mulheres não estavam lá para apreciarem o desporto mas para apreciarem as mulheres o que, para ele, era inaceitável. Quer dizer, Coubertin receava que os Jogos Olímpicos se transformassem num espetáculo grutesco em que multidões de homens esgazeados davam vazão aos seus instintos libidinosos.

Entretanto, em consequência dos Jogos Olímpicos de Amesterdão (1928) o processo de inclusão das mulheres nos Jogos Olímpicos radicalizou-se. O COI e a Federação Internacional de Atletismo Amador (IAAF) concordaram com a organização de cinco eventos destinados à competição feminina: Salto em comprimento; Lançamento do disco; corrida de 100 metro; corrida de 4x100 metros; os 800 metros. Contudo, a situação não era fácil na medida em que se estava perante um choque de culturas. Em consequência, a British Women’s Athletics, em protesto por o Programa Olímpico só prever dez eventos femininos incluindo os cinco eventos de atletismo, recusou-se a participar nos Jogos. Como refere Cecile Houry foi a primeira e a única vez que mulheres boicotaram os Jogos Olímpicos. Depois, a final dos 800m foi dramática na medida em que algumas atletas concluíram a prova completamente exaustas o que deixou os espetadores em estado de choque situação que, naturalmente, foi aproveitada pela comunicação social. O “The New York Times” na edição de 3 de Agosto de 1928 relatou que, no final da prova, de seis a nove atletas estavam completamente exaustas ao ponto de ficarem estendidas no chão. Várias tiveram de ser transportadas em macas. A japonesa que ficou em segundo lugar recebeu assistência médica na pista e a americana Florence MacDonald esteve desmaiada durante vários minutos.

Em consequência, a organização “The National Amateur Athletic Federation of the United States”, que sempre foi contra a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, aproveitou-se da situação para reforçar a sua posição contra a existência de qualquer evento desportivo para mulheres nos Jogos Olímpicos. E, no ano seguinte, em 1929, na 26ª Sessão do COI realizada em Lausana, os membros provenientes dos países do Norte da Europa manifestaram-se pela supressão absoluta de todas as provas femininas nos Jogos Olímpicos. Contudo, porque os dirigentes do COI estavam muito divididos, o sueco Sigfrid Edstörme propôs que a Comissão Executiva do COI elaborasse um relatório concernente à supressão da participação das mulheres nos Jogos Olímpicos. Em resultado, a corrida dos 800 metros femininos foi abolida e, em consequência, a corrida de 100 metros foi a única que ficou no Programa Olímpico feminino. A corrida dos 800 metros só regressou ao Programa Olímpico feminino em 1960 nos Jogos Olímpicos de Roma.

Apesar das dificuldades e contratempos, aqueles que defendiam a abertura total dos Jogos Olímpicos às mulheres não desistiram pelo que, como Coubertin relatou num artigo intitulado “La bataille Continue...” publicado no Bulletin du Bureau International de Pédagogie Sportive, na Sessão do COI realizada em Barcelona realizada em Abril de 1931, “o COI capitulou perante os ditames daqueles que desejavam abrir as portas dos Jogos às mulheres”. O que aconteceu, conforme se pode ler na ata da Sessão do COI realizada em de Barcelona (1931) foi que P.J. de Matheu, membro do COI para a América Central, apresentou um relatório em defesa da participação das mulheres nos Jogos da X Olimpíada que se realizariam em Los Angeles em 1932. Assim, foram admitidos os seguintes desportos: patinagem, ginástica e natação (por unanimidade). Atletismo (em dezasseis votos três foram contra) e esgrima (em dezassete votos dois foram contra). Tratou-se, de facto, de uma derrota para Coubertin. Mas note-se que a derrota não foi relativa à prática desportiva das mulheres mas à participação das mulheres em espetáculos desportivos.

Outro aspeto a considerar relativamente à posição de Coubertin quando à participação das mulheres nos Jogos Olímpicos tem a ver com a questão religiosa. Ele seguia a linha de pensamento da Igreja que, embora não se opusesse à prática desportiva da mulher, todavia, opunha-se a que essa prática fosse realizada em espetáculos desportivos. Em 1930, o Papa Pio XI recomendava aos pais e encarregados de educação que “proibissem as suas filhas de participarem em exercícios públicos e concursos ginásticos e, se fossem forçadas a tal participação, velassem por que elas trajassem de modo que respeitasse a decência, e jamais tolerassem trajes imorais”. A “emergência da rapariga masculinizada” ia contra a cultura da época e perturbava o pensamento da Igreja. Para além do mais, tanto Pio XI como, depois, Pio XII temiam aquilo que viria a acontecer em vários países do mundo em que o desporto passou a ser um instrumento ao serviço do Estado e não das pessoas o que colocava as mulheres numa situação ainda mais difícil. Neste sentido, numa carta datada de 2 de Maio de 1928, enviada ao Cardeal Vigário de Roma, Pio XI expressou a sua desaprovação relativamente às competições para mulheres que iam acontecer nas modalidades de ginástica e atletismo. E disse: “os meios empregues para dar saúde ao corpo, o nobre instrumento da alma, devem ter em conta a conveniência do tempo e do lugar. Não devem nem excitar a vaidade nem promover a imodéstia. Não devem diminuir a "reserva e o domínio próprio de uma jovem que são tanto o ornamento como a garantia da virtude".

Coubertin era um apóstolo da euritmia, que dizer, do equilíbrio dinâmico entre os opostos. Foi, fundamentalmente, por essa sua capacidade que, hoje, podemos denominar de “soft power” que ele, no meio das mais complexas disputas conseguiu conduzir o Movimento Olímpico a bom porto. Por isso, como refere Ana Miragaya (2002) Coubertin só tomou verdadeiramente uma posição relativamente às mulheres depois de receber o apoio do Papa Pio XI…”. Contudo, devido ao estilo “soft power” da liderança de Coubertin, somos de opinião de que a sua posição foi mais de não ir contra a opinião do Papa do que a favor da opinião do Papa. Coubertin sempre foi um jogador que procurou manter equilíbrios em função dos interesses do Movimento Olímpico. A última coisa que Coubertin desejava era arranjar um conflito entre a Igreja Católica Apostólica Romana e o Movimento Olímpico. Desde logo porque era visível que a sociedade já estava a mudar pelo que um número cada vez maior de mulheres não hesitava em entrar nos domínios até então reservados aos homens.

Portanto, estava-se perante um problema que o tempo havia de resolver sem prejuízos para o Movimento Olímpico. Por isso, o problema de Coubertin não era as mulheres praticarem desporto, o problema era que elas o praticassem com dignidade sem serem sujeitas ao desrespeito que podia acontecer em espetáculos desportivos para os quais a sociedade ainda não estava preparada e ele não via meio de, num futuro próximo, poder vir a estar. E tinha razão na medida em que não são poucos os exemplos de atletas de elite do género feminino que, ao longo dos últimos mais de cento e vinte anos do Movimento Olímpico, têm sido exploradas pelos seus agentes, pelos seus treinadores, pelos seus companheiros, por políticos de fraca categoria e, até, por hordas de espetadores mal formados.

Já no final da sua vida, num discurso proferido em 1934, portanto, três anos antes da sua morte, Coubertin voltou a afirmar que continuava a pensar que o atletismo feminino devia ser excluído do Programa Olímpico e concluiu dizendo que os Jogos Olímpicos foram restabelecidos para glorificação do homem adulto individualizado. Ele continuava preocupado em não permitir que a prática desportiva das mulheres se transformasse num espetáculo obsceno para gaudio de alguns “voyeurs” que reduziam as mulheres a meros objetos dos seus instintos mais primários e dos seus prazeres mais animalescos.

Quando hoje se acusa Coubertin de ter sido um misógino, geralmente, esquecem-se os relatos de atletas que, em tempos bem recentes, foram abusadas das mais diversas maneiras e pelos mais diversos protagonistas o que prova que o combate pelo digno acesso das mulheres ao desporto ainda não está concluído. É nestes termos que deve ser avaliada a posição de Coubertin relativamente não à prática desportiva das mulheres que ele aceitava mas à participação das mulheres em espetáculos desportivos como os Jogos Olímpicos que as podia degradar na sua condição feminina, aliás como ele concluiu nos Jogos de Amesterdão (1928).

Assim sendo, Coubertin não deve ser “julgado” de acordo com uma cultura que não era a do seu tempo. Por isso, concluímos, afirmando que Pierre de Coubertin não era um misógino. Ele era, tão-somente, de acordo com a cultura da época, um defensor do respeito devido às mulheres, à sua dignidade e aos seus direitos. Afirmar o contrário, parece-nos um equívoco que não traduz a realidade de um tempo que a maioria de nós nem sequer viveu.

Professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana

IN "A BOLA"
07/03/17

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