Teodora não vás ao sonoro
Não voltámos ainda ao tempo do cinema mudo. Mas os filmes voltaram a ser a preto e branco. A diversidade não é aceite, a dúvida é mal compreendida, a discordância é rejeitada.
A hostilidade entre os diferentes atores políticos é patente. O
recente debate parlamentar entre António Costa e Passos Coelho tornou
isso ainda mais evidente.
Com os atuais protagonistas será
impossível prosseguir um caminho de reformas estruturais
consensualizadas em matérias como as funções e dimensão do Estado, o
investimento público, a Segurança Social, a saúde ou a educação.
A
agressividade no discurso acentuou-se e o tom está a tornar-se
desagradável. Hoje só há duas posições possíveis no quadro político
português - ou estão comigo (leia-se o Governo) ou estão contra mim.
Como se isto não bastasse, qualquer entidade ou personalidade que se
lembre de desconfiar do sucesso de um programa ou de uma medida em
concreto é imediatamente atacada como se tivesse praticado um crime
contra o Estado. Só a versão oficial é aceitável.
Teodora
Cardoso, respeitada economista que preside ao Conselho de Finanças
Públicas, cometeu a imprudência de se pronunciar sobre os riscos da
economia portuguesa e, perante a indignação da esquerda mais sensível,
logo surgiu o Presidente da República a disparar um tiro de morteiro
contra a ilustre senhora. Tudo o que desvie o foco presidencial colocado
no crescimento económico e na estabilidade do sistema financeiro está
condenado a morrer à nascença.
António Costa e Marcelo
Rebelo de Sousa lideram neste momento um bloco de pensamento arrogante e
nada complacente com quem pensa diferente. Tal como nos anos 30, podiam
ter feito como Corina Freire e cantado - "Teodora não vás ao
sonoro/Teodora não sejas ruim/Teodora repara que eu choro/Se fores ao
sonoro não gostas de mim/Teodora não vás ao sonoro/Teodora não vás mas
eu vou/Porque adoro na vida o sonoro /E há-de ser Teodora, quem chorar,
chorou".
Jurista
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
09/03/17
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