Uma porta aberta para o Canadá
O Parlamento Europeu (PE) aprovou no dia 15 de fevereiro o
“Acordo económico e comercial global” (CETA) entre a União Europeia (UE)
e o Canadá. O CETA prevê uma redução das taxas aduaneiras para um
grande número de produtos e uniformiza normas de forma a favorecer o
intercâmbio entre a UE e o Canadá. Uma alteração das regras que muda
profundamente as relações comerciais e reforça as relações políticas
entre estes dois grandes blocos económicos.
Este é mais do que um simples acordo comercial com o objetivo da
remoção de barreiras alfandegárias entre as partes envolvidas, este
acordo é uma afirmação por parte destas duas entidades políticas de uma
linha política multilateral, global, que se demarca da tendência
protecionista do Reino Unido e dos Estados Unidos da América (EUA). Este
acordo contém uma mensagem política forte que não é alheia à atualidade
política internacional e que se contrapõe a esta crescente tendência
protecionista, antiglobalização, na vertente cultural, política e
económica.
A partir do mês abril deste ano está previsto o acordo entrar em
vigor, no entanto a aprovação a nível do PE não basta para colocar o
CETA em pleno funcionamento, este terá de ser aprovado por 38
parlamentos nacionais e regionais representados na União. Uma barreira
que por um lado aprofunda a democracia da União, mas por outro
compromete a eficácia do processo, que pode levar anos e resultar em
discrepâncias entre Estados, sacrificando a coerência política e
económica no espaço da União e nas relações comerciais com o Canadá.
Estima-se que o CETA represente um impulso de 12.700 milhões de euros
anuais para a economia da UE. Segundo o Governo português o acordo
poderá trazer uma poupança no valor de 500 milhões de euros por ano em
impostos. No entanto a avaliação do impacto do acordo não se pode
limitar a números. Ao longo dos 5 anos de negociações do CETA os
sindicatos e grupos de protesto têm vindo a alertar para os riscos de um
acordo desta natureza. Apontam o perigo da diminuição dos padrões das
leis laborais e ambientais e o risco do interesse das multinacionais se
sobreporem às legislações nacionais e ao interesse dos cidadãos
canadianos e europeus.
O CETA prevê a redução das tarifas alfandegárias em 99% dos produtos
transacionados, com benefícios de grande impacto económico. No que se
refere a produtos que sejam relevantes para a economia dos Açores, as
taxas serão substancialmente reduzidas em 90% dos produtos agrícolas,
com grandes vantagens para o queijo e os produtos alcoólicos, como
licores e vinhos, que vão deixar de ser sujeitos a pagar tarifas.
Segundo dados da Comissão Europeia, de junho de 2014, os produtos
alcoólicos constituem 36% das exportações da UE para o Canadá. Um valor
significativo que não deve ser alheio à economia regional que produz
cada vez mais licores e vinhos de grande qualidade que podem ser uma
mais-valia para a economia dos Açores. Sem falar nas oportunidades à
exportação dos queijos regionais. Por outro lado o Canadá poderá
exportar para a UE até 50 mil toneladas de carne de vaca, o que poderá
constituir um ponto menos positivo para os Açores. A economia terá cada
vez mais de apostar na diferenciação, pela qualidade e especificidade
dos produtos açorianos.
Abrem-se oportunidades comerciais que requerem um posicionamento
estratégico que potencie as mais-valias que daí podemos retirar. Temos
desde logo a vantagem de uma relação privilegiada com o Canadá, pela
diáspora açoriana, que devemos tirar partido. É importante acompanhar a
situação desde logo e implementar programas específicos que permitam aos
empresários e investidores beneficiarem desta nova realidade, com mais
formação, informação e apoios específicos no quadro do CETA.
Ao que tudo indica não teremos tão cedo avanços no acordo comercial
UE-Estados Unidos, com o congelamento das negociações, temos por isso de
investir no CETA. Este novo quadro político-comercial requer que se
envide esforços no sentido de reforçar as relações com a diáspora (a
nível económico e político acima de tudo) que coloque a região na
dianteira das relações com o Canadá, a nível nacional, por um mundo mais
aberto e mais interligado, sem perder de vista a salvaguarda do
interesse dos açorianos dos dois lados do Atlântico.
* Lina F. Marques da Silveira é formada em Estudos Europeus e Política
Internacional, com mestrado em Política Internacional do Centre Européen
de Recherches Internationales et Stratégiques (CERIS) em Bruxelas.
Conta no currículo com organizações como o Parlamento Europeu, a
Bensaude SA. e a European Market Research Center (EMRC). A experiência
profissional internacional proporcionou oportunidades de trabalhar na
Guiné-Bissau, Uganda, Angola, Suíça, Holanda, Israel, entre outros.
Fundadora da plataforma de serviços PIC – Progress Inovation and Change (www.piccoaching.com), onde para além de serviços de Coaching oferece também serviços como consultora em projetos europeus, assim como de relações públicas e comunicação empresarial.
Fundadora da plataforma de serviços PIC – Progress Inovation and Change (www.piccoaching.com), onde para além de serviços de Coaching oferece também serviços como consultora em projetos europeus, assim como de relações públicas e comunicação empresarial.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
27/02/17
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