Se o futuro (do trabalho)
pertence aos robôs,
o que vão fazer os nossos filhos?
Estamos na iminência de enfrentar um desafio que, não sendo novo,
está a tomar proporções novas. Os robôs e a inteligência artificial
estão aí para ficar. E as pessoas?
Os armazéns da Amazon “empregam” hoje 45.000 robôs, o triplo dos
15.000 que a empresa tinha em 2014, após a aquisição da empresa robótica
Kiva Systems de Boston em 2012, que aumentou de forma decisiva o
enfoque na automação e revolucionou as suas operações. Recentemente a
Amazon abriu, no coração de Seattle, uma loja de conveniência sem caixas
registadoras e sem os respectivos funcionários. Na “Amazon Go”, os
clientes usam uma app que identifica os itens que estão no cesto das
compras, e quando o cliente sai da loja, a app faz a cobrança automática
e sem que o cliente perca tempo na caixa registadora. Entretanto foram
também já realizadas entregas ao domicílio através de “drones”.
Também A Foxconn, fornecedora da Apple e Samsung sedeada em Taiwan,
substituíram 60.000 funcionários por robôs em Maio de 2016, reduzindo a
força de trabalho de 110.000 para 50.000. A Foxconn tinha instalado até
Outubro de 2016 cerca de 40.000 robôs de produção em toda a China, com o
objectivo de reduzir o número de pessoas que emprega.
Esta tendência não é nova e durante décadas as empresas mais
avançadas têm substituído o trabalho humano por diferentes formas de
tecnologia. Nos EUA o número de agências de viagem caiu de cerca de 132
mil em 1990 para 74 mil em 2014 de acordo com o Bureau of Labor
Statistics.
Mas hoje uma explosão na tecnologia da robótica está a acelerar esta
mudança em que dezenas de milhões de empregos serão eventualmente
tomados por máquinas sejam eles robôs de produção ou “de condução” como
os carros autónomos que a Uber ou a Google (em parceria com Fiat
Chrysler) tem em fase de teste.
A McKinsey (2013) estima que, caso se mantenha o atual ritmo de
mudança tecnológica, as tecnologias de automação possam até 2025
substituir 110 a 140 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo
tarefas cada vez mais criativas e intelectuais. Também um relatório
recente da Forrester afirma que os robôs vão assumir mais de 6% dos
empregos nos EUA até 2021. Um outro estudo de dois investigadores da
Universidade de Oxford (Frey & Osborne 2013) analisou o impacto em
702 tipos de ocupação e conclui que até 2035, 47% dos nossos empregos
correm o risco de serem automatizados. Ou seja, quando a atual geração
de bebés chegar à idade adulta, quase metade dos empregos atuais terão
sido tomados por máquinas.
Mas, por outro lado, a tecnologia tem permitido criar novos tipos de
trabalho. Cerca de 1/3 dos novos empregos nos EUA, eram, de acordo com
um relatório recente da McKinsey (2016), inexistentes há 25 anos. Em
França, a Internet destruiu 500.000 postos de trabalho nos últimos 15
anos, mas, ao mesmo tempo, criou 1,2 milhões doutros empregos, uma
adição líquida de 700.000, ou 2,4 postos de trabalho criados para cada
trabalho destruído (de acordo com um estudo de 2011, também da
McKinsey).
O World Economic Forum estima que 65% das crianças que hoje entram
nas escolas, irão trabalhar em funções que atualmente não existem… Mas
será que a criação liquida de empresa vai ser suficiente? Uma das
observações recentes de uma mesa redonda sobre o futuro do trabalho
realizada na Brookings Institution é que metade das crianças que
nascerem em 2020, não vão nunca trabalhar!
Todos sabemos que o receio do desemprego tecnológico é tão antigo
como a própria tecnologia e que as previsões sobre futuro tendem a estar
erradas. Mas independentemente dos números serem estes ou outros,
parece que estamos na iminência de enfrentar um desafio que, não sendo
novo, está a tomar proporções novas. Os robôs e a inteligência
artificial estão aí para ficar… e as pessoas?
* Senior Associate Dean for Faculty and Research
IN "OBSERVADOR"
09/01/17
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