Os esquecidos do BPN
Depois da infeliz nacionalização, os
ativos "tóxicos" do BPN foram divididos por três entidades - Parups,
Parparticipadas e Parvalorem. A esta última se destinaria a maioria dos
ativos e trabalhadores rejeitados pelo comprador do BPN já limpo. A
operação foi decidida no Governo de Passos e merece a vossa atenção: o
Governo injetou 600 milhões no BPN e vendeu-o ao BIC por 40 milhões.
Para efetuar a compra, os acionistas do BIC (família Amorim e Isabel dos
Santos) pediram um empréstimo ao próprio banco. Depois, as duas
entidades fundiram-se, mas foi o BPN que absorveu o BIC para que os
novos donos pudessem deduzir fiscalmente as enormes perdas passadas do
BPN. E o crédito? Foi abatido usando parte dos 600 milhões que os
contribuintes tinham injetado no BPN antes da venda.
A
facilidade da engenharia financeira dos novos donos do BPN contrasta
com a lamentável forma como foram tratados os seus ex-trabalhadores. Os
que não foram escolhidos pelo BIC, passaram contra a sua vontade para a
Parvalorem. A transferência de posto de trabalho sem consentimento é
ilegal, como reconheceu já a Provedoria de Justiça, mas nada demoveu
Maria Luís Albuquerque, e o assunto arrasta-se agora nos tribunais.
Desde
2012 que a Parvalorem é gerida por Francisco Nogueira Leite, um antigo
colega de Passos na Tecnoforma. Desde então, já 55 trabalhadores foram
incluídos em dois despedimentos coletivos, e 13 rescindiram. Os que
saíram como os que ficaram relatam o clima de assédio, o medo perante a
permanente ameaça - sobretudo se pertencer ao sindicato ou à comissão de
trabalhadores -, falsas contas de compensação para tornar o
despedimento menos vantajoso do que a rescisão. Em suma, o abuso.
Alega
a Administração que o trabalho não chega, mas a verdade é que os
outsourcings não têm faltado. A contabilidade foi entregue à Gesbanha,
de Francisco Banha, que tinha trabalhado para a Tecnoforma. No final de
2013, a Parvalorem passou metade da sua carteira de ativos para dois
privados: Logicomer e Finangest/Intrum Justitia. O objetivo era mesmo
despedir rapidamente os trabalhadores da Parvalorem, apesar destes
fazerem o mesmo trabalho por menos. O negócio era tão bom que, em 2015, a
Intrum comprou a Logicomer por 11 milhões de euros.
A
Parvalorem é propriedade pública, e a forma como tem sido gerida
merecia uma auditoria. Pela mesma razão, os seus 168 trabalhadores
deveriam ser protegidos, e não expostos a uma lista infindável de
ilegalidades e abusos.
* DEPUTADA DO BE
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
20/12/16
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