A saia travada da geringonça
Uma saia justa é a peça de roupa mais desconfortável que existe. É bonita, mas não dá para grandes aventuras: os passos têm que ser curtos e o seu uso exige uma enorme concentração.
Nesta edição do SOL, a deputada comunista Rita Rato compara a aliança
que sustenta politicamente o Governo em funções a uma «saia justa», a
propósito da derrota que a esquerda apoiante do Governo teve esta semana
na concertação social. Costa preferiu desta vez dar a mão aos patrões,
que não pretende alienar, deixando a um canto os partidos que lhe
permitiram tornar-se primeiro-ministo, Bloco e PCP, e a central sindical
que lhe tem oferecido de bandeja a paz social que o próprio Governo
afirma ser uma das maiores conquistas do seu mandato.
Existiram já crises anteriores dentro da geringonça, e a primeira foi
logo no arranque do processo, quando foi preciso arranjar uma solução
para o Banif. O resgate do banco foi aprovado com os votos contra do
Bloco de Esquerda e do PCP e foi o PSD que permitiu que a proposta do
Governo avançasse.
O problema é que a opção do Governo em sede de concertação vai direta
ao coração da inesperada aliança que se juntou para pôr um Governo em
funções. Quando um dirigente do Bloco de Esquerda tão relevante como
Jorge Costa diz que «ao escolher a companhia da direita, Costa afasta a
base política que sustenta o Governo» não está a brincar. Como não está
quando afirma, segundo as suas contas, que «as medidas da Concertação
Social, assumidas ou previstas, podem corroer boa parte do efeito
redistributivo e de reposição de rendimentos acordado à esquerda». O que
Jorge Costa diz é que o acordo de Concertação Social ataca os
fundamentos da criação da geringonça. Não é pouco.
A segunda metade da legislatura vai ser mais difícil. O PCP e a CGTP
voltarão à rua. Com os acordos com a esquerda cumpridos, Costa vai olhar
para o centro. A coisa pode não partir, mas resta saber o que dizem as
sondagens.
IN "SOL"
26/12/16
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