A corrida de obstáculos
Que o presidente eleito Trump tenha recebido, como primeiro dirigente político europeu, Nigel Farage, o pai fundador do brexit, e Marine Le Pen esteja prestes a visitar o futuro inquilino da Casa Branca, é revelador de que o famoso "populismo" está a tomar consciência de si, e a estabelecer alianças para continuar a manter a capacidade de iniciativa política em ambos os lados do Atlântico.
Olhando para os próximos 10 meses, a Europa vai atravessar uma verdadeira corrida de obstáculos, onde as possibilidades de derrapagem são imensas. No dia 4 de dezembro, Norbert Hofer pode transformar-se no primeiro presidente de um partido neo-nazi a ser eleito na Europa, depois de 1945. Na Áustria, pois a história gosta de humilhar as suas vítimas. Nesse mesmo dia, a Itália entrará em crise governativa, se Renzi for derrotado no referendo constitucional. Já em março de 2017, o partido extremista de Geert Wilders (que também andou a colar cartazes na campanha de Trump) poderá ter um resultado surpreendente, conduzindo a um eventual referendo sobre a permanência da Holanda na UE.
Em abril e maio teremos a eleição presidencial francesa que poderá, por si só, apressar o crepúsculo europeu, caso Marine le Pen chegue ao Eliseu. Finalmente, em setembro, o único rival da chanceler Merkel será outra mulher, Frauke Petry, de um partido que ameaça fazer uma entrada em massa no Bundestag, o AfD (Alternativa para a Alemanha). Como alertou Jorge Sampaio, estamos claramente entre o abismo da desintegração, que arrastará consigo a prosperidade e a democracia, ou um avanço para uma integração política e económica que só poderá ser feita em torno da reforma do euro, a moeda que os europeus, apesar de todas as queixas, querem manter. Mas alguém acredita que exista coragem e lucidez, nas capitais europeias, para sair da paralisia e dar combate à barbárie?
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
17/11/16
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