Espelho meu, espelho meu,
há alguém mais velho do que eu?
Em alternativa, podíamos lá por
uma fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa, a melhor prova de que a idade
não é empecilho para nada. Aos 68 anos, corre de um lado para o outro,
tão imparável como o coelho da Duracell.
Uma destas manhãs tive uma ideia: a partir dos cinquenta anos, vá lá
sessenta, devíamos substituir o espelho da casa de banho por um quadro
com uma fotografia nossa, daquelas raras que nos retrata a essência num
dia em que, por acaso, também fomos ao cabeleireiro e aplicámos uns
pozinhos de maquilhagem - de preferência datada de há dez anos. E aí
passávamos a lavar os dentes tendo como reflexo não uma cara desgrenhada
e cheia de rugas, mas uma aproximação ao nosso Eu imaginário,
sorrindo-nos encorajadoramente.
Tenho a certeza de que
assim envelhecíamos com outra alegria, nesta versão doméstica do
"Retrato de Dorian Gray", com a vantagem de não precisarmos nem de
vender a alma ao diabo, nem de embarcar no botox, que tantas vezes
parece a mesma coisa.
Em
alternativa, podíamos lá por uma fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa,
a melhor prova de que a idade não é empecilho para nada. Aos 68 anos,
corre de um lado para o outro, tão imparável como o coelho da Duracell, e
se aparece no telejornal quatro vezes por dia é porque, de facto,
esteve em quatro sítios importantes nas últimas vinte e quatro horas. É
hábil, experiente, criativo, põe os neurónios ao serviço do país, e
funciona um bocadinho como o Pai Natal para as pessoas com quem se
cruza.
Num tempo em que endeusamos a juventude,
preparando-nos para arrumar as botas logo que nos deixem, e as empresas
trocam os profissionais mais velhos por mais novos, acreditando que
possuem o dinamismo que falta aos primeiros, o exemplo do Presidente da
República é vital.
Dizem as estatísticas portuguesas que
em 2015 apenas 11% da população com mais de 65 anos estava empregada, e
na faixa dos 55 aos 64 anos, não chega aos 50%, por vontade própria ou
porque foi rechaçada para o desemprego, e é provável que os outros se
queixem de estar arrumados em prateleiras, a fazer horas para a
aposentação, desistindo de si próprios, ou vendo os seus superiores
hierárquicos a desistir deles.
De uma forma ou de outra,
mais tarde ou mais cedo, todos eles a engrossar o grupo daqueles que se
definem como "reformados", como se de um dia para o outro tivessem
abandonado a sua identidade - advogados, empresários, professores ou
carpinteiros -, para se deixarem conglomerar numa massa anónima e
indiferenciada. Cada vez em maior número, e cada vez mais deprimidos e
medicados, em lugar de serem mais Marcelo, provando não só que são
brilhantes, como necessários, e sobretudo se podem divertir tanto como o
Presidente obviamente se diverte.
E se só um pode ser PR a
cada cinco, ou dez anos, e se as vagas para ocupar o lugar de Papa são
ainda mais escassas (embora o Vaticano seja a única "empresa" onde os
seniores vão sendo promovidos), o comum dos mortais pode lançar-se em
projetos bem mais aliciantes do que ficar no banco de jardim a jogar às
cartas, ou em casa a ver televisão. E a melhor notícia é que aqueles
que o fazem têm uma taxa de sucesso impressionante. Um estudo
norte-americano recente, que correlacionou a idade em que os empresários
lançaram uma start-up com o seu sucesso, concluiu que aqueles que
tinham na altura mais de 55 anos possuíam duas vezes mais probabilidades
de construir negócios fortes do que os menores de 35 anos.
Curiosamente, muitas dessas apostas não eram uma continuação da
profissão desempenhada até aí, mas a profissionalização de "hobbies" em
que descobriram potencial. Provavelmente tal como Marcelo...
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
28/11/16
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