19/11/2016

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ESTA SEMANA NO
  "OJE/JORNAL ECONÓMICO"
União Europeia substituirá austeridade por estímulos devido a Trump

Bruxelas encorajou os parceiros comunitários a aprovar medidas de estímulo de crescimento do PIB europeu, no valor de 50.000 milhões de euros.
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A vitória de Donald Trump, vista pela Europa como a vitória do populismo, está a levar a Comissão Europeia a mudar a agulha, e estudar substituir a austeridade por medidas de estimulo à economia.
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Mudança de austeridade da UE por estímulos após a vitória de Trump, é publicado hoje no “. O artigo diz que depois de anos de austeridade, a União Europeia prepara-se para consumar uma clara mudança para o campo das políticas expansionistas, com um duplo objetivo: para contrariar os potenciais efeitos negativos sobre o PIB do mais que provável protecionismo norte-americano; e para combater, com o investimento e, se possível redução de impostos, o avanço do populismo, que foi erguido na voz de uma classe média atingida pela crise e que está determinada em votar em políticos que são anti-sistema. Nesse sentido, Bruxelas encorajou os parceiros comunitário a adotar medidas de estímulo do PIB europeu no valor de 50 mil milhões de euros.
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Uma das primeiras medidas anunciadas pelo Trump, na campanha após a vitória do último dia 8, foi que vai estimular a economia interna dos EUA com uma injeção de 500 mil milhões de dólares para investir na área de infra-estruturas. Mais típica de um governante socialista do que de um líder de direita, ou mesmo de extrema-direita como apelidaram os media europeus. Essa medida terá um impacto directo no crescimento do PIB dos EUA.
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Esse impulso será acompanhado por uma clara aposta nos produtos made in América, o que irá melhorar a posição das empresas no país, mas terá um impacto significativo sobre as exportações do resto do mundo, especialmente os seus parceiros comerciais. E aqui está o problema: entre os principais estão o Reino Unido, mesmo na UE, França, Itália e Espanha.
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Não é de admirar, portanto, que o Vice-Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vitor Constâncio, tenha alertado que a recuperação na Europa vai continuar fraca  – o crescimento económico não vai chegar a 2% este ano ou nos dois próximos – e pode sofrer nova deterioração à mercê de “incertezas” como a política que irá realizar Trump e o seu possível impacto sobre os mercados emergentes.
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“Será necessário implementar medidas de estímulo e reformas destinadas a melhorar a competitividade na zona euro”, disse Constâncio num aviso claro à Comissão Europeia e aos países defensores de políticas de austeridade como a Alemanha, a Áustria, a Finlândia e a Holanda, entre outros. Não é nova a mensagem do BCE, que leva mais de um ano de avisos à necessidade de estimular a economia europeia em crise e aumentar os salários para promover o consumo e, em última análise, aumentar a inflação.
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O calendário mais populista
Por detrás da mudança de política das instituições europeias não estão apenas razões económicas, mas também políticas. Trump ganhou as eleições norte-americanas, apelando à classe média, a mais afectada pelos efeitos da crise económica. O mesmo tinha sido explicado para a vitória do Brexit no referendo britânico de 23 de junho.
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No seio da UE e entre os líderes das principais economias do continente europeu há grande preocupação que tenha sido acendido o pavio anti-sistema com a vitória de Trump. Pois a verdade é que nem a resposta social-democrata à crise, conduzida por Obama; nem a mais ortodoxa, praticado deste lado do Oceano Atlântico têm resultado. Os partidos UKIP, na Inglaterra, a Frente Nacional na França, a AFD na Alemanha; o Movimento 5 Estrelas na Itália, Sryza na Grécia e Podemos em Espanha têm registado um boom de eleitores que poucos acreditavam ser possível há um par de anos. Em Portugal poderia dar-se o exemplo do crescimento do Bloco de Esquerda, hoje um dos que sustentam a maioria parlamentar.
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Diz o El Economista que hoje, de fato, os governos de tom populista tomaram o poder na Grécia (o partido de esquerda Syriza) e na Hungria, onde o governa o ultranacionalista Viktor Orban.
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Este Dezembro, o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, joga a sua sobrevivência política num referendo à reforma constitucional. Se for aprovado, vai mudar a constituição italiana e reformar os poderes do parlamento de duas câmaras, com o senado a perder alguns dos seus poderes para a câmara de deputados, e tornando mais difícil a queda do governo.
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 Os apoiantes do referendo defendem que a mudança vai simplificar o processo democrático e a implementação de leis, assim como trazer estabilidade política, enquanto alguns dos seus críticos acreditam que o referendo vai criar um estado mais autoritário e uma maior concentração de poderes.
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E é o mês em que a direita radical pode tomar o poder nas eleições na Áustria à boleia da crise aberta pela onda de refugiados.
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No próximo ano, a França com Marine Le Pen líder nas sondagens, realiza eleições. E até mesmo a chanceler alemã, Angela Merkel, pode acabar perdendo o poder perante do surgimento da AFD e dos partidos mais à esquerda.
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Antes de consumar uma mudança tão radical, as autoridades europeias estão dispostos a tentar reconquistar o apoio da classe média num momento em que a taxa de desemprego na UE continua à beira dos 10 por cento e crescimento económico mal ultrapassa o 1,5%; mas em que o défice abaixo de 3 por cento e da dívida pública abaixo de 90 por cento, parecem estar controlados.
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O medo de um tsunami populista nas eleições do próximo ano na França, Alemanha e Holanda levou a Comissão Europeia a anunciar o fim da austeridade. A prová-lo está a disponibilidade para apoiar estímulos fiscais que cada vez mais vozes recomendam à Europa.
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Bruxelas propôs pela primeira vez na última quarta-feira uma orientação orçamental expansionista de 0,5 por cento do PIB em 2017 para o conjunto da zona euro (50.000 milhões de euros). No entanto, o fato é que o impulso será significativamente menor, uma vez que a instituição presidida por Jean Claude Juncker espera que a área do euro mantenha uma posição fiscal positiva de cerca de 0,2 por cento no próximo ano, sem qualquer medida adicional.
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Este passo tímido é mais simbólico que  outra coisa, uma vez que o renascimento da política fiscal expansionista é agora limitado pela necessidade de não aumentar a dívida; a falta de uma almofada Europeia para este estímulo adicional; e a oposição da Alemanha, o único com o espaço fiscal necessário para liderar essa mudança.
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No entanto,  mesmo o mais ferrenho da ortodoxia orçamental pode encontrar obstáculos sérios na hora de defender a sua posição. O ministro alemão adjunto estrangeiro, o social-democrata Sigmar Gabriel, já apelou publicamente “o fim da austeridade na Europa o mais rapidamente possível”, perante o silêncio de Angela Merkel e do seu poderoso ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble.
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Nos Estados Unidos são esperadas subidas dos juros pela Fed já em Dezembro, e os analistas acreditam que é uma questão de tempo até que o contágio chegue à Europa, isto apesar do prolongamento do programa de estímulos anunciados pelo BCE esta semana.
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* Não há hipocrisia mais velhaca que a da actual Comissão Europeia, encabeçada pelo velhaco-mor Claude Juncker.

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