Samba olímpico
Marcelo Rebelo de Sousa vai aos Jogos Olímpicos, mas o Presidente vai
evitar qualquer encontro menos desportivo com Dilma ou Temer.
De
qualquer modo, a primeira já anunciou que não tem qualquer intenção de
estar na cerimónia de abertura no Estádio do Maracanã e com o segundo, a
acontecer, será diplomacia de circunstância.
Política e economia ficam
para novembro, durante nova visita ao Brasil onde Marcelo irá participar
na cimeira da CPLP. Por agora, o Presidente vai concentrar-se durante
seis dias nos atletas olímpicos e nas comunidades portuguesas numa volta
que o levará do Rio de Janeiro a São Paulo e ao Recife, com tempo ainda
para condecorar o provedor do Real Hospital Português de Beneficência
do Recife, que é português.
É certo: Marcelo vai distribuir afetos e
selfies à esquerda e à direita, deixar portas abertas aos empresários de
cá e lá e encantar tudo e todos. Encantados, no entanto, é o que os
cariocas não estão. E cada vez menos nos dias que antecedem a abertura
do maior evento desportivo do mundo. E o mais caro. Não bastavam os mais
de 3,6 mil milhões de euros de custos da operação olímpica -
contabilizando apenas as despesas diretas em estádios, recintos e aldeia
- para deixar os brasileiros a protestar, o caos chegou agora ao
trânsito do Rio de Janeiro, onde desde segunda-feira a entrada em vigor
das faixas verdes destinadas exclusivamente ao trânsito dos Jogos
engarrafou a cidade. Conta o jornal O Globo que só no primeiro dia as
alterações provocaram 120 quilómetros de filas de carros e custaram
multas a um milhar de condutores que não respeitaram as novas regras.
Encantados também não estarão os comissários olímpicos internacionais.
Alguns até estarão arrependidos de terem votado na proposta brasileira
para organizar os Jogos. Mas estava-se em 2009 e, apesar da crise
económica global, as previsões eram otimistas, indicando que em 2016 o
Brasil estaria entre as cinco maiores economias do mundo. Sete anos
passados, estima o FMI que, afinal, ficará em nono lugar. Lava-jato,
preço do petróleo a cair, recessão económica, impeachment e zika não
ajudaram. A ameaça de terrorismo, os atrasos nas obras, a baía poluída
da Guanabara e atletas roubados pioraram o panorama.
Na semana da
cerimónia de abertura dos Jogos, suspeita-se que o ataque de nervos seja
geral entre cariocas e organizadores. Mas é o Brasil, não é a Alemanha.
O improviso, aqui, é samba profissional. A partir de sexta-feira, não
havendo imprevistos graves, promete ser olímpico.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
03/08/16
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