“Contas rápidas …”
Em altura de verão, que tantos utilizam como desculpa
para fazer promessas de mudança e fazer “coisas novas”, tomo a
liberdade de vos desafiar a fazer algumas contas simples:
- Numa praia com uma média de 1000 utentes diários, se um porcento
enterrar três beatas na areia por dia, quantas beatas conspurcam a praia
ao fim de uma semana e ao fim de um mês?
- Numa Escola com 1500 alunos, se diariamente trinta colarem uma
pastilha elástica debaixo da carteira, ao fim de um período letivo com
66 dias de aulas, quantas pastilhas lá foram coladas em vez de serem
depositadas no balde do lixo?
- Num centro de saúde que atenda diariamente 200 utentes/doentes, se em
média cada um for atendido sessenta minutos depois da hora marcada,
quantas horas são perdidas pelo conjunto dos utentes/doentes ao fim de
uma semana, de um mês e de um ano?
- Se a um porcento de 4 milhões de contribuintes, quando submete a
declaração do IRS online, aparecer uma mensagem a dizer algo do género:
“por motivos técnicos não nos é possível aceder ao seu pedido, tente
mais tarde” e com isso perder mais 30 minutos, quanto tempo foi perdido
pelo conjunto dos contribuintes?
- Numa instituição pública com 300 funcionários se cada um for obrigado a
preencher um relatório de avaliação, completamente inútil, que demora
10h a preencher (e a recolher dados), quantas horas são perdidas?
- Se uma equipa treinar cinco vezes por semana e, em cada treino, 10
minutos forem “desperdiçados” com conversa inócua ou exercícios inúteis
(para já não dizer prejudiciais), ao fim de uma semana quantos minutos
foram “perdidos”? E ao fim de um ano, se considerarmos que foram
realizadas 40 semanas de treinos? E ao fim de 10 anos?
Certamente que “exemplos” como estes não faltam. Aliás cada um dos
leitores (que conseguiu ler o texto até aqui) facilmente arranjará mais
questões deste tipo (por ex., no seu âmbito privado, profissional, ou
social).
O que gostaríamos de realçar é que, muitas vezes, quando analisamos
aspetos pontuais e não conseguimos ter uma noção de escala, bem como dos
efeitos a curto, médio e logo prazo, acabamos por não valorizar
suficientemente algumas das opções que fazemos (ou deixamos de fazer) ou
algumas das “inutilidades” que nos obrigam a cumprir.
É necessário raciocinar em função de processos e não de acontecimentos.
Ora, isso não é fácil, uma vez que o sistema educativo e o sistema
desportivo não só não estimulam como, muitas vezes, até punem a
pesquisa, a criatividade, a autonomia, o espírito crítico … e estão
formatados para que os alunos/desportistas, professores/treinadores,
funcionários, encarregados de educação … se preocupem mais com o curto
prazo (o próximo teste/exame/competição) do que com o desenvolvimento
das capacidades e potencialidades de cada um que, no fundo, deve ser o
objetivo da educação (não esquecer que tanto se educa na escola, como no
clube, como na família …).
A propósito, fez ou pensa fazer as contas que em cima propusemos (ou arranjar outras) e equacionar as suas implicações?
É que talvez a compreensão daquele tipo de fenómenos possa ser um
primeiro passo para que se percebam problemas ambientais e porque é que
existem tantas lamentações sobre a falta de produtividade do nosso país.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
09/08/16
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