Galpgate e a "serious season"
Noutros tempos, seria o Bloco de Esquerda e
o PCP a exigir a cabeça de Rocha Andrade no Parlamento, não a líder do
CDS, Assunção Cristas. Noutras alturas, seriam os bloquistas e os
comunistas a acusarem o Governo e o PS de pactuar com um grupo económico
capitalista. Mas os tempos são outros e, em nome da estabilidade da
geringonça, tudo é perdoado a António Costa.
E, de repente, a "silly season" tornou-se uma "serious season" para mal dos pecados do primeiro-ministro, a banhos no Algarve. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais vai ser a dor de cabeça de Costa. À evidência de todos, ainda não percebeu que Rocha Andrade morreu politicamente.
Se o secretário de
Estado continuar, vai ser um peso morto para o Governo, e logo agora
que, em matéria de execução orçamental, as coisas estavam a ir de feição
para os socialistas.
Qual será a cara
de Costa ou do ministro das Finanças quando, já em setembro, começar a
anunciar as medidas principais para o Orçamento do Estado do próximo
ano? Quando for enviado o draft do Orçamento para a Comissão Europeia?
Como é evidente, será mais um orçamento de austeridade, cheio de medidas
pouco populares que implicará, possivelmente, uma mexida nos impostos.
Quem é o responsável pelos impostos no Governo? Rocha Andrade.
O
capital que, tanto o PS como o Bloco, amealharam nestes meses de
desvario de Passos Coelho - veja-se as sondagens mais recentes com os
dois partidos a atingirem quase a maioria - pode agora ser gasto num
fogo fátuo chamado Rocha Andrade.
Por
muito que Augusto Santos Silva queira enterrar o assunto, será difícil
para o Governo assobiar para o lado quando a Procuradoria-Geral da
República já prometeu uma investigação à ida dos secretários de Estado
aos jogos de Portugal no Euro 2016 a convite da Galp.
Dando
como adquirido que Rocha Andrade aceitou um convite eticamente
condenável, o que está em causa no momento é a legitimidade das decisões
do secretário de Estado enquanto governante e o quanto pode prejudicar
António Costa e Mário Centeno na defesa da política económica. Este
poderá ser o verdadeiro "walking dead" da geringonça.
Sem
querer comparar casos, Rocha Andrade estará para António Costa como
Miguel Relvas esteve para Passos Coelho. Com uma diferença, Relvas, como
ministro, não se escondeu e foi a chacota nacional. Rocha Andrade vai
submergir no gabinete à espera que a tempestade passe. O primeiro
demitiu-se. E o segundo?
*EDITOR-EXECUTIVO
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
06/08/16
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