Goldman Sachs.
O banco que domina o mundo
Instituição financeira para onde Barroso vai trabalhar existe há 147 anos, repletos de polémica. Da ocultação de dívida na Grécia à crise do subprime, os casos sucedem-se.
Há meia dúzia de anos, uma frase do presidente do Goldman Sachs
durante uma entrevista tornou-se célebre. “Eu faço o trabalho de Deus”,
assumiu Lloyd Blankfein, o poderoso chairman do banco norte-americano
que acaba de contratar Durão Barroso. A ideia não era para levar à letra
- o gestor referia-se ao facto de os banqueiros terem um papel social
determinante - mas ali ficou cunhada a imagem do maior banco de
investimento do mundo, que se notabiliza por negócios e contratações
polémicas.
Com quase 150 anos de história, o banco norte-americano tem
escritórios em dezenas de países e mais de 35 mil empregados à escala
mundial. No ano passado, lucrou “apenas” 5,6 mil milhões de dólares - um
valor mais alto que o PIB de alguns países de África. A queda dos
lucros deveu-se ao pagamento de multas depois de um acordo com as
autoridades norte-americanas, num litígio que se arrastava desde o
eclodir da crise imobiliária no país em 2008.
O banco foi posto em causa pela venda, entre 2005 e 2007, de uma
carteira de empréstimos para aquisição de habitação financeiros que
provocaram perdas aos compradores e que contribuíram para a crise do
subprime.
Não se chega ao topo sem polémica e os negócios do Goldman são prova
disso. “O Goldman está em todo o lado: a falência do banco Lehman
Brothers, a crise grega, a queda do euro, a resistência da finança a
toda a regulação, o financiamento dos défices e até a maré negra do
golfo do México”, escreveu Marc Roche no livro “O Banco”, um dos
documentos mais aprofundados sobre os negócios do banco norte-americano.
Além do envolvimento na crise financeira global de há quase dez anos,
o Goldman teve um papel determinante no começo da crise da Zona Euro a
partir de 2010 - um dos motivos que levam Durão Barroso a estar sob fogo
cerrado.
A história foi resumida pelo antigo secretário de Estado do Trabalho
americano Robert Reich, num artigo da Nation. “Em 2001, a Grécia buscava
maneiras de mascarar os seus crescentes problemas financeiros. O
Tratado de Maastricht exigia que todos os membros da zona do euro
mostrassem melhoras nas suas contas públicas, mas a Grécia ia na direção
oposta. Então o Goldman Sachs veio em seu socorro, oferecendo um
empréstimo secreto de 2,8 bilhões de euros, disfarçado de swap cambial
não contabilizado - uma operação complicada, em que a dívida da Grécia
em moeda estrangeira foi convertida em obrigações em moeda local,
utilizando uma taxa de câmbio fictícia.
Como resultado, cerca de 2% da
dívida da Grécia magicamente desapareceram das contas nacionais”.
A ocultação de dívida com produtos financeiros complexos do Goldman
continuou até 2009 e o resto é conhecido. Quando se descobriu aquele
buraco monumental nas contas do país, os mercados entraram em queda
livre.
O presidente do BCE não escapou a esta polémica. Tal como muitos
outros dirigentes europeus, Mario Draghi passou pelo Goldman Sachs e o
envolvimento no caso de ocultação grega foi questionado no Parlamento
Europeu. Draghi negou e nunca foram indicadas provas de que havia feito
algo de errado, mas a dúvida ficou.
Um artigo do “New York Times” de outubro de 2011 cita um ex-banqueiro
do Goldman Sachs a afirmar que Draghi foi encarregado de vender em toda
a Europa os “swaps” que dissimulavam a dívida soberana. E o caso
mostrou à lupa a rede de contactos do banco norte-americano. “Ao
contrário dos seus concorrentes, o banco não está interessado nem nos
diplomatas na reforma, nem nos altos funcionários nacionais ou
internacionais e ainda menos nos antigos primeiros-ministros ou
ministros das Finanças. O Goldman visa prioritariamente os responsáveis
de bancos centrais ou os ex-comissários europeus”, explica Marc Roche.
Alessio Rastanim, um trader da bolsa que se tornou uma celebridade
nas redes sociais numa entrevista à “BBC”, resumiu o que é o sistema
financeiro. “Este não é o momento para pensar que os governos irão
resolver as coisas. Os governos não mandam no mundo, o Goldman Sachs
manda no mundo”.
Nos Estados Unidos, o Goldman é um dos bancos mais contestados pelo
envolvimento em empréstimos agressivos que causaram perdas a
consumidores. Há anos, nos protestos “Ocuppy Wall Street”, o Goldman foi
o principal visado.
As relações com o poder são contestadas. Na crise do subprime, o
Tesouro norte-americano fez um resgate à banca. Paulson, então o
secretário de Estado do Tesouro, era um antigo funcionário do banco.
“Estava em contacto muito frequente com Lloyd C. Blankfein,
presidente-executivo do Goldman”, segundo documentação obtida pelo “New
York Times”. Chegavam a falar por telefone 12 vezes por dia.
“O Goldman Sachs e os outros bancos gigantes de Wall Street são
extremamente hábeis para vender operações complexas, exagerando os seus
lucros e minimizando os custos e riscos. É assim que abocanham taxas
gigantescas. Quando um cliente tem problemas - seja este cliente um
investidor americano, uma cidade dos EUA, ou a Grécia - o Goldman
esquiva-se e esconde-se por trás de formalidades legais e dos interesses
dos acionistas”, escreve Robert Reich.
Lloyd Blankfein sabe que não é a pessoa mais amada do planeta, e tem
vindo a defender o papel dos grandes bancos. “Somos muito importantes.
Ajudamos as empresas a crescer, ajudando-os a levantar capital. Estas
empresas crescem e criam riqueza. Isto, por sua vez, permite que as
pessoas tenham empregos que criam mais crescimento e mais riqueza. Temos
um propósito social”, disse, na mesma entrevista em que assumiu que
banqueiros apenas fazem o “trabalho de Deus”. Deus atua de maneiras
misteriosas.
IN "SOL"
18/07/16
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