21/05/2016

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HOJE NO 
"A BOLA"

Hipismo
Luís Sabino favorito à vitória no
 96.º Concurso de Saltos de Lisboa

É sobre Luís Sabino, de 50 anos, o `Cristiano Ronaldo` dos cavaleiros portugueses de saltos de obstáculos, vencedor de três das quatro últimas edições da prova (entre as quais as de 2014 e 2015) que todos os olhares dos apreciadores desta disciplina do hipismo e a maioria das esperanças nacionais se concentram quanto a uma vitória em mais uma edição, a 96.ª, do Concurso Internacional de Saltos Oficial (CSIO) de Lisboa, que decorrerá na Sociedade Hípica Portuguesa (SHP), no Campo Grande, da próxima quinta-feira a domingo (26 a 29 do corrente mês).
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Na prova - que será apresentada oficialmente à imprensa mas que A BOLA lhe desvenda desde já - desde a primeira mão da Taça das Nações (sexta-feira, 18 horas, segunda mão às 21.30 horas) estarão 12 equipas, de outros tantos países, de pelo menos três cavaleiros (podem ser quatro a saltar, mas o pior resultado não conta para a classificação) e um total de 180 dos mais belos animais que neste planeta é possível contemplar e pelos quais muitos milionários perdem a cabeça para lhes chamarem seus, qual obra de arte de ter em casa.

Depois, no domingo, é o Grande Prémio individual. Já se sabe: derrube no obstáculo dá quatro pontos de penalização, há tempo limite e à segunda vez que o cavalo se recusar a passar o óbice pela frente, é desclassificação imediata (tal como se os juízes virem sangue em qualquer parte do animal).


Entrada gratuita

A entrada para os 2500 lugares – e são esperadas dez mil pessoas nas bancadas nos quatro dias, para um evento com ‘prize money’ de 140 mil euros e que colocará árabes, belgas, alemães, brasileiros, norte-americanos e australianos, entre outros, a olhar para Lisboa – é, numa iniciativa da direção da SHP, que «se quer abrir à cidade e a todos, desmistificar que isto é para militares e ou particulares endinheirados apenas», como diz a A BOLA o seu presidente, José Manuel Figueiredo, gratuita. O que se saúda.

«Agradecemos o apoio de sponsors e doações de muitos dos nossos sócios, mas poucos sabem que as aulas de equitação são acessíveis, 30 euros por mês», revelou-nos o presidente de uma SHP centenária (fundada em 1910) e que se orgulha de possuir aquele que é considerado unanimemente por todos os grandes nomes internacionais e entendidos na poda de um Mundo, o hipismo, que apesar de exigir muita capacidade económica quer, em definitivo, furar barreiras e a mentalidade de que seja só para abastados - antes massificar-se e tornar-se, como é na sua essência, transversal a toda a sociedade («conhece alguém que não gostasse de montar, ou de experimentar, pelo menos?») – apontado como «o melhor relvado do Mundo» para saltos espetaculares.

Razões: «É elástico, regular e não escorrega», diz Marina Frutuoso de Melo.


Os famosos sete

António Frutuoso de Melo e a mulher, a já  heptacampeã nacional de obstáculos, Marina Soares da Costa Frutuoso de Melo, mas também Duarte Seabra, António Matos Almeida, Mário Wilson Fernandes e João Chuva completam, com Luís Sabino, o hepteto de estrelas mais cintilantes dos saltos sobre obstáculos nacionais em cima de garbosos equídeos que manejam com maestria, tarimba e técnica, mesmo se pesam entre 450 a 600 quilos.


Hipoterapia sucesso contra paralisia cerebral

«A SHP tem um protocolo com a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa: muitos vem aqui fazer hipoterapia, interagir com os animais. E os resultados, a nível físico, verbal e intelectual, são extraordinários», recordou a A BOLA António Frutuoso de Melo. E não há dinheiro que pague a libertação consciente do ser humano no contacto com animais que, a par dos golfinhos, são aqueles cuja inteligência mais se dá connosco.


Competição em aberto

«Ganhar a prova antes nada significa. É preciso escolher um bom cavalo, estar num momento bom. E um cavalo inteligente. Posso ganhar uma prova e ficar fora dos dez primeiros na seguinte. Qualquer um do top 50 pode ganhar», disse a A BOLA Luís Sabino, cavaleiro de Valada (perto de Muge, Ribatejo), que se ri da comparação com CR7 e desmente que a sensação na barriga quando salta se equipare à montanha russa antes da descida íngreme ou ao mais radical ‘bungee jumping’.

«O que penso quando estou lá em cima? Se está tudo certo, a rezar para o cavalo não tocar e derrubar», afirma quem ainda no dia 15 foi segundo classificado num Grande Prémio em Maribor (Eslovénia), tendo arrecadado um prémio de… 6500 euros.

«Não se anda nisto por dinheiro, gasta-se sempre muito mais. A logística de tudo é complicadíssima: o hipismo é e será sempre a mais cara das modalidades olímpicas. A minha equipa são dez cavalos, temos de trazer sempre três para cada prova. E quando estão bons para saltar, aí entre os 10 e 13 anos, é vendê-los, é a forma de aguentar», afirmou-nos o cavaleiro, que à venda dos equídeos junta um negócio que o seu êxito a voar na montada valoriza na montra das grandes provas: fabrica e vende selas de competir personalizadas, à medida: os preços chegam aos… «3350 euros».


Cuidados extremos

António Frutuoso de Melo dá uma achega, a propósito da boa forma física que é necessária (ir ao ginásio para não sobrecarregar o animal com o peso, mas não é preciso ser peso leve, como nas corridas puras, de velocidade, ou de pequena dimensão).

«O meu desporto além disto? Montar a cavalo [risos]. São 40 a 45 fins-de-semana fora de casa por ano. É preciso gostar muito disto», disse ao nosso jornal o consagrado cavaleiro, que enumera quatro segredos para um bom cavalo (não, se compram a olhar para os dentes): «Agilidade, coragem, força e inteligência».

E fica um segredo: os castrados são melhores para correr e saltar, e isto agora já não pela raça, lusitanos ou árabes: são ou ao «português de desporto», ou «cruzados» (de alemães e belgas»), pela potência que têm, os apropriados para a competição a doer.

Quanto a eventuais descriminações sexistas, a mulher, Marina Frutuoso de Melo confirma que não é por acaso que vários elementos de famílias reais do globo e até multimilionárias herdeiras, como Athina Onassis, sejam vedetas do circuito internacional.

«Nada. Competimos sempre com os homens. E ainda bem. Sempre bem recebidas. Isto dá muito trabalho, agarrar na forquilha. Nós respiramos cavalos, é uma paixão para a vida».


Primeira medalha olímpica (1924) veio a cavalo

Oásis verde no coração de Lisboa, a SHP vai engalanar-se, com legítimo e redobrado orgulho, para receber os mais destemidos cavaleiros e bravas montadas, dando cumprimento a uma tradição que poucos conhecem: a primeira medalha olímpica obtida por Portugal foi obtida pela Seleção na prova de saltos de obstáculos nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924.

Uma equipa capitaneada por Manuel Latinos, que integrou Luís Cardoso de Menezes, José Mouzinho de Albuquerque, Aníbal Borges de Almeida e Hélder de Sousa Martins.

Nome maior do hipismo nacional, o saudoso Manuel Malta da Costa, mas também Pimenta da Gama ou Henrique Calado são os ‘Eusébios’, ‘Figos’ e ídolos do hipismo nacional de sempre, incontornáveis na marca e paixão deixada. Para agosto, no Rio-2016, está já qualificada pelo nosso País a brasileira (naturalizada portuguesa) Luciana Diniz.


Concessão até 2032

O espaço onde os melhores irão saltar, da SHP, não pertence ao clube: é concessão do Estado até 2032. Estiveram prestes a mudar-se para Monsanto na década de 90, mas a instituição de utilidade pública resolveu ficar.

«Qual era o pai que ficava sossegado por os miúdos virem ou irem à noite para Monsanto?», é a resposta/questão de José Manuel Figueiredo, líder de uma direção dinâmica, que, com Miguel Costa Dias, quer «cortar de vez a separação» e acabar com a imagem de clube muito privado, ao género de ‘Clube do Cebolinha, associado durante décadas aos que ali ao lado da Segunda Circular galopavam.

Por isso investiram 200 mil euros no Picadeiro General Duarte Silva (coberto), e também num novo piso para o campo de treinos. «Queremos ser um chamariz, pois somos um espaço verde no coração de Lisboa. Já temos um peso social grande, queremos e gostaríamos que todos viessem ver», diz o timoneiro da SHP.

«É muito melhor saltar com casa cheia», concluem, em uníssono, Luís Sabino, António Frutuoso de Melo e Marina Frutuoso de Melo. «Até as reações do cavalo são diferentes, não é só a nossa motivação que é maior. Apareçam», é o repto que deixam três mosqueteiros ilustres do um hipismo nacional que quer rasgar o anonimato e reserva de outros tempos e afirmar-se como o espetáculo que os portugueses sempre souberam apreciar como tal mas muitos ainda encaram como coisa de ricos.


Estudo confirma potencialidade da indústria

E riqueza só mesmo a espoletada pelo negócio do hipismo: segundo nos revelou António Frutuoso de Melo, um estudo do banco suíço UBS baliza em 3,8 mil milhões de euros o dinheiro que o hipismo já movimenta, em todos os ramos (hotelaria, restauração, merchandising, viagens, turismo, venda de cavalos e assessórios) a nível global.

Vale a pena haver quem se dedique «de manhã à noite, seis dias por semana pelo menos, à segunda-feira descansa-se» a cavalgar a «350 a 400 metros por minuto, é a média» em cima de um cavalo direito a um obstáculo com 1,60 metros de altura, para vencer um ‘Grand Prix’ (nas corridas, sem obstáculos, chegam aos 90 km/hora).

No 96.º CSIO de Lisboa, prova cartaz em Portugal no ranking da Federação Equestre Internacional – que já teve de criar um novo escalão, sub14, tamanha a adesão da juventude -, o prize money total chega aos 140 mil euros, e o GP Audi, no domingo (15 horas), dará 10 mil euros ao vencedor.

Mal dá para pagar o aluguer de uma boxe, comprar um reboque para o animal viajar por estrada (ou no porão de um avião, devidamente climatizados). Mas amadores também terão oportunidade de mostrar dotes em prova à parte.

Mais um evento com as grandes estrelas nacionais e internacionais da modalidade, a colocar Lisboa, candidata a Capital Europeia do Desporto em 2021, sob os holofotes de todo o Mundo e a por Portugal no mapa de um Mundo tudo menos despiciendo e que quer sair do ostracismo mediático para se massificar.

* VAMOS TODOS AO CAMPO GRANDE!

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