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A AUTORA
IN "VISÃO"
28/04/16
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"Também somos portugueses.
Desculpe, Sr. Presidente"
Marcelo inaugurou os seu Portugal Próximo pelo interior alentejano. Quase 30 anos antes, Soares (o pai das Presidências Abertas) ouvira as mesmas queixas, por terras transmontanas
Jorge Libertado vestiu-se a rigor e pôs-se à porta da sua taberna com
um livro e um saco com garrafas de vinho na mão. Quarta geração de
taberneiros, sabia que Marcelo Rebelo de Sousa, à semelhança dos
Presidentes anteriores, passaria por ali, ao terminar a subida pela
Segunda Rua da Mouraria, em Moura. Também sabia que pararia. O que não
sabia é que este Presidente lhe perguntaria, ao olhar para as garrafas,
"então e não se bebe nada?"
Marcelo entrou (foi o primeiro
Presidente da entrar na Taberna do Liberato) e bebeu vinho, provou o
queijinho e ainda conseguiu que lhe oferecessem um bocadinho de
presunto. Uma refeição completa para aquele que sobrevive com a
campanhas eleitorais à base de sandwiches de queijo. Perante a
generosidade do taberneiro, Marcelo disse "Ainda vai à falência!", mas
Jorge Liberato respondeu com um mimo: "não com um Presidente como você,
que dá força [à economia] para melhorar."
Depois dos comes e
bebes, Marcelo seguiu caminho. O taberneiro ficou para trás, contente
com a visita. "É como Mário Soares", diria finalmente à VISÃO.
De
facto, como Soares, Marcelo fez furor na sua primeira presidência
aberta, a que chamou "Portugal Próximo". Beijou crianças e velhinhas,
deu "passou-bem" vigorosos, ouviu queixas, pedidos de ajuda e muitos
elogios. "Cuidado que está mais magro", disseram-lhe em Évora. "Estou
cansado, mas engordei um quilo", respondeu. A senhora nem ouviu,
respondendo de seguida: "Olhe que eu não o quero lá um ano, quero-o lá
dez anos!"
De tão à vontade, parecia que Marcelo está em Belém há
anos. Exatamente como Soares, na sua primeira Presidência Aberta, em
setembro de 1986, em Guimarães. Pelo interior alentejano, Marcelo disse e
repetiu que quer um Portugal Próximo, sem desigualdades, porque "não há
portugueses de primeira e de segunda", diria em Portalegre. "Há
portugueses todos iguais e há grandes desigualdades. Uma das grandes
desigualdades marcantes é entre quem vive no interior e quem vive no
litoral."
Também Soares, há 29 anos, se deparou com a mesma
questão. Foi na sua segunda Presidência Aberta (a segunda desde o 25 de
Abril), em Bragança. "Nós também somos portugueses, desculpe Sr.
Presidente", exibiam os alunos de uma escola primária do distrito. A
mensagem estava colada a uma placa de sinalização "STOP" criada de
propósito para fazer parar a caravana presidencial, que passava pelas
estradas do interior transmontano. Soares engraçou com a situação.
Quase 30 anos depois não houve "STOP's" improvisados, mas a mensagem mantém-se.
PS: Se em Moura compararam Marcelo a Soares, no Alqueva compararam-no com o Papa Francisco.
A AUTORA
Cresci entre Managua, Bruxelas e Lisboa e viajei pelo mundo fora sonhando em tudo o que poderia fazer, «quando fosse grande». O destino trouxe-me para Portugal e encarreirou-me para um curso de Comunicação Social - ao qual faltava amiúde para me enfiar nas redações. Viciei-me em fazer perguntas, nunca me cansei de ouvir respostas e convenci-me que é legítimo querer saber sempre mais. Quis ser cantora, fotógrafa de guerra, psicóloga, gestora e arquiteta. Sou jornalista, na VISÃO desde 1999, onde posso fazer de tudo isto um pouco.
IN "VISÃO"
28/04/16
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