"Quanto custou a dívida grega
aos contribuintes europeus?"
Foi com esta interrogação que a Euronews
de sexta-feira passada introduziu o comentário de Gregory Claeys,
economista belga, à mesma questão colocada no Utalk. E se a pergunta era
clara, a resposta também o foi: nada! Até hoje a dívida grega não teve
nenhum custo para os contribuintes europeus.
As ajudas financeiras
à Grécia foram realizadas por empréstimos contraídos aos diversos
parceiros europeus através de idas ao mercado. Algumas destas entidades
"até têm tido lucros nesses empréstimos, porque os juros que cobram à
Grécia são maiores do que os que se pagam no mercado".
Esta
segunda-feira, um estudo do Instituto de Investigação Económica Leibniz,
citado neste jornal, demonstrava que a Alemanha "beneficiou claramente
com a crise grega, desde 2010," em mais de 100 mil milhões de euros
(cerca de 3% do seu PIB).
A fuga, por insegurança, dos
investidores de alguns mercados promove a atratividade em outros. Neste
balancear inocente, segundo o citado estudo, "as taxas de juro das
obrigações do Governo alemão desciam" a cada desaire grego, ou subiam a
cada notícia positiva. O equilíbrio orçamental alemão "só foi possível
graças às poupanças em taxas de juro por causa da crise de dívida
grega". E outros países europeus beneficiaram igualmente desta
"crise"...
O mais estranho de toda esta realidade é que tudo
parece acontecer em esferas paralelas e não como dois lados da mesma
moeda ou sistema. A política financeira procura apresentar-se como a
mais singela lógica natural, onde os equilíbrios são consequências
ideologicamente inócuas, segundo uma necessidade tão precisa e neutra
como a física determinística.
Mas não é assim. Por mais que a
dimensão política recue nos discursos tecnocratas que governam a Europa,
por mais que se negue a si mesmo como político, o sistema financeiro é
uma construção política.
São políticos os muros, as barreiras
policiais que procuram conter os milhares de imigrantes que fogem de uma
guerra na qual a Europa tem responsabilidades. São políticas as opções
de silêncio, o encolher de ombros fatalista, a desculpa da impotência
pessoal face à esmagadora grandeza do sistema.
O que a dívida
grega custou aos contribuintes europeus não se traduz em euros, mas na
perda de dignidade moral do sistema financeiro que implica todos e cada
um dos contribuintes!
*PRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DO PORTO
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
14/08/15
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