Emigração em pleno
“Verão Quente”
Em 2013 estavam emigrados entre 2 e 2,3 milhões de
portugueses (dados da ONU e do Banco Mundial), ou seja, mais de 20% da
população residente no país está emigrada fazendo com que Portugal seja,
a seguir a Malta, o país da UE com maior número de emigrantes. A última
leva de emigrantes é constituída por pessoas altamente qualificadas:
médicos, enfermeiros e engenheiros, entre outros. Ou seja, a geração
mais qualificada abandonou o País e pior de tudo com mágoa e
ressentimento sentindo-se como que expulsa da terra em que nasceram.
Esta é uma dor difícil de apagar e, talvez por isso, muitos dos jovens
que emigraram se recusem a voltar ao País que os fez sofrer e em que os
próprios governantes lhes mostraram a porta de saída. Eu compreendo a
resposta destes jovens. Eu próprio já fui emigrante tendo saído de
Portugal numa altura bem mais controversa da nossa história.
Fez no início deste mês 40 anos que, no início de Agosto de 1975, eu e a minha família saímos de Portugal para umas férias que sabíamos que poderiam não ter fim.
Uma semana após termos chegado ao Brasil fomos informados que a empresa dos meus Pais e as nossas casas de Lisboa e de férias tinham sido ocupadas pelos trabalhadores com a ajuda do COPCON (Comando Operacional do Continente, uma estrutura de comando militar enquadrado no Estado-Maior General das Forças Armadas criada pelo MFA – Movimento das Forças Armadas - no período que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974). Estávamos em pleno “Verão Quente” e basta reler o discurso do Mário Soares na Alameda D. Afonso Henriques, junto à Fonte Luminosa, a 19 de Julho, para nos apercebermos/relembrarmos o sentimento que se vivia na altura. Destaco as seguintes passagens: “A situação portuguesa é de tal maneira grave, o ambiente requer um Governo de salvação nacional e de unidade das forças políticas, que nós dizemos daqui ao Presidente da República e ao Conselho da Revolução que o primeiro-ministro designado para constituir o 5.º Governo Provisório não nos parece ser neste momento um factor de coesão e de unidade nacional. Portanto dizemos-lhes, com a autoridade de sermos um partido maioritário na representação do povo português, que será melhor eles escolherem uma outra individualidade que dê mais garantias de apartidarismo real... Nós pensamos que se produziu neste País, graças à política aventureirista do PCP, um fenómeno como se dá nos corpos quando se enxerta neles um corpo estranho. Esse fenómeno de rejeição é perigoso, e nós convidamos sinceramente as bases do Partido Comunista, os nossos camaradas comunistas das bases, que não podem certamente estar de acordo com as perseguições que a cúpula está a implantar como se quisesse transformar a nossa Pátria, o nosso belo País, num imenso campo de concentração.”
Apesar de ter estado presente na manifestação e de querer acreditar na palavra com que Mário Soares terminou o seu discurso (“Venceremos”), a realidade parecia mesmo apontar para campos de concentração e fuzilamentos no Campo Pequeno.
Em Novembro de 1975, no dia 25, chegou a vitória desejada e com ela a construção do sistema democrático que hoje vivemos em Portugal.
Eu regressei em 1976, mas muitos ficaram pelo Brasil e outros Países, tal como muitos dos portugueses qualificados que foram “convidados” a deixar o País de 2013 a 2015 já não regressarão. A questão a colocar-se é a de se saber qual o custo para o nosso País do grande número de pessoas qualificadas que saíram nesse “Verão Quente”? Qual o ganho para o Brasil e outros Países? Estou certo que, como os estudos económicos têm mostrado para outros casos, o Brasil ganhou muito com sua política de abertura, já Portugal ficou empobrecido. A questão actualizada para o presente terá uma resposta similar, os estudos o demonstrarão, para os países de acolhimento dos emigrantes portugueses qualificados. Portugal uma vez mais ficou mais pobre demograficamente e em capital humano. Mas se Portugal é um País que conta em 2015 com 4 milhões de emigrados, é um País que também pode acolher imigrantes que muito poderiam ajudar a resolver alguns dos nossos problemas comuns a outros Países da União Europeia: baixa natalidade, envelhecimento populacional, sustentabilidade da segurança social e desertificação, só para referir alguns. É por isso que não percebo que neste Verão de 2015 os refugiados não tenham um outro acolhimento na Europa e muito menos que Portugal tenha sido um dos países que mais problemas tenha colocado em receber imigrantes.
Fez no início deste mês 40 anos que, no início de Agosto de 1975, eu e a minha família saímos de Portugal para umas férias que sabíamos que poderiam não ter fim.
Uma semana após termos chegado ao Brasil fomos informados que a empresa dos meus Pais e as nossas casas de Lisboa e de férias tinham sido ocupadas pelos trabalhadores com a ajuda do COPCON (Comando Operacional do Continente, uma estrutura de comando militar enquadrado no Estado-Maior General das Forças Armadas criada pelo MFA – Movimento das Forças Armadas - no período que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974). Estávamos em pleno “Verão Quente” e basta reler o discurso do Mário Soares na Alameda D. Afonso Henriques, junto à Fonte Luminosa, a 19 de Julho, para nos apercebermos/relembrarmos o sentimento que se vivia na altura. Destaco as seguintes passagens: “A situação portuguesa é de tal maneira grave, o ambiente requer um Governo de salvação nacional e de unidade das forças políticas, que nós dizemos daqui ao Presidente da República e ao Conselho da Revolução que o primeiro-ministro designado para constituir o 5.º Governo Provisório não nos parece ser neste momento um factor de coesão e de unidade nacional. Portanto dizemos-lhes, com a autoridade de sermos um partido maioritário na representação do povo português, que será melhor eles escolherem uma outra individualidade que dê mais garantias de apartidarismo real... Nós pensamos que se produziu neste País, graças à política aventureirista do PCP, um fenómeno como se dá nos corpos quando se enxerta neles um corpo estranho. Esse fenómeno de rejeição é perigoso, e nós convidamos sinceramente as bases do Partido Comunista, os nossos camaradas comunistas das bases, que não podem certamente estar de acordo com as perseguições que a cúpula está a implantar como se quisesse transformar a nossa Pátria, o nosso belo País, num imenso campo de concentração.”
Apesar de ter estado presente na manifestação e de querer acreditar na palavra com que Mário Soares terminou o seu discurso (“Venceremos”), a realidade parecia mesmo apontar para campos de concentração e fuzilamentos no Campo Pequeno.
Em Novembro de 1975, no dia 25, chegou a vitória desejada e com ela a construção do sistema democrático que hoje vivemos em Portugal.
Eu regressei em 1976, mas muitos ficaram pelo Brasil e outros Países, tal como muitos dos portugueses qualificados que foram “convidados” a deixar o País de 2013 a 2015 já não regressarão. A questão a colocar-se é a de se saber qual o custo para o nosso País do grande número de pessoas qualificadas que saíram nesse “Verão Quente”? Qual o ganho para o Brasil e outros Países? Estou certo que, como os estudos económicos têm mostrado para outros casos, o Brasil ganhou muito com sua política de abertura, já Portugal ficou empobrecido. A questão actualizada para o presente terá uma resposta similar, os estudos o demonstrarão, para os países de acolhimento dos emigrantes portugueses qualificados. Portugal uma vez mais ficou mais pobre demograficamente e em capital humano. Mas se Portugal é um País que conta em 2015 com 4 milhões de emigrados, é um País que também pode acolher imigrantes que muito poderiam ajudar a resolver alguns dos nossos problemas comuns a outros Países da União Europeia: baixa natalidade, envelhecimento populacional, sustentabilidade da segurança social e desertificação, só para referir alguns. É por isso que não percebo que neste Verão de 2015 os refugiados não tenham um outro acolhimento na Europa e muito menos que Portugal tenha sido um dos países que mais problemas tenha colocado em receber imigrantes.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
21/08/15
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