03/08/2015

MANUELA NIZA RIBEIRO

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Um dever humanitário

Nos últimos dias, dois ex-presidentes da República Portuguesa foram galardoados internacionalmente,  pela sua contribuição humanista ao longo da sua vida pública. São dois prémios que nos devem deixar a todos orgulhosos e que colocam uma responsabilidade acrescida  a quem se perfila para o mais alto cargo da Nação.

Os tempos, aliás, vão exigir que, seja o novo Presidente da República qual for, seja interventivo e humanista, já que a Europa defronta, e continuará a exponencialmente defrontar-se, com vagas de migrantes que vão exigir de todos os responsáveis, uma resposta clara, inequívoca e, sobretudo, solidária.

Longe vão os dias em que, ao Presidente da República, o que se exigia basicamente se esgotava na protocolar representação do país e algum bom senso para lidar com as instituições políticas internas. A Europa está a mudar. Portugal será, em breve, porta de entrada dessa mudança!

Se bem que o momento que hoje vivemos esteja muito longe do sonho dos pais fundadores da União Europeia, este é ainda um espaço de liberdade direitos e garantias. Esta realidade, que tomamos por adquirida, absoluta e incontestável, é o que buscam os milhares de refugiados que fogem de locais onde tais dogmas não existem. Não podemos cometer a barbaridade de lhes fechar as portas.

Mas como lidar com essas vagas constantes numa Europa onde o desemprego toca níveis nunca antes atingidos? Como prevenir situações de intolerância por parte dos cidadãos europeus que, a dada altura e por força das circunstâncias, olharão os que vêm de longe como um perigo para o seu status quo? O que fazer quando se defrontarem formas diferentes de ver o mundo, a sociedade, a ligação ao sobrenatural?

É já uma “frase batida” a de que o Presidente da República eleito é o presidente de todos os portugueses. Mas estes portugueses são diferentes dos do século passado. Os portugueses do século XXI têm origens tão dispersas como a China, a África, o Leste europeu, a América Latina.

Os primeiros-ministros dos 28 discutem a forma como deverão fazer o patrulhamento e controlo das fronteiras externas da União. A Frontex, que se manteve calada e com um low profile altamente discutível, vem agora apelar a meios e a exigir o que nunca, nas quase duas décadas de existência, fez. Acabou-se, pois, o marasmo de agência europeia, ótima para meia dúzia de tachos, mas inoperante. Saúda-se o volte face! Era urgente fazê-lo, se bem que tarde e com os vícios já bem alicerçados. Será um trabalho árduo e que exigirá uma enorme vontade e força política.

Mas essa é a parte policial da situação (que irá dar ainda muito que falar, sem dúvida). A outra é bem mais importante e acarreta uma dose de bom senso, humanismo e independência, que apenas os mais altos representantes das nações poderão assumir. Trata-se da inclusão desses desterrados que nos olham como último refúgio, última esperança. Não podemos nem devemos fechar-lhes as portas, voltar-lhes as costas. Este é um trabalho de alta complexidade diplomática, quer interna quer externa.
Temos já mais de meia dúzia de candidatos ao mais alto cargo da Nação. São muitos, são demasiados, muito embora se saiba que alguns se apresentam apenas para aparecer. Terão eles a capacidade de diálogo interno e diplomacia externa capaz de levarem esta tarefa a bom porto?

Os exemplos estão aí em Ramalho Eanes e Jorge Sampaio. Saibam os candidatos estar à altura do seu trabalho.

Presidente do Sindicato dos Funcionários do SEF e professora universitária

IN "OJE"
30/07/15

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