Um dever humanitário
Nos últimos dias, dois ex-presidentes da República Portuguesa foram
galardoados internacionalmente, pela sua contribuição humanista ao
longo da sua vida pública. São dois prémios que nos devem deixar a todos
orgulhosos e que colocam uma responsabilidade acrescida a quem se
perfila para o mais alto cargo da Nação.
Os tempos, aliás, vão
exigir que, seja o novo Presidente da República qual for, seja
interventivo e humanista, já que a Europa defronta, e continuará a
exponencialmente defrontar-se, com vagas de migrantes que vão exigir de
todos os responsáveis, uma resposta clara, inequívoca e, sobretudo,
solidária.
Longe vão os dias em que, ao Presidente da República, o
que se exigia basicamente se esgotava na protocolar representação do
país e algum bom senso para lidar com as instituições políticas
internas. A Europa está a mudar. Portugal será, em breve, porta de
entrada dessa mudança!
Se bem que o momento que hoje vivemos
esteja muito longe do sonho dos pais fundadores da União Europeia, este é
ainda um espaço de liberdade direitos e garantias. Esta realidade, que
tomamos por adquirida, absoluta e incontestável, é o que buscam os
milhares de refugiados que fogem de locais onde tais dogmas não existem.
Não podemos cometer a barbaridade de lhes fechar as portas.
Mas
como lidar com essas vagas constantes numa Europa onde o desemprego toca
níveis nunca antes atingidos? Como prevenir situações de intolerância
por parte dos cidadãos europeus que, a dada altura e por força das
circunstâncias, olharão os que vêm de longe como um perigo para o seu
status quo? O que fazer quando se defrontarem formas diferentes de ver o
mundo, a sociedade, a ligação ao sobrenatural?
É já uma “frase
batida” a de que o Presidente da República eleito é o presidente de
todos os portugueses. Mas estes portugueses são diferentes dos do século
passado. Os portugueses do século XXI têm origens tão dispersas como a
China, a África, o Leste europeu, a América Latina.
Os
primeiros-ministros dos 28 discutem a forma como deverão fazer o
patrulhamento e controlo das fronteiras externas da União. A Frontex,
que se manteve calada e com um low profile altamente discutível, vem
agora apelar a meios e a exigir o que nunca, nas quase duas décadas de
existência, fez. Acabou-se, pois, o marasmo de agência europeia, ótima
para meia dúzia de tachos, mas inoperante. Saúda-se o volte face! Era
urgente fazê-lo, se bem que tarde e com os vícios já bem alicerçados.
Será um trabalho árduo e que exigirá uma enorme vontade e força
política.
Mas essa é a parte policial da situação (que irá dar
ainda muito que falar, sem dúvida). A outra é bem mais importante e
acarreta uma dose de bom senso, humanismo e independência, que apenas os
mais altos representantes das nações poderão assumir. Trata-se da
inclusão desses desterrados que nos olham como último refúgio, última
esperança. Não podemos nem devemos fechar-lhes as portas, voltar-lhes as
costas. Este é um trabalho de alta complexidade diplomática, quer
interna quer externa.
Temos já mais de meia dúzia de candidatos ao
mais alto cargo da Nação. São muitos, são demasiados, muito embora se
saiba que alguns se apresentam apenas para aparecer. Terão eles a
capacidade de diálogo interno e diplomacia externa capaz de levarem esta
tarefa a bom porto?
Os exemplos estão aí em Ramalho Eanes e Jorge Sampaio. Saibam os candidatos estar à altura do seu trabalho.
Presidente do Sindicato dos Funcionários do SEF e professora universitária
IN "OJE"
30/07/15
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