Apoiarei Maria de Belém
Era minha
intenção não me pronunciar sobre presidenciais antes das legislativas,
que são, para os socialistas, a prioridade das prioridades.
Mas algumas afirmações feitas ultimamente sobre a pessoa de Maria de Belém obrigam-me a tomar posição.
Está
confirmado que Maria de Belém comunicou ao secretário-geral do PS que
se candidatará à Presidência da República. É um direito que lhe assiste,
merece respeito e não pode ser posto em causa por considerações
táticas, interpretações sectárias e inaceitáveis ataques de carácter.
Começo
por lembrar que Maria de Lourdes Pintasilgo e eu próprio fomos
pioneiros de candidaturas cidadãs à Presidência da República. A
engenheira como inde- pendente, eu como militante do PS, embora sem o
apoio da sua direção. As candidaturas presidenciais são, por excelência,
o espaço da cidadania. Mas este tanto existe dentro como fora dos
partidos. Ninguém tem o exclusivo da cidadania. Ser membro de um partido
não constitui uma menoridade cívica, como ser independente não confere a
ninguém um estatuto de superioridade sobre quem assume a sua filiação
partidária.
Posto isto, declaro que a candidatura de Maria de
Belém terá o meu apoio. Não tanto por ela ter sido mandatária nacional
da minha segunda candidatura, nem por termos estado juntos no Congresso
do PS em 2004, defendendo os mesmos valores contra a versão portuguesa
da tentação blairista. Mas porque Maria de Belém é uma socialista
substantiva, com uma longa biografia política e provas dadas na luta
pelos valores da liberdade, pelos direitos sociais, pela igualdade de
género e pelos serviços públicos que simbolizam a natureza progressista e
igualitária da nossa democracia: Serviço Nacional de Saúde, escola
pública, Segurança Social. Sabe-se quem é, que posições tomou, que
causas defendeu, em quem votou. A sua atividade, tanto nas lutas
académicas anteriores ao 25 de Abril como no processo da construção da
democracia, foi sempre orientada pela recusa de qualquer forma de
ditadura, pela defesa da liberdade e da justiça social.
É tempo de
Portugal ter uma mulher na Presidência da República. Muitas das
críticas a Maria de Belém partem de preconceitos sexistas e machistas.
Não
há proprietários da esquerda nem monopólio de candidaturas. Maria de
Belém, ao contrário do que alguns disseram, não divide, não fratura nem é
redutora, antes tem condições para unir, alargar e mobilizar aqueles
que, dentro e fora do PS, na sociedade civil e em diversificados setores
da vida pública, desejam a mudança, um presidente que respeite a
Constituição e seja, de facto, o presidente de todos os portugueses.
Apoiarei
uma candidatura de Maria de Belém porque não me considero órfão de
ninguém nem admito que o PS e a esquerda se resignem a perder a eleição
presidencial. Estes quatro anos de "uma maioria, um governo e um
presidente" mostram que, se é fundamental ganhar as legislativas, seria
um erro imperdoável menosprezar a importância decisiva das eleições
presidenciais. Não vale a pena alimentar ilusões sobre uma hipotética
coabitação com outro presidente de direita, fosse ele qual fosse. A
experiência de Cavaco Silva devia ter vacinado de vez os socialistas,
toda a esquerda portuguesa e todos os que prezam a função institucional
do PR como árbitro e garante das instituições democráticas.
A
candidatura de Maria de Belém é, em si mesma, um ato de coragem cívica,
essencial a qualquer combate político. Partindo da esquerda socialista,
terá a abrangência e transversalidade indispensáveis a uma candidatura
vencedora. Conheço a sua capacidade de debate e a sua consistência
política aliadas a um profundo sentido de tolerância e solidariedade.
Maria de Belém é uma falsa frágil. Essa é a sua força. Tem condições
para derrotar qualquer candidato de direita.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
18/08/15
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