Das listas e 'arredores'
O PS aprovou um indispensável Código de Ética, que todos os candidatos devem subscrever; o PSD aprovou uma deplorável disciplina de voto, sempre que o grupo parlamentar o decida
Conhecidas as listas dos candidatos a deputados dos três
maiores partidos, estão feitas as contas ao número de novos candidatos,
cabeçasde lista, etc.: há mais ampla renovação no PS do que na coligação
PSD/CDS. Os números podem, porém, ser enganadores. Mas comparando as
pessoas, no concreto, vê-se que as diferenças até são maiores.
Expressivos os exemplos dos dois principais círculos, depoisde Lisboa,
onde pontificam os respetivos líderes. Assim, no Porto, o PS tem como
n.º 1 um independente, prof., cientista e homem de cultura (o 2.º já é o
líder da distrital...), enquanto na coligação o n.º 1 é o contestado
ministro da Defesa, do PSD e agora indefetível de Passos Coelho, sendo
n.º 2, pior, o chefe do "aparelho" do partido, alegadamente a ser
investigado. Em Braga, o n.º 1 do PS é um independente,
prof. de Economia da Un. do Minho, o do PSD o seu vice-presidente. E,
num círculo mais pequeno, Viana do Castelo, o PS consegue ter à frente
da lista um jovem investigador de Cambridge, de prestígio internacional.
Outra diferença: o PS aprovou um indispensável Código de Ética, que
todos os candidatos devem subscrever; o PSD aprovou umadeplorável
disciplina de voto, não só em compreensíveis e previstos casos especiais
como sempre que o grupo parlamentar o decida. Por outro lado, e sem
diferenças: se das listas de ambos saíram atuais deputados que já que
não o deviam ser, nelas continuam outros que lá não deviam estar. (E não
continuam uns poucos que deviam continuar, de que é flagrante exemplo
Mota Amaral.)
Três notas avulsas sobre outras listas:
a) As do PCP/CDU como de hábito sem grandes surpresas, mas com a
preocupação de uma constante renovação geracional. Sublinhe-se o
facto de agora ser Jorge Machado, 39 anos,
advogado, deputado desde 2005, o n.º 1 pelo Porto;
b) No BE, o destaque maior é Mariana Mortágua à frente da
lista de Lisboa. Uma muito boa escolha, que pode ter reflexo na votação
na capital, sendo certo parecer ultrapassada a sensação de que o partido
se vá desagregar ou esvaziar;
c) O "estreante" Livre/ Tempo de Avançar teve o mais original e
participado processo de escolha das listas. E, mau grado alguns
problemas, terá alguns cabeças de lista com currículo em vários
domínios, como Rui Tavares, Isabel do Carmo, José Reis e Ricardo Sá
Fernandes.
OS PARTIDOS, AS PESSOAS
Neste contexto, quando se fala tanto dos
partidos, impõe-se dizer que para lá deles está a fundamental
importância das pessoas. Que ao nível do poder local, mas não só, são
o decisivo. Vem isto a propósito de dois exemplos: a) o de JoséMacedo
Vieira, presidente da Câmara da Póvoa de Varzim durante 20 anos, eleito
pelo PSD - e que a mudou radicalmente, para melhor: o seu livro Póvoa
Nova, agora editado e que com muito gosto prefaciei, bem o "documenta ";
b) o de Miguel Albuquerque, novo presidente do Governo da Madeira, do
PSD, que após os 37 anos de poder e desmandos de A. J. Jardim pôs cobro
ao óbvio, mas pelo PSD invariavelmente "desmentido", défice democrático
na região.
HOJE HÁ PALHAÇOS
Mas Jardim continua a mexer, e até a querer-se
candidato a Presidente da República. Como sempre e com o
palavreado de sempre, a começar pelo que chama combate à Constituição e
ao regime. Seria o quarto militante e ex-dirigente do PSD eventual
candidato, se alguém o levasse a sério. Leva? Julgo que não. Ainda
consegue, no entanto, o seu tempo de antena, numa comunicação social que
privilegia o espetáculo bocas, bitaites, disparates. E que esquece os
seus desbocados ataques aos jornalistas e os processos no Funchal, com
os muitos custos que mesmo absolvidos tinham de suportar.
COM E SEM PULSEIRA
José Sócrates está preso há nove meses e já
critiquei aqui o juiz de instrução por não o ter passado, pelo menos,
para o regime de prisão domiciliária. Sem pulseira eletrónica, após ele a
ter recusado, como já anunciara faria. A lei não impõe tal vigilância
eletrónica, no máximo seria um (embora errado) critério do juiz impô-la.
Afinal, nem isso: agora, o mesmo juiz, Carlos Alexandre, determinou
(aliás para além do proposto pelo Ministério Público) a prisão
domiciliária de Ricardo Espírito Santo, mas... sem pulseira. Como é? Que
se passa?
IN "VISÃO"06/08/15
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