ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
Turismo com amor.
De Portugal, bom vento e bom casamento
Cada vez mais casais estrangeiros escolhem Portugal para casar:
clima, gastronomia, qualidade dos serviços e preços competitivos são
algumas das causas.
Aterraram em Portugal pela terceira vez
para casar. Peter Muller, suíço, foi o primeiro a conhecer o país:
passou o verão de 2009 a trabalhar num surf camp em Esmoriz. Em
2011, voltou e coincidiu com Emily, neozelandesa, professora de yoga no
surf camp. Apaixonaram-se. Em 2014 voltaram para casar.
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"Escolhemos
Esmoriz porque foi a praia onde nos apaixonámos. Tínhamos a certeza de
que conseguiríamos organizar um casamento divertido, simples e relaxado,
sem ser num sítio muito turístico mas que estivesse perto dos nossos
corações. Portugal é um país onde as famílias poderiam chegar com
facilidade", conta Emily, por e-mail, ao Dinheiro Vivo.
Em
Esmoriz, numa casa em frente à praia, juntaram e alojaram cerca de cem
convidados de 12 países diferentes. "Planear o casamento a partir da
Nova Zelândia e sem falar português foi um desafio. Houve momentos em
que um wedding planner ter-nos-ia salvo muito tempo. Mas
quisemos criar um casamento que nos retratasse enquanto casal.
Ajudaram-nos os amigos de Esmoriz, os donos da casa e os nossos
convidados, à medida que iam chegando", conta Emily.
Mas se, no caso da neozelandesa e do suíço, ambos já conheciam Portugal, há noivos que pisam pela primeira vez o nosso país para casar.
"Trabalho no fuso horário das minhas noivas. Quando aqui é meia-noite,
no Brasil são 20h00. E se é a essa hora que a Simone, a minha noiva
brasileira, pode falar comigo, é a essa hora que falo com ela", descreve
Carina Martins, wedding planner.
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Em 2010, com as sócias Marta Sousa, Joana Antunes e Margarida Sequeira fundou a Como Branco,
um projeto que começou com a organização do seu próprio casamento. Na
altura, juntaram-se para tratar de todo o material gráfico para o
casamento. Da experiência, surgiu a ideia de criar um coletivo criativo e
de design que tratasse da organização de eventos. Dois anos depois, a
empresa decidiu direcionar a estratégia a um mercado pouco explorado com
potencial: destination weddings.
No ano passado, dos 15 casamentos que ajudaram a organizar, dez foram entre estrangeiros. Com
um número de convidados, em média, inferior ao de um casamento entre
portugueses, os estrangeiros gastam a partir de 15 mil euros na
comemoração, com estada e copo-de-água incluídos. Muitas vezes, a festa
prolonga-se: há até empresas que planeiam programas turísticos
pós-casamento para os noivos e os seus convidados. O limite de preço
depende da vontade dos noivos: no ano passado, a Como Branco organizou
um casamento que custou 100 mil euros: na festa, viam-se sobretudo
flores. Aos milhares.
"Os estrangeiros focam-se mais nos
pormenores de decoração, como flores e livros de honra. Os portugueses
preocupam-se mais com a comida. Muitas vezes os casais estrangeiros nem
fazem prova de comida. Isso seria impensável para um casal português. Os
estrangeiros casam em qualquer dia da semana e isso torna-se também
muito interessante porque permite mais do que um casamento por semana", diz Cláudia Gameiro, da Lisbon Wedding Planner.
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Fundada
em 2010, a empresa sempre trabalhou com o mercado internacional: no ano
em que começaram a trabalhar, perceberam que o negócio do "turismo de
casamentos" tinha espaço para explorar, tendo escolhido as regiões de
Lisboa e Cascais para o desenvolvimento da empresa. Além dos casamentos
mais personalizados (custam 50 mil euros, em média), a empresa oferece ao mercado internacional pacotes de casamento que custam entre os 10 e os 15 mil euros.
O
modelo não dava para Alicia: em setembro, a noiva australiana da Como
Branco, aterra pela primeira vez em Portugal e põe-se a caminho de
Óbidos, um dos destinos mais procurados pelos estrangeiros que decidem
casar no país. A Pousada do Castelo da vila vai estar fechada durante
três dias para o casamento dos noivos que, até à data, nunca vieram a
Portugal.
"Casar nos Estados Unidos ou trazer a família inteira,
pagar estada, viagem e casar num hotel de luxo em Portugal sai mais
barato ou ao mesmo preço do que um casamento norte-americano normal.
Tem-se muito mais pelo mesmo", assegura Susana Esteves Pinto, fundadora
do projeto The Destination, um site e uma revista que dão a conhecer fornecedores portugueses que trabalham o mercado dos casamentos.
"O aumento do mercado dos casamentos estrangeiros em Portugal
pode resultar indiretamente da estratégia de promoção que o turismo tem
feito nos últimos anos. No entanto, nunca fizemos um esforço
para promover Portugal como destino para casar, por isso é uma
consequência natural do trabalho de promoção do país como destino
turístico", analisa João Cotrim de Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal em declarações ao Dinheiro Vivo.
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Nos últimos oito anos, o número de casamentos entre estrangeiros em Portugal aumentou todos os anos. E se em
2007, de acordo com números do Ministério da Justiça, 509 dos mais de
48 mil casamentos celebrados em Portugal foram entre estrangeiros, em
2014 foram 713 casais estrangeiros a escolher Portugal para casar, que
correspondem a mais de 2% dos casamentos celebrados. Um mercado
que ainda é pequeno mas que vem preencher um espaço livre. "Podemos
encarar estes casamentos como importantes do ponto de vista económico.
(...) numa época em que o nosso mercado está a encolher - neste universo
dos casamentos este é provavelmente o pior ano dos últimos cinco - há
que tirar partido desse nicho", assinala Susana.
Este ano, até 31 de maio, dos 8370 casamentos celebrados em Portugal, 263 foram entre estrangeiros (3,14%):
brasileiros, ucranianos, ingleses, alemães, cabo-verdianos, italianos e
irlandeses são os estrangeiros que encabeçam a lista dos que mais
procuram Portugal para casar.
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"Inglaterra e Irlanda são dois
países pesos-pesados, muito por causa do Algarve, e escolhem Portugal
pelo clima e pelo facto de as bebidas virem incluídas no catering o que,
no caso dos países de origem, não acontece. Poderem viajar em
companhias low cost para um sítio onde há sol, conforto e comida boa...
as pessoas nem vacilam", diz Susana, acrescentando que casar fora do
país de origem tem outra vantagem: a necessidade de uma viagem funciona
como um filtro muito educado de convidados.
Carin Virgílio e Patrícia Francisco, fundadoras da Glamour Algarve Weddings, escolheram esse mercado para trabalhar. Os casamentos com estrangeiros já representam 90% do negócio da empresa, fundada em fevereiro deste ano.
"Tratamos de rigorosamente tudo, desde a documentação legal necessária
ao alojamento de familiares, aconselhamento de fornecedores de vídeo,
fotografia, música... No dia do casamento estamos presentes, a coordenar
o evento de maneira a que o casal possa desfrutar do dia", esclarece
Patrícia.
O tempo conta
"Os
noivos que procuram Portugal são pessoas que querem algum calor ou
alguma história e património, esse lado mais antigo. As pessoas são
doidas por Óbidos, pelo Douro e por Sintra/Cascais. O Alentejo é menos
conhecido. Para quem não quer destinos de praia e exóticos,
Portugal e destinos de cidade são muitos apetecíveis", assegura Susana
Esteves Pinto.
Foi a pensar no mercado internacional que a
cofundadora da Simplesmente Branco, uma plataforma agregadora de
serviços relacionados com casamentos, decidiu criar este ano a
plataforma online The Destination e, complementarmente, a revista online
com o mesmo nome, escrita em inglês.
Nas páginas virtuais da The Destination há reportagens de casamentos em
que participam alguns dos 40 parceiros do projeto, anúncios de empresas
especializadas e até produções que sirvam de inspiração aos futuros
noivos. "A comida é boa, o clima é bom, é perto de tudo. Portugal é
um país minúsculo com uma variedade imensa de opções. Para a qualidade
que temos neste mercado, estamos em pé de igualdade com ingleses,
italianos, entre outros, e provavelmente com preços mais competitivos.
Não falta nada a Portugal para ser um destino de casamentos por
excelência."
* Casemo-nos com Portugal, divorciemo-nos do governo.
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