Alguma vez teve
um chefe assim?
Poderá Mark Sebba ficar para a história como o CEO mais querido do mundo pelos seus funcionários?
Quando
o presidente do site Net-A-Porter decidiu sair da companhia, depois de
mais de dez anos no cargo, tinha um sentimento de dever cumprido. Mas
provavelmente nunca imaginou que era tão querido na empresa que os seus
funcionários lhe organizariam uma surpreendente flashmob para agradecer
tudo o que fizera por eles. O momento foi grandioso e memorável e acabou
mesmo por fazer notícia em jornais.
Imagina-se
capaz de fazer o mesmo? Olhando para trás, percorrendo os seus empregos
desde que começou a carreira, lembra-se de algum chefe que merecesse
tamanha recepção? Provavelmente até se lembra de alguns cuja saída
pudesse motivar uma festa, mas por razões bem diferentes...
Mas pode honestamente dizer que só houve maus chefes no seu caminho?
Excepto
em casos de puro azar, a verdade é que nos cruzamos com todo o tipo de
gente na vida profissional. E da mesma forma que há colegas bons e maus,
também há bons e maus chefes. Há porém uma certa dose de preconceito em
admitir - ou, mais concretamente, em reconhecer - que quem está acima
de nós é bom. Mesmo quando já conhecemos a pessoa, ao vê-la sentada numa
cadeira de maior poder nasce uma certa desconfiança em relação à sua
agenda, não podemos evitar olhar de lado e sentir que alguma coisa está
diferente.
Na maioria das vezes, a única coisa que mudou foi a
nossa própria maneira de encarar aquela pessoa, agora que foi promovida.
E acabamos por sabotar essa nova relação de poder ao estar sempre de pé
atrás. Se desconfiamos, vamos criar desconfiança; se nos afastamos, é
inevitável que a distância aumente. E quando o mal estiver feito, não há
benesse que sejamos capazes de encarar como algo simplesmente bom que
está a acontecer - vamos sempre encontrar-lhe motivações enviesadas
escondidas.
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Não é que Sebba tivesse premiado todos os seus
funcionários com sucessivos aumentos ou mandado instalar salas de jogos e
permitido à sua equipa coisas magníficas, impensáveis nas empresas
comuns. O trunfo que valeu a Sebba tamanho reconhecimento foi, além da
competência, o facto de tratar as pessoas à sua volta com respeito e
justiça.
E se é verdade que essas características não são assim
tão simples de encontrar nos escritórios, também é verdade que, quando
existem, tendemos a tomá-las por garantidas. Podemos ter sofrido
horrores com um chefe tirano, mas quando ele é substituído e, ao fim de
algum tempo, conseguimos reconhecer que já vamos felizes para o
trabalho, simplesmente consideramos que isso é que é normal, logo não há
motivos para alarde.
No entanto, da mesma forma que ter
reconhecimento dos colegas e chefes é um dos factores que mais pesam na
balança da nossa felicidade no trabalho, também é importante dar esse
feedback àqueles que estão à nossa volta e acima. Não é dar graxa - não
precisa de fazer uma festa ou elogiar cada gesto de atenção -, mas
mostrar-lhe de vez em quando que as suas atitudes são prezadas,
reconhecidas e apreciadas constitui um estímulo para que esses gestos se
repitam. O que vai melhorar cada vez mais a sua vida no escritório.
Gestos
simples como uma genuína demonstração de solidariedade num momento
difícil da empresa ou abertura ao diálogo quando alguma tensão se
instala são fundamentais também para aumentar a confiança recíproca. Não
precisa de dizer que sim a tudo, mas só tem a ganhar se o seu primeiro
impulso não for sempre dizer que não ou criar dificuldades.
Se
fizer o seu trabalho o melhor que sabe e pode e começar a ver no seu
chefe não um inimigo mas um aliado, as coisas só podem começar a correr
bem. A menos que o seu chefe seja realmente um cretino. E nesse caso, o
melhor que tem a fazer é esperar que passe - com a certeza de que a
incompetência e o desrespeito não duram para sempre.
Subdirectora do Diário de Notícias
IN "DINHEIRO VIVO"
23/04/15
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