25/04/2015

JOANA PETIZ

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Alguma vez teve 
um chefe assim? 

Poderá Mark Sebba ficar para a história como o CEO mais querido do mundo pelos seus funcionários?

Quando o presidente do site Net-A-Porter decidiu sair da companhia, depois de mais de dez anos no cargo, tinha um sentimento de dever cumprido. Mas provavelmente nunca imaginou que era tão querido na empresa que os seus funcionários lhe organizariam uma surpreendente flashmob para agradecer tudo o que fizera por eles. O momento foi grandioso e memorável e acabou mesmo por fazer notícia em jornais.
 


Imagina-se capaz de fazer o mesmo? Olhando para trás, percorrendo os seus empregos desde que começou a carreira, lembra-se de algum chefe que merecesse tamanha recepção? Provavelmente até se lembra de alguns cuja saída pudesse motivar uma festa, mas por razões bem diferentes...
Mas pode honestamente dizer que só houve maus chefes no seu caminho?

Excepto em casos de puro azar, a verdade é que nos cruzamos com todo o tipo de gente na vida profissional. E da mesma forma que há colegas bons e maus, também há bons e maus chefes. Há porém uma certa dose de preconceito em admitir - ou, mais concretamente, em reconhecer - que quem está acima de nós é bom. Mesmo quando já conhecemos a pessoa, ao vê-la sentada numa cadeira de maior poder nasce uma certa desconfiança em relação à sua agenda, não podemos evitar olhar de lado e sentir que alguma coisa está diferente.

Na maioria das vezes, a única coisa que mudou foi a nossa própria maneira de encarar aquela pessoa, agora que foi promovida. E acabamos por sabotar essa nova relação de poder ao estar sempre de pé atrás. Se desconfiamos, vamos criar desconfiança; se nos afastamos, é inevitável que a distância aumente. E quando o mal estiver feito, não há benesse que sejamos capazes de encarar como algo simplesmente bom que está a acontecer - vamos sempre encontrar-lhe motivações enviesadas escondidas.
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Não é que Sebba tivesse premiado todos os seus funcionários com sucessivos aumentos ou mandado instalar salas de jogos e permitido à sua equipa coisas magníficas, impensáveis nas empresas comuns. O trunfo que valeu a Sebba tamanho reconhecimento foi, além da competência, o facto de tratar as pessoas à sua volta com respeito e justiça.

E se é verdade que essas características não são assim tão simples de encontrar nos escritórios, também é verdade que, quando existem, tendemos a tomá-las por garantidas. Podemos ter sofrido horrores com um chefe tirano, mas quando ele é substituído e, ao fim de algum tempo, conseguimos reconhecer que já vamos felizes para o trabalho, simplesmente consideramos que isso é que é normal, logo não há motivos para alarde.

No entanto, da mesma forma que ter reconhecimento dos colegas e chefes é um dos factores que mais pesam na balança da nossa felicidade no trabalho, também é importante dar esse feedback àqueles que estão à nossa volta e acima. Não é dar graxa - não precisa de fazer uma festa ou elogiar cada gesto de atenção -, mas mostrar-lhe de vez em quando que as suas atitudes são prezadas, reconhecidas e apreciadas constitui um estímulo para que esses gestos se repitam. O que vai melhorar cada vez mais a sua vida no escritório.

Gestos simples como uma genuína demonstração de solidariedade num momento difícil da empresa ou abertura ao diálogo quando alguma tensão se instala são fundamentais também para aumentar a confiança recíproca. Não precisa de dizer que sim a tudo, mas só tem a ganhar se o seu primeiro impulso não for sempre dizer que não ou criar dificuldades.

Se fizer o seu trabalho o melhor que sabe e pode e começar a ver no seu chefe não um inimigo mas um aliado, as coisas só podem começar a correr bem. A menos que o seu chefe seja realmente um cretino. E nesse caso, o melhor que tem a fazer é esperar que passe - com a certeza de que a incompetência e o desrespeito não duram para sempre.

Subdirectora do Diário de Notícias

IN "DINHEIRO VIVO"
23/04/15



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