a_falar_nos_
(des)entendemos
Por regra as pessoas falam mal. Não que falem mal de alguém, porque
isso é com elas. Falam mal porque usam mal a língua portuguesa. Erros
gramaticais, erros de concordância, tempos verbais errados e uma palete
de inovações que destroem um património comum verdadeiramente
incalculável. Não, as pessoas não têm noção do quanto degradam a sua
identidade nacional, o seu espaço e a sua individualidade utilizando mal
a sua língua.
A linguagem não é uma ferramenta para exprimirmos o nosso pensamento. A linguagem é o pensamento. Narrativas mais confusas, erróneas e menos precisas mostram também um pensamento menos fluente. Numa palavra; falar mal é pensar mal. A palavra é o pensamento.
Quando pensamos em abstrato, de olhos fechados e sem verbalizar, estamos
a pensar com palavras. São as palavras que povoam a nossa memória, o
nosso pensamento e a nossa imaginação. E pensar em português é
seguramente muito diferente do que pensar em inglês ou alemão, apenas
como exemplo.
Ora; aqui chegados torna-se fácil perceber que a forma como nos exprimimos é exatamente proporcional à nossa capacidade de pensar. A linguagem não é um meio para o pensamento; é o próprio pensamento.
Neste contexto as novas redes sociais móveis de que já aqui me confessei grande adepto (instagram ou twitter) educam-nos numa linguagem minimal, uniforme e demasiado simplista, que só nos reduzem e atomizam na forma como nos exprimimos.
E por último: escrever fácil é, seguramente, um exercício difícil.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
28/11/14
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