31/08/2014

PEDRO TADEU

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Pluralismo nos jornais

Recuso cometer a indelicadeza de não assinalar o agradecimento que devo a João Marcelino por a 29 de setembro de 2010 me ter nomeado subdiretor do Diário de Notícias. Foi um prazer trabalhar com alguém que gostava que discordassem dele. E foi a primeira vez, ao fim de 35 anos, que um jornalista publicamente identificado como militante do PCP ocupou um cargo de direção neste jornal, o que vale algo mais do que a mera curiosidade histórica: a decisão do João, um não comunista, em nomear-me concretiza o seu pensamento sobre o valor inestimável para a comunicação social de aliar a competência técnica e profissional ao pluralismo ideológico, cultural e estético. João Marcelino é um democrata. Para mim, ele foi, também, um bom diretor do Diário de Notícias.

Já agora aproveito para felicitar André Macedo, que, pelo que conheço, parece ter todas as qualidades profissionais para se sair bem como diretor deste jornal. É uma escolha feliz.

O imperativo ético que acabo de satisfazer fez-me lembrar uma frase de José Manuel Fernandes, antigo diretor do Público (jornal rival do DN), líder do site Observador e igualmente insuspeito de simpatias comunistas. No ensaio "Liberdade e Informação" ele escreve: "O pluralismo não pode ser medido apenas pela aparição dos líderes políticos no noticiário, pois tão ou mais importante é a adopção, de forma assumida ou inconsciente, das suas agendas pelas redacções. Basta pensar na forma calorosa com que muitas causas do Bloco de Esquerda têm sido acolhidas nos noticiários e nas colunas dos jornais, por contraste com a indiferença ou mesmo hostilidade aos temas habituais do discurso do PCP."

A falta de pluralismo é, para mim, mais grave nos noticiários internacional, económico e cultural, onde as correntes dominantes esmagam qualquer visão alternativa sem que a isso, sequer, corresponda um movimento sério de protesto de consumidores ou de grupos de pressão minoritários, ao contrário do que acontece na política.

E porque estou a matutar nisto? Por causa das mudanças no DN? Não. Essas até me dão esperança. O que não me sai da cabeça, depois de um fim de semana de trabalho colado a um mês de férias, é ao domingo os noticiários principais quase só analisarem e discutirem o que Marques Mendes disse no sábado à noite na SIC e, às segundas-feiras, a operação repetir-se em variações aos motes dados, na véspera, por Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI.

Eu gosto de os ouvir, mas, francamente, o mundo oferecido por eles é demasiado pequenino e manipulado para ter tanta importância. Estamos a precisar, portanto, de visões mais amplas da realidade. Estamos, em suma, a necessitar de pluralismo, começando por interiorizar o conceito nas nossas cabeças e nas nossas escolhas pessoais. Mais uma vez, obrigado João Marcelino.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
26/08/14


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