Marinho Pinto
na Casa dos Segredos
Dois meses depois de ter sido eleito para o Parlamento Europeu,
Marinho Pinto veio revelar que abandonará o cargo já em 2015, cumprindo
apenas um dos cinco anos do seu mandato.
«Tenciono candidatar-me à Assembleia da República, onde faço
mais falta para resolver os problemas políticos dos portugueses»,
confessa com a sua habitual modéstia. «Isto sem prejuízo de, depois,
poder também candidatar-me às presidenciais» que ocorrem logo daí a três
meses, avisa Marinho. E fica a sensação de que poderá ainda concorrer à
presidência da Liga de Futebol, que está vaga, ou a um lugar de
destaque na Casa dos Segredos. Qualquer coisa que lhe dê notoriedade,
audiências e visibilidade pública. Sabe-se que o ex-bastonário dos
advogados gosta de subir a qualquer palco e de se mostrar ao povo.
Ora, Estrasburgo tem palco, mas não lhe dá grandes hipóteses de
protagonismo, sendo ele apenas mais um no meio de 751 figurantes que
compõem o PE. Ao perceber isso, Marinho Pinto ainda mal chegou e já está
de saída. À primeira vista, faz lembrar as eurodeputadas socialistas
Ana Gomes e Elisa Ferreira que, em 2009, concorreram em simultâneo às
europeias e às autárquicas, sabendo que só poderiam cumprir um desses
cargos.
Mas, num segundo momento, Marinho torna inevitável a comparação com
Fernando Nobre. Que deixou uma votação presidencial episódica subir-lhe à
cabeça e, apesar de encher os seus discursos de proclamações éticas e
declarações de princípios, viria a desistir do seu lugar de deputado mal
viu que não conseguia ser eleito presidente da AR e que não teria o
protagonismo prometido.
Tal como Nobre, Marinho tem feito a sua curta carreira na política à
base de um posicionamento pseudo-independente, supostamente
antissistema, em tom justiceiro e de cariz populista, sem ideias
políticas mas com muitas denúncias de interesses e injustiças. Rende
dividendos e dá votos, mas esgota-se e esvazia-se em pouco tempo.
Marinho Pinto argumenta que vai abandonar o seu lugar em Estrasburgo
porque «os problemas nacionais são mais graves que os europeus». Sem
esquecer, claro, no seu caso, que os problemas pessoais ainda são mais
graves que os nacionais.
IN "SOL"
18/08/14
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