A vida em contradição
E agora vemos os novos fascistas a fazerem a mesma coisa aos nossos filhos. É duro!
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Por natureza, sou uma pessoa positiva, pelo menos é o
que pensava até há pouco tempo. Agora, estou cada vez mais revoltada
com muita coisa e há dias em que parece que tudo porque lutámos uma vida
inteira se escapa por entre os dedos, como se fossemos meras marionetes
de papel.
Não é fácil ver sofrer os que mais amamos. Não é fácil perder
rendimentos e receber agora menos do que há 8 anos atrás. Não é fácil
ver os filhos, sobrinhos e amigos, jovens, sem direito a férias e
subsídios, direitos conquistados durante uma vida de trabalho. Tínhamos
tanto orgulho, pois estávamos a deixar para a nova geração direitos que
nos tinham sido roubados pelo fascismo. E agora vemos os novos fascistas
a fazerem a mesma coisa aos nossos filhos. É duro!
Não é fácil lutar por uma sociedade mais igualitária, onde mulheres e
homens sejam tratados com todo o respeito. Depois vemos que alguns
desses homens ainda pensam que a mulher é sua propriedade e, por isso,
podem dar-se ao luxo de as espezinhar e assassinar, quando elas se
recusam a ser humilhadas e decidem querer seguir a sua vida com
dignidade.
O mais arrepiante é que ainda tenham de ser as mulheres maltratadas a
sair de casa, levando os filhos atrás, e que alguns desses agressores
fiquem impunes, só porque não foram apanhados em flagrante delito,
quando o seu lugar deveria ser na prisão ou noutro sítio, para cumprirem
pena pelo delito de agressão.
Não é fácil ver que, politicamente e partidariamente, tínhamos razão
quando denunciávamos que a riqueza estava muito mal distribuída. Que
havia fortunas e negócios muito mal esclarecidos. Que era uma vergonha
os bancos não pagarem os mesmos impostos. Que os off-shores serviam para
lavar dinheiro sujo. Que a Troika foi um embuste para nos endividar
ainda mais. Etc… Agora vemos que aqueles que nos chamaram de mentirosos e
esquerdistas, que nos humilharam e influenciaram a opinião pública
contra nós, vêm dizer o mesmo e até defendem a criminalização destes
crimes, cujo exemplo mais recente é o caso do BES, embora já tivessem
existido outros, e preparemo-nos que outros podem seguir o mau exemplo.
Não é fácil ver cada vez mais guerras, das quais as pessoas inocentes
têm sido as principais vítimas. O exemplo de Gaza e a atitude de Israel
é deveras repugnante.
Se sabem, como eles dizem, que o Hamas escuda-se nas populações,
porque mandam mísseis para matar essas mesmas populações? Para 1949
mortes de Palestinianos, a maioria civis e muitas mulheres e crianças,
morreram 55 soldados Israelitas. Em Gaza, foram atacados bairros
habitacionais, escolas e hospitais, quando o pretexto para esta invasão
são os túneis do Hamas. É caso para dizer que os Israelitas “entraram a
matar” deliberadamente, e os Palestinianos apenas tentam se defender de
quem os ataca, e pelos vistos muito mal porque a correlação de forças é
demasiado penalizadora para eles.
Não é fácil viver neste mundo onde, cada vez mais, cada um se safa
como pode, por vezes esquecendo-se que nada do que se passa à nossa
volta nos pode ser indiferente. Nem as festas de verão nos podem fazer
esquecer dos que sofrem, quer por estarem doentes, quer por serem
vítimas de maus tratos ou de guerras que sempre são injustas.
Muito menos podemos deixar de estar despertos contra o roubo dos
nossos direitos e prepararmos uma verdadeira alternativa que reforce
todo(as) os(as) que acreditam que isto só vai para a frente com outras
políticas, sem alternâncias Troikanas e sem tratados orçamentais de
austeridade, que só visam penalizar os mesmos de sempre.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
05/08/14
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