Vergonhoso
Pensionistas, funcionários públicos, professores, PME’s e trabalhadores
(etc) sofrem com a austeridade enquanto Ricardo Salgado paga três
milhões de fiança e sai em liberdade.
O contribuinte contribui mas o
banqueiro refugia-se numa legalidade deveras nauseabunda. Os factos
transformam-se subitamente numa densa neblina. Nós, cidadãos,
vislumbramos apenas um simulacro labiríntico da realidade. Fala-se muito
mas sabe-se muito pouco acerca dos contornos desta colossal trama
financeira. A nefasta teia de cumplicidades que este escândalo evidencia
parece transcender as fronteiras retilíneas da partidocracia vigente.
São muitos os envolvidos e nem todos pertencem á mesma tribo. Nada
parece escapar á força gravitacional da suspeita que alastra-se
inexoravelmente pela sociedade. A cumplicidade dos muitos envolvidos
dificulta a interpretação lúcida dos eventos. Nada é claro. O real
parece uma mensagem encriptada. A linguagem que molda a narrativa é
bizarra e alienante: “steering committee”, “time-line”, etc. A crença de
que existe um mundo para além deste, paradoxalmente ocultado pela
“transparência democrática”, depressa transformar-se numa certeza
revoltante. Os céticos sentem-se vindicados, os ingénuos ultrajados.
O
Primeiro-Ministro Passos Coelho já percebeu que o futuro eleitoral da
coligação depende em grande parte do desenrolar deste imbróglio. É
verdade que não pode intervir em questões do foro judicial mas deve e
pode fazer tudo para que não seja o estado Português (isto é, todos nós)
a pagar pela irresponsabilidade e ganância dos senhores que criaram
este problema. Não pode ser ou parecer negligente ao lidar com este
delicado assunto.
O Presidente Obama emprestou biliões de dólares á
banca americana. Conseguiu assim impedir a mui temida “contaminação
sistémica”. Não hesitou ajudar os banqueiros mas exigiu que todos os
fundos disponibilizados pelo estado a Wall Street fossem pagos
atempadamente e com juros. Além disso, criou um novo e mais austero
sistema de regulação financeira. Os bancos pagaram as suas dívidas e
adaptaram-se á nova moldura legal. É absolutamente imperativo que o
governo Português aja de forma similar. Não apenas por interesse próprio
mas em nome da legitimidade da democracia em que vivemos. Bem vistas as
coisas, esta pode ser uma oportunidade de ouro para o
Primeiro-Ministro. Só tem que ser justo, corajoso e resoluto. Não é
pedir muito.
IN "AÇOREANO ORIENTAL"
19/08/14
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