Bem-digo
Muito se maldiz. Dá gozo, rende aplausos, não
compromete e, acima de tudo, é muito fácil maldizer. Mais ainda quando
feito em matilha - todos a ladrar e a morder sem correr riscos
demasiados.
Para não destoar, vou maldizer – os maldizentes. O que me move é
ajudar a esclarecer. E começo por esclarecer que nunca estive com ela.
Nunca sequer respirei o mesmo ar que ela. Conheço-a basicamente a partir
do que me mostram os seis écrans de tv que rodeiam o ponto em que me
sento neste momento (lá em casa, tv é quase só para mostrar futebol).
Há uma mentira que se lhe cola há mais de um ano por causa dos
contratos swap. Diz-se que mentiu porque disse que tinha "começado do
zero" quando, afinal, o anterior Governo já tinha reunido e entregue ao
actual alguma informação sobre o assunto.
Bem sei que, nestes tempos de redes sociais, o que está a dar é ter
opiniões rápidas e impiedosas. Não consegui ter opiniões rápidas (embora
não tão lentas que demorassem um ano a formar) nem tirar conclusões
definitivas pelo que ouvi e li (ainda na semana passada, o Expresso
escrevia que as suas contradições levaram à instauração de uma comissão
de inquérito pela Assembleia da República). Na dúvida, acabei a ler as
longas actas da comissão parlamentar de inquérito que, de facto,
existiu: a Comissão Eventual de Inquérito à celebração de contratos de
gestão de risco financeiro por empresas do sector público. E, na longínqua página 76, o que está lá é isto:
"O Sr. Paulo Sá (PCP): - A Sr.a Secretária de Estado quase que disse
que teve de começar o trabalho do nada, que não vinha do anterior
Governo nenhum trabalho feito nesta área. É isto que quer dizer?
A Sr.a Secretária de Estado do Tesouro: - Sr. Presidente, Sr.
Deputado, de facto, relativamente a esta matéria e para lidar com o
problema, não havia nenhum trabalho feito e ele começou do zero, sim.
Confirmo isso. Tirando o reporte da informação, que tinha já sido
estabelecido na vigência do Governo anterior, tirando o reporte da
informação nos relatórios da DGTF, de facto, nada mais estava feito."
Omitir parte do que é dito para, com a restante, alimentar acusações
de mentira pode ser má-fé, preguiça, distração, vai-na-onda, ou tudo
junto. Bom serviço público, é que não é.
Sobra o sentido de Estado de Maria Luís Albuquerque.
Bem-digo, portanto.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
20/08/14
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