16/08/2014

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254.
Senso d'hoje


MATHIEU RICARD
MONGE BUDISTA
SOBRE A FELICIDADE


Um dos maiores desafios da atualidade consiste em conciliar os imperativos da economia, da procura da felicidade e do respeito pelo ambiente. A economia e a finança evoluem a um ritmo cada vez mais rápido; a satisfação de vida mede-se com base num pro­jeto assente numa carreira, numa família, numa geração; e o am­biente, que tradicionalmente se media em eras geológicas, está, hoje, devido aos transtornos ecológicos provocados pelas ativi­dades humanas, em rápida mudança. Precisamos de um fio de Ariana que nos permita encontrar o caminho neste labirinto de preocupações graves e complexas. O altruísmo é o fio que nos po­de permitir ligar naturalmente as três escalas de tempo – curto, médio e longo prazo – harmonizando as suas exigências.

As circunstâncias da vida podem ser muito difíceis, mas é preciso lembrarmo-nos de que há mil maneiras de viver a ad­versidade. Quando somos confrontados com situações que não escolhemos, o modo como vivemos as coisas pode agravá-las consideravelmente, ou aligeirá-las. A nossa mente pode ser o nosso melhor amigo ou o nosso pior inimigo. Por muito influen­tes que possam ser as condições externas, o mal-estar, tal como o bem-estar, é essencialmente um estado interior. Devemos assim fazer todos os possíveis para melhorar as condições exteriores e a qualidade de vida, para enfrentar as desigualdades salariais e de riqueza que vão crescendo na maior parte dos países da OCDE e que são particularmente visíveis em Portugal, mas é importante não colocar todas as nossas esperanças fora de nós. É que pode­mos ser muito infelizes quando aparentemente temos tudo para ser felizes e, ao contrário, sermos serenos na adversidade.

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