07/06/2014

CLARA MACEDO CABRAL

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Os dias que se seguem

A vitória do Ukip nas eleições europeias do Reino Unido teve aspectos positivos.

Subitamente, na BBC Radio 4, ouço os políticos ingleses mais euroentusiastas saírem do armário e ganharem tempo de antena. John Major, Ken Clarke e Tony Blair, embora a grande impopularidade de Blair possa ser mais maléfica que benéfica à causa. Estamos já a ouvir as questões que, caso o referendo vá avante, se levantarão a favor ou contra a permanência do Reino Unido da UE. Não seria mais inteligente para o Reino Unido reformar e liderar dentro da UE que bater com a porta?

No crescente mundo de superpotências económicas que nos traz o século xxi (China e Índia) talvez nunca tenha feito tanto sentido integrar a aliança do mercado comum. Poder, peso e influência não se ganham pelo abandono do maior mercado mundial. Afinal, este país está a recuperar melhor da crise económica que muitos por essa Europa fora; penalizar imigrantes não irá expurgá-lo de problemas internos.

É importante saber-se que uma vasta maioria de britânicos está descontente e ressentida com a eurocracia, o excesso de regulação, a alienação de soberania e poderes a que obriga Bruxelas e com as transformações que a UE sofreu, desde os dias fundadores do Mercado Comum. E não deseja, nem por sombras, Mais Europa, ou trilhar o caminho da integração, seja pela união bancária, seja pela supervisão dos orçamentos. David Cameron, que sempre foi a favor de Menos Europa, sente-se reinvestido de legitimidade e força para braços-de-ferro com a UE, mas está na difícil posição de não poder esticar de mais a corda, sob pena de a rebentar.

Margaret Thatcher afirmou em 1988 que a "Grã-Bretanha não sonha com uma existência confortável e isolada nas franjas da Comunidade Europeia". Valha-nos existir ainda neste país uma maioria progressiva e uma forte tradição pragmática que o proíbem de abraçar extremismos. Porém, as ilusões não são grandes; requer-se flexibilidade para salvar o sonho europeu, esse ideal supranacional cujo fim nos empobreceria a todos. Se um modelo e líderes pró-federalistas estão longe de ser consensuais, encontrem-se os líderes que, convivendo com as forças antieuropeístas, recentrem a UE nos assuntos centrais à sua existência e matérias em que o interesse europeu prevaleça.

 A UE terá de regular em menor extensão e imiscuir-se menos em assuntos que irritam e atrapalham as vidas dos cidadãos. Enterrará assim de vez o temido papão da soberania dos estados.


Escritora, a viver em Londres desde 2005 

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05/06/14

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