Os dias que se seguem
A vitória do Ukip
nas eleições europeias do Reino Unido teve aspectos positivos.
Subitamente, na BBC Radio 4, ouço os políticos ingleses mais
euroentusiastas saírem do armário e ganharem tempo de antena. John
Major, Ken Clarke e Tony Blair, embora a grande impopularidade de Blair
possa ser mais maléfica que benéfica à causa. Estamos já a ouvir as
questões que, caso o referendo vá avante, se levantarão a favor ou
contra a permanência do Reino Unido da UE. Não seria mais inteligente
para o Reino Unido reformar e liderar dentro da UE que bater com a
porta?
No crescente mundo de superpotências económicas que nos traz o
século xxi (China e
Índia) talvez nunca tenha feito tanto sentido integrar a aliança do
mercado comum. Poder, peso e influência não se ganham pelo abandono do
maior mercado mundial. Afinal, este país está a recuperar melhor da
crise económica que muitos por essa Europa fora; penalizar imigrantes
não irá expurgá-lo de problemas internos.
É importante saber-se que uma
vasta maioria de britânicos está descontente e ressentida com a
eurocracia, o excesso de regulação, a alienação de soberania e poderes a
que obriga Bruxelas e com as transformações que a UE sofreu, desde os
dias fundadores do Mercado Comum. E não deseja, nem por sombras, Mais
Europa, ou trilhar o caminho da integração, seja pela união bancária,
seja pela supervisão dos orçamentos. David Cameron, que sempre foi a
favor de Menos Europa, sente-se reinvestido de legitimidade e força para
braços-de-ferro com a UE, mas está na difícil posição de não poder
esticar de mais a corda, sob pena de a rebentar.
Margaret Thatcher
afirmou em 1988 que a "Grã-Bretanha não sonha com uma existência
confortável e isolada nas franjas da Comunidade Europeia". Valha-nos
existir ainda neste país uma maioria progressiva e uma forte tradição
pragmática que o proíbem de abraçar extremismos. Porém, as ilusões não
são grandes; requer-se flexibilidade para salvar o sonho europeu, esse
ideal supranacional cujo fim nos empobreceria a todos. Se um modelo e
líderes pró-federalistas estão longe de ser consensuais, encontrem-se os
líderes que, convivendo com as forças antieuropeístas, recentrem a UE
nos assuntos centrais à sua existência e matérias em que o interesse
europeu prevaleça.
A UE terá de regular em menor extensão e imiscuir-se
menos em assuntos que irritam e atrapalham as vidas dos cidadãos.
Enterrará assim de vez o temido papão da soberania dos estados.
Escritora, a viver em Londres desde 2005
IN "i"
05/06/14
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