Cortar salários é
o grau zero
da gestão
Este sábado tomei uma decisão. Não voltarei mais ao health club que frequentava regularmente e o motivo é muito simples. Não sendo o sítio ideal, tinha bons preços e eu gostava do serviço, mas apercebi-me que os trabalhadores não recebiam os salários, em muitos casos o salário mínimo, a tempo e horas, e que este mês, lhes tinha sido feita uma proposta de pagamento em prestações.
Poderão dizer que a minha atitude ainda poderá piorar um pouco mais o
negócio e logo a situação dos trabalhadores. Sim, no limite, se todos
os clientes fizessem o mesmo, o tal health club teria que fechar portas e
despejar para o desemprego todos os que lá trabalham.
Mas não é
argumento, como não é tolerável aquilo que o presidente do BCP vem
dizer. Nuno Amado diz que os salários dos seus trabalhadores serão
cortados entre 5% e 10% e que, por isso, será possível salvar, no
máximo, 500 postos de trabalho. Esta relação direta e exclusiva não
existe. O problema do BCP não está, exclusivamente, nos trabalhadores
que, supostamente, tem a mais. O problema do BCP, e de outras empresas,
está no excesso de trabalhadores, considerando a atual situação
económica, mas também, senão sobretudo, numa série de erros de gestão,
passados e presentes.
Confrontar os trabalhadores com esta
inexistência de alternativa é o nível zero da gestão. E aquilo que não
vejo é os presidentes dos bancos e das empresas, passados e presentes, a
assumir erros de gestão. Vejo-os a imputarem culpas e responsabilidades
à EBA e aos supervisores, que impõem rácios de capital e de liquidez
cada vez mais exigentes, vejo-os a queixarem-se do Estado e da economia,
mas nenhum chegar aos jornais e explica o que é que não fez, a tempo e
horas, ou simplesmente fez mal, para, agora, ser necessário cortar nos
salários dos trabalhadores. Se os cortes salariais se transformaram numa
fatalidade foi porque a gestão foi má, muito má.
Longe de mim
querer comparar o meu ex-health club com o BCP, muito menos quero apelar
ao boicote aos serviços do banco, acima de tudo, porque Nuno Amado é um
bom gestor e não será, seguramente, responsável pela maior parte dos
erros de gestão praticados no banco que agora lidera. Mas nenhum gestor
pode simplificar uma decisão destas assim: ou corto, ou despeço, sem
mais nem menos, sem explicações. O que foi feito para evitar o corte dos
salários e o que é que correu mal para não conseguir evitar os cortes
de salários. Expliquem-se os gestores.
05/12/13
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