Gostar de Portugal
Gosto de Portugal, Gosto dos Portugueses! Estou fora de Portugal há 6 anos e meio e sou filha de mãe alemã com alma Portuguesa, o que me permite olhar para Portugal com alguma distância intelectual; a emocional torna-se mais difícil.
.
Ser português é fácil quando se está fora.
Somos uma nacionalidade mundialmente bem recebida, sem conflitos com
nenhuma nação, que se integra bem onde chega e de trato fácil, além de
sermos considerados trabalhadores. Quem já visitou Portugal tem
normalmente só comentários positivos a fazer, com os quais eu concordo. A
simpatia, a humildade e o bem-receber dos portugueses são
características que me enchem de orgulho e das quais sinto muito falta.
Temos um País pequeno cheio de contrastes paisagísticos e gastronómicos
que o tornam maior. Um País cheio de sol, de luz, de boa comida, de bons
vinhos e que sabe aproveitar o lado bom da vida. Há, quando
conseguimos, uma leveza no nosso estilo de vida.
.
Somos um País com serviços de alta qualidade e por vezes temos de
sair para perceber quanta. Tive um problema com a minha conta de
electricidade em Portugal e bastaram dois telefonemas e a leitura
correcta do contador para o resolver. Em Bruxelas, onde vivi durante 6
anos, isto seria impensável. Teria pela frente uma batalha burocrática
de pelo menos 3 meses. O nosso sistema multibanco poupa-nos anos de
vida...na Suíça para carregar o telemóvel há que ir aos correios ou à
empresa e pasme-se, para comprar um bilhete de comboio temos de ter um
computador ou ir à estação. Já nem falo do célebre jeitinho português
que tantas vezes no salva quando estamos perdidos na burocracia e que
pouco ou nada existe em certos países.
Outro ponto positivo é o nosso horário do comércio. Poder fazer
compras tarde e ao fim de semana é algo de sinto muita falta. Tanto em
Bruxelas como em Genebra o Sábado é dedicado às compras uma vez que
durante a semana os horários não são compatíveis com quem trabalha.
.
Gosto de Portugal e gosto tanto que tenho muita pena dos nossos
defeitos colectivos, que infelizmente nos prejudicam tanto como a nossa
beleza natural nos beneficia.
.
Para quem está fora uma das primeiras constatações é a nossa falta de
capacidade de desenvolver métodos de trabalho. Reuniões começam à hora,
têm agendas pré-definidas e hora de término igualmente definida. Os
prazos são meramente indicativos e as tarefas deverão estar terminadas
com a antecedência necessária para uma revisão final. No local de
trabalho trabalha-se e uma vez terminado o dia ainda há tempo para
outras actividades. Produtividade conta e não a quantidade de horas que
se passa no emprego. Este é para mim um dos grandes erros na nossa
organização enquanto Pais. Se trabalharmos todos mais depressa e melhor,
teremos mais tempo para nós e para outras actividades que, não só nos
darão prazer, como eventualmente nos permitirão crescer em outras áreas
que não só a profissional. Basta ver que somos aparentemente os europeus
que brincam menos com os filhos. Aqui sim precisamos de uma maior
inteligência emocional até por parte dos empregadores que devem
incentivar que os seus trabalhadores/ funcionários tenham uma vida
privada que os preencha, o que certamente terá um efeito positivo na sua
produtividade e eficácia. Portugal tem de começar a apostar na
produtividade eficaz, com objectivos concretos, mensuráveis e
verificáveis.
.
Enquanto colectivo temos uma incapacidade de pensar a médio ou longo
prazo. Somos uns eternos Peter Pan com necessidade de recompensa
imediata. Temos muita dificuldade em perceber que existem determinados
esforços, estratégias, investimentos, que só produzirão resultados a
longo prazo. Isto impede-nos de planear a médio e longo prazo e em
sermos capazes de perceber que há sacrifícios e esforços que se fazem em
nome do colectivo e que poderão garantir o futuro de gerações
vindouras. Esta nossa incapacidade afecta todo o nosso espectro
societário e é independente do nível educacional. Este tem sido um dos
nossos maiores problemas desde há vários séculos. O ganho imediato
supera qualquer tentativa de visão futura e será mal recebido quem remar
contra a maré.
.
Precisamos de começar a premiar a inteligência em detrimento do "chico esperto" que vive de esquemas e cunhas.
.
Somos pouco unidos e vítimas de um complexo de inferioridade
colectiva que nos persegue há séculos. Não há nada de errado em termos
orgulho do nosso País e dos nossos feitos colectivos, da nossa cultura,
língua, forma de estar e viver. E sim, lá fora outras nacionalidades,
que não a nossa, protegem-se, unem-se e juntas defendem os interesses do
seu Pais, sem vergonha. Vivi esta realidade na Comissão Europeia e
posso dizer que essa união não é mal vista mas sim encarada com
normalidade.
.
Muito mais haveria a analisar mas termino dizendo que, embora por
vezes me pergunte como seria a minha vida se tivesse outra
nacionalidade, ainda tenho esperança que esta crise que agora
atravessamos, não seja só mais uma mas que nos ajude a conseguir fazer
as alterações de mentalidade necessárias para transformar o nosso País
num local ainda mais agradável para se viver.
Volto ao início...Gosto de Portugal!
Licenciada em Direito, tem 44 anos e
trabalha na Organização Internacional das Migrações em Genebra depois de
6 anos na Comissão Europeia em Bruxelas.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
02/08/13
.
Sem comentários:
Enviar um comentário