Defender o SNS
é extinguir a ADSE
É
do tempo dos meus pais mas esta semana voltou a ser notícia. Parece que
a ADSE paga tratamentos que são recusados no Serviço Nacional de Saúde.
Nada de mais. Não fosse o insignificante pormenor de serem os
contribuintes a pagar a ADSE.
Comecemos pelo princípio. O que é a
ADSE? A ADSE é uma direcção-geral sob tutela do Ministério das Finanças.
Foi criada em 1963, durante o Estado Novo, e servia para servir saúde
aos funcionários públicos. Estado Novo, repito.
Entretanto veio a
democracia. E o Serviço Nacional de Saúde. E alguém se esqueceu de
extinguir a ADSE. A coisa ficou mais ou menos assim dividida: SNS para o
povo e ADSE para os seus funcionários. Em vez de melhorar, isto ainda
ficou pior. O mesmo Estado dono dos hospitais públicos passou a
financiar a ida dos seus funcionários aos hospitais privados. À
concorrência, portanto. É mais ou menos a mesma coisa que a
administração da SONAE criar um cartão de desconto para os seus
funcionários usarem nos hipermercados Jumbo. Com uma diferença. A SONAE
tem receitas próprias. Fará o que entender do seu dinheiro. O Estado não
tem receitas próprias. Aquele dinheiro é meu.
O Estado tem um
serviço de saúde e depois explica que os seus trabalhadores não precisam
de o frequentar. Isto tem outras consequências, para além dos 200
milhões de euros (ano!) que custa aos contribuintes.
Dizem os
homens de esquerda que temos, cada vez mais, uma saúde para ricos e uma
saúde para pobres. Têm razão. O acesso à saúde deixou de ser igual.
Deixou de ser social. E é o próprio Estado a dar o exemplo. O mau
exemplo. A consequência é a degradação do Serviço Nacional de Saúde.
Aquela coisa que tantos juram a pés juntos defender. Mas a defesa do SNS
começa aqui. Começa na extinção, pura e simples, da ADSE*.
*
Álvaro Beleza, membro do secretariado nacional do Partido Socialista,
defendeu esta mesma ideia. Tinha razão. Não custa admitir.
Jornalista
IN "i"
22/08/13
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