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O impressionante
contorcionismo económico
No que diz respeito à economia, quando fazemos a travessia do deserto não vemos miragens, vemos viragens
A 6 de Janeiro de 2012, Passos Coelho disse: "2012 será um ano de
viragem económica para o País". Depois, a 14 de Agosto, Passos Coelho
disse: "2013 será um ano de inversão da actividade económica em
Portugal". Mais tarde, a 21 de Dezembro, Passos Coelho disse: "2013 será
um ano de estabilização e de viragem que preparará o regresso do
crescimento em 2014." Ainda em 2012, a 25 de Junho, Paulo Portas tinha
dito: "Queria que soubessem que, sendo 2012 um ano difícil, esperamos
uma viragem de crescimento económico em 2013". Entretanto, a 23 de
Janeiro deste ano, Fernando Ulrich disse: "a emissão de dívida marca um
momento de viragem na economia portuguesa". No entanto, a 14 de Novembro
de 2011, Álvaro Santos Pereira disse: "2012 certamente irá marcar o fim
da crise e será o ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014". Por
outro lado, a 24 de Outubro de 2006, José Sócrates disse: "a economia
portuguesa está num momento de mudança e viragem".
Mas a 12 de Março de 2006, José Sócrates já havia dito que o seu
primeiro ano de Governo tinha sido "o ano da viragem para Portugal,
marcado pelo regresso da confiança".
A 17 de Junho de 2009, José Sócrates disse: "Estou muito convencido
de que a crise se inverterá já em 2010". Dois meses depois, José
Sócrates anunciou "um momento de viragem na economia portuguesa" que não
era "o fim da crise, mas sim o princípio do fim da crise". A 1 de Junho
de 2010, Sócrates registou "sinais positivos da inversão da tendência
do desemprego". Dois anos depois, a 4 de Maio de 2012, Cavaco disse
esperar, apoiado em indicadores positivos do nosso tecido empresarial,
"uma inversão da taxa de desemprego no segundo semestre" desse ano. Três
meses antes, a 25 de Fevereiro, Cavaco tinha dito: "Em termos de
ambição, seria muito importante que na parte final de 2012 já ocorresse
uma inversão da tendência " recessiva. Há cinco meses, a 6 de Março,
Cavaco disse que a espiral recessiva se mantinha e acrescentou: "o ano
2013 tem de ser o ano de inversão desta tendência".
E há duas semanas, a 12 de Julho, Passos Coelho disse que já havia
"sinais de viragem " na economia portuguesa. Em menos de 10 anos, e
tendo em conta apenas a opinião deste punhado de especialistas, a
economia portuguesa já passou por oito viragens e cinco inversões.
Aparentemente, no que diz respeito à economia, quando fazemos a
travessia do deserto não vemos miragens, vemos viragens. Fazendo a
conta, creio que são safanões económicos a mais, e o problema é sem
dúvida agravado pelo facto de haver um número ímpar de inversões e um
número par de viragens Para um país como Portugal que, à data do início
das viragens e inversões, se encontrava em recessão, passar por um
número par de viragens é prejudicial, na medida em que, terminada a
última viragem, o país continua a dar por si voltado na direcção do
empobrecimento.
No âmbito das inversões, aí sim, é possível dizer que a economia se
encontra virada para o progresso. Uma vez que a economia vira um pouco
mais vezes do que inverte, é possível que, não estando tudo na mesma,
esteja ligeiramente pior.
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