Que líder para o Porto?
A eleição para a presidência da Câmara do Porto está ao rubro. Luís
Filipe Menezes continua na frente, Manuel Pizarro está ainda aquém do
previsível e Rui Moreira saltou para um surpreendente segundo lugar. As
propostas, os ataques e os apoios, explícitos ou implícitos, sucedem-se a
um ritmo diário. Esta semana, o ainda presidente Rui Rio compareceu no
pequeno ecrã para se declarar violentamente contra tudo o que representa
o candidato do seu PSD, não se percebendo bem quanto, neste
posicionamento, é factual e racional e quanto, pelo contrário, reflete
um antagonismo de natureza pessoal.
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O contacto com os portuenses nas ruas dá a perceber um sentimento
dicotómico. Por um lado, um orgulho quase ostensivo na sua cidade e nos
seus valores; por outro, um lamento pela relevância perdida e pela
quase ausência de uma visão de sucesso. Há demasiadas pessoas que não se
reveem na cultura do "poupadinho e honrado". Esses são, naturalmente,
valores importantes, mas num mundo global e competitivo exige-se mais
ambição para uma cidade com o potencial do Porto.
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A visão é, por
definição, coletiva e partilhada, mas parte sempre da liderança. Mais, o
grau de ambição e credibilidade subjacente à visão é uma boa medida da
qualidade do líder. Não conheço grandes nações, grandes regiões nem
grandes cidades sem grandes líderes. Sendo de opinião de que, nesta
eleição, se apresentam ao eleitorado três bons candidatos, embora
diferentes, tenho procurado perscrutar o seu perfil de liderança.
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De
entre as múltiplas taxonomias da liderança que foram dadas a conhecer
ao mundo a partir do extraordinário "Functions of the executive", de
Chester Barnard (1938), gosto particularmente da proposta de Patricia
Pitcher. Esta académica de Montreal propôs em 1995 uma classificação dos
líderes em três tipos: artistas, artesãos e tecnocratas. O líder
"artista" é imaginativo, inspirador, visionário, empreendedor e emotivo.
Por sua vez, o líder "artesão" é estável, razoável, sensível,
previsível e confiável. Por fim, o líder "tecnocrata" é cerebral,
minucioso e intransigente.
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Será lugar-comum dizer que, face aos
desafios que se colocam a uma cidade, o líder tem necessariamente de
reunir competências variadas: ser artista, artesão e tecnocrata, com a
ponderação que melhor se ajuste às circunstâncias.
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Os desafios
que o Porto hoje enfrenta podem sintetizar-se em três palavras: visão,
credibilidade e gestão. A cada uma delas correspondem um quadro de
competências e um estilo de liderança diversos. Encontrar a personagem
que integra todas essas capacidades não é, seguramente, fácil, pelo que
os eleitores são convocados para um processo de escolha complexo.
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À
imagem do que acontece com a maioria das cidades portuguesas, também no
Porto não se vislumbra de imediato qual a sua visão para o futuro. A
cidade precisa de sentido e orientação, algo que, tipicamente, o líder
"artista" pode oferecer. E no atual quadro de candidatos, Menezes é
aquele que melhor incorpora este perfil, pela sua permanente ambição de
conduzir o Porto ao estrelato.
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Noutra perspetiva, a imagem
negativa que genericamente os políticos têm passado para a opinião
pública no plano da credibilidade faria supor que os cidadãos se
aproximassem de um perfil mais equilibrado, porventura menos mediático,
mas previsível e confiável. Manuel Pizarro parece aproximar-se mais
deste estilo de líder "artesão", por ser trabalhador, competente e
sensível.
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E que dizer em relação às necessidades de gestão da
cidade? O cenário tão presente em muitos municípios das contas mal
controladas e a frequente tendência para viver acima das reais
possibilidade são traumas que aproximam o eleitor do líder "tecnocrata",
justamente aquele que, em nome do emagrecimento, amputa a ambição que
extravasa o essencial. Rui Moreira tem adotado uma cartilha muito
próxima deste perfil, por demais inspirada na gestão de Rui Rio.
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Artista,
artesão, tecnocrata ou um pouco de cada é a decisão que está em cima da
mesa. Menezes, Pizarro ou Moreira. Escolha difícil. Não voto no Porto,
mas acredito que o seu líder deve aspirar à liderança do Norte e, aí, já
me sinto representado. Nos quase dois meses que faltam ainda para o ato
eleitoral, espero que os candidatos desperdicem menos energia nos
ataques mútuos e se foquem nas suas propostas de valor para a visão, a
credibilidade e a gestão do nosso Porto.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
04/07/13
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