O chefe tem vida boa? Pense melhor.
E se de repente lhe dessem a chave da empresa e o poder para fazer dela tudo o que quisesse durante seis meses? Com uma condição: ao fim desse período, se tivesse conseguido mudar as coisas para melhor, seria promovido; caso contrário, iria para a rua. Aceitava?
Claro que, para tornar o exercício realista, teria de contar com uma
administração omnipresente, a respirar-lhe sobre o ombro, ávida de lhe
cobrar cada minuto em que a empresa não apresentasse crescimento.
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Provavelmente,
o seu primeiro passo seria fazer uma avaliação para apurar como estão
as contas, que projectos há em marcha, se os recursos estão ajustados às
necessidades... Seguir-se-iam as boas notícias para os colaboradores:
alterações para agilizar o trabalho, cortes na burocracia e
horizontalização da hierarquia, promoções e aumentos há muito merecidos,
mudanças radicais para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores.
Tudo o que sempre desejou ter no seu emprego. Bolas, se a sede da Google
em Zurique até um escorrega tem, não pode vir mal ao mundo se oferecer
aos seus colegas uma máquina de flippers para aliviarem a tensão! Até,
evidentemente, querer trabalhar e estarem todos reunidos à volta da dita
a tentar bater o recorde.
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Não acredita, honestamente, que quem
lidera tem uma vida santa, pois não? Há as intermináveis reuniões em que
será obrigado a justificar à administração cada escolha que faça. Terá
de criar e pôr em prática medidas capazes de levar a empresa a crescer.
Claro que será sempre responsável por tudo quanto corra mal – mesmo que
os seus planos só não tenham resultado porque o fornecedor de sempre
declarou falência e fugiu na véspera do dia em que devia entregar uma
encomenda vital. E terá de viver com as restrições orçamentais que lhe
são impostas.
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O que nos traz às decisões difíceis a que não poderá
escapar. Como obrigar a equipa a ficar a trabalhar noite dentro para
cumprir um prazo. Ou impor-se aos calões que tentam diariamente passar
entre os pingos da chuva enquanto os colegas se matam a trabalhar. Ou
ainda, se chegar a isso, escolher quem terá de despedir.
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Conheço
quem, confrontado com a ordem de listar todas as pessoas dispensáveis na
empresa onde era director de recursos humanos, tenha apresentado apenas
com o seu próprio nome. O administrador até sorriu, mas os
despedimentos avançaram, na mesma.
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Infelizmente, nem todas as
empresas podem ser como a Menlo Innovations, tecnológica americana onde
não existem cargos de chefia no sentido tradicional: todas as decisões
importantes, incluindo despedimentos, promoções e contratações, são
tomadas depois de discussão e votação conjunta. Ou a californiana
Morning Star, onde cada passo da gestão e funcionamento da operação de
transformação de tomate é dado mediante decisão colectiva.
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Num artigo da New York Magazine (The Boss Stops Here),
o escritor Matthew Shaer levanta uma questão interessante sobre a ideia
de uma empresa sem chefes: serão essas estruturas verdadeiramente
horizontais ou sobreviverão graças à saliência natural das escolhas dos
líderes orgânicos (ainda que estes não tenham um escritório e um cargo a
identificá-los)?
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Há líderes e líderes (muita) gente que nem mandar sabe. Mas ainda acha que o seu chefe tem uma vida boa?
Chefe de redacção adjunta
IN "DINHEIRO VIVO"
12/08/13
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