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IN "SOL"
30/07/13
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Pavilhão da Degradação Nacional
Há dias, António Costa apresentou a sua candidatura à Câmara de Lisboa
no cenário deslumbrante da Pala Cerimonial do Pavilhão de Portugal.
Tudo
tranquilo, porque a Pala não está em risco de cair, pelo menos para já –
o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do
território esclarecia em Maio passado que a Pala foi restaurada em 2009 e
se apresenta em perfeitas condições.
Acrescentava também que o
interior do edifício tem sido «objecto de permanente manutenção»,
assegurada «através da exploração do imóvel, no qual são promovidos
eventos de diferente natureza».
Sim: já vi saírem do Pavilhão de
Portugal noivas e bebés com traje baptismal; mas duvido que estes
celebrantes ou as empresas que alugam o local para as suas festas bastem
para garantir a manutenção do edifício. Por fora, a degradação é já
notória: brechas nas paredes, pedras partidas, pichagens, manchas de
humidade.
O Pavilhão de Portugal celebra 15 anos. É,
consensualmente, uma das mais belas obras de Siza Vieira. Recebeu os
prémios Valmor e Municipal de Arquitectura, e ainda o Prémio Leca de
Construção.
Em 2010 foi classificado como Monumento de Interesse
Público pelo IGESPAR. Investiram-se nele 23,5 milhões de euros. E está,
desde o final da Expo 98, abandonado.
Trata-se, sem dúvida, de
uma instalação artística eloquente sobre o que é Portugal – mas podemos
nós pagar este preço pela contemplação da nossa falta de amor-próprio?
Disse-se
que ia para lá o Conselho de Ministros – achou-se, e bem, mal
empregado. Naquele sítio e com aquela arquitectura, devia criar-se um
chamariz turístico. Os turistas rodeiam o local, sem acreditar que não
se possa entrar e que não haja ali nada para ver.
Em 2009
criou-se uma equipa que declarou estar a fazer um estudo de «redefinição
programática» de modo a criar ali um projecto’multiusos’, que estaria
pronto em 2011. Mas nada aconteceu.
Ao longo dos anos, falou-se de um Museu de Arquitectura, de um Museu dos Descobrimentos e do Mar, de um Museu da Língua.
Também
eu apresentei um projecto: afigurou-se-me que em vez de se copiar o
modelo do Museu da Língua de São Paulo, que não faz sentido nenhum num
país que, à excepção do mirandês, não tem línguas autóctones, seria
interessante criar ali um museu das Literaturas, já que foi essa a
primeira arte em que Portugal se internacionalizou, e continua a ser uma
das maiores forças do país.
Afigurações que o excesso de luz de
Lisboa nos provoca, claro: nenhuma sumidade governante desta província
dos subúrbios da Europa sequer responde às maluqueiras dos cidadãos.
Em
Abril de 2012, o Ministério multiusos de Assunção Cristas anunciou que
tinha feito uma proposta de compra do edifício (pertencente à Parque
Expo, que estaria finalmente em extinção, 14 anos depois da exposição
para que fora criada) à Câmara Municipal de Lisboa.
Em Julho do mesmo ano, António Costa anunciava que não tinha havido acordo quanto aos montantes solicitados pela Parque Expo.
Gostava
de saber que valor foi pedido pelo edifício, e quanto custarão as obras
para o recuperar, antes que se desfaça. Parece-me até que todos nós
tínhamos o direito de saber. Entretanto, agora que os dias estão longos e
o Tejo brilha, podíamos organizar, debaixo da Cerimonial Pala, a Grande
Festa da Degradação Nacional.
IN "SOL"
30/07/13
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