21/08/2013

CRISTINA AZEVEDO

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Caíu de Maduro?

Parece que sim e talvez seja melhor. Fazer um briefing intermitente que começou com uma secretária de Estado que agiu como se não soubesse que o seu ministro se ia demitir e ela própria o substituiria e acabar com um outro em que um secretário de Estado foi tido como inconsistente por outro 

secretário de Estado não deixa ninguém mais esclarecido. Foi mesmo quase penoso ouvir o secretário de Estado Pedro Lomba dizer com o ar cabisbaixo de que tinha pena que os jornalistas não colocassem as perguntas para as quais tinha tantas respostas preparadas. Tudo assuntos importantes.
Espero sinceramente que desta feita à interrupção causada por uma crise política e a outra causada não sei bem se pela demissão de Pais Jorge se pelas férias se siga uma interrupção definitiva para uma ideia cheia de boas intenções, mas mal gerida e provavelmente sempre ineficaz.

E eu acho que este Governo comunica mal. As profissões de fé que faz parecem sempre superficiais e cada vez mais de índole reativa. Não se percebeu nunca muito bem por que é que o primeiro-ministro dizia que iria mais além da troika como agora não se percebe bem o que quer dizer com o "começamos uma nova fase". 

E em cada uma destas alegadas fases também nunca se percebeu por que se escolhiam as medidas que se escolheram nem que resultados esperavam que se atingissem. Nesta alegada "nova fase" ainda se percebe menos porque o que está em cima da mesa e vem acontecendo neste verão são medidas mais uma vez contracionistas que pouco têm a ver com a "fase do investimento". Salvar-nos-á a atenuação da recessão europeia, o bom comportamento das nossas empresas exportadoras e porventura uma procura interna que começará a levantar-se muito devagar porque basicamente não pode descer mais. Mas tudo isto seria provavelmente assim com os governantes a falar ou calados.
Mas a questão é que não devem estar calados. Devem falar o necessário para prestar contas democráticas a todos, os que os elegeram e os que democraticamente os aceitam.

Acontece que a comunicação no mundo contemporâneo é extremamente complexa tendo em conta sobretudo a rapidez com que é exigida e consumida bem como a poderosa dispersão de meios pelos quais é distribuída e intermediada. Em especial a comunicação política com o vínculo permanente que impõe entre eleito e cidadão .

Por isso tem de ser preparada com um profissionalismo e uma consistência à prova de bala desejavelmente desde o momento em que um candidato se propõe. 

Trata-se de acreditar num Nome e não num partido, numa Ideia e não numa ideologia, no Futuro e não no passado, no Diferente e não na banalidade, no Verdadeiro e não no fictício, no Valor e não na função, no Vencedor e não no perdedor. Di--lo Séguela e provam-no todos os grandes protagonista políticos contemporâneos.

E não se trata de desvalorizar a proposta política tornando-a no produto de consumo que Lipovestki considera inelutável. Trata--se de compreender a dinâmica da psicologia social e de a enfrentar com rasgos de genuinidade. E com enorme profissionalismo.

Acresce a obrigação de, não prescindindo da intermediação mediática, falar diretamente para e com os cidadãos. Se se persistir em falar diretamente para os meios a desproporção de forças faz com que qualquer Governo perca a corrida para um agenda setting que defenda os seus interesses. Nunca, como se viu nesta experiência dos briefings, o Governo conseguiu preencher o vazio com o que quis. Ao contrário, andou a reboque e ficou a perder em eficácia para as "Conversas em família" de Marcelo Caetano.

Dito isto não me parece que o Governo possa ou deva prescindir do primeiro-ministro como principal protagonista da sua comunicação, em formatos variados e cadência regular (nem banal de todos os dias nem crítico das comunicações ao país), de conteúdo conciso e sempre claro no reporte das escolhas e na expectativa dos impactos ou dos seus falhanços. Em improviso profissionalmente preparado, mas com a luz de quem, antes da comunicação, discerniu o caminho!

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
16/08/13

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